sexta-feira, 8 de abril de 2011

11- Mais problemas, mais viagens

  Acordei às 2 da manhã no outro dia. Minhas malas já estavam prontas desde a noite anterior, mas o voo sairia cedo e tinhamos que estar no aeroporto com duas horas de antecedência. Eu combinara com Bianca de que nos encontraríamos na frente da sorveteria, como sempre.
  Quando cheguei lá, Bianca já estava sentada na calçada com sua mala marrom parada ao lado dela. Pela sua cara, ela havia dormido menos do que eu, tinha olheiras profundas e seus olhos estavam inchados, como se ela tivesse chorado a noite inteira. Eu não duvidava muito que ela realmente tivesse feito isso.
  - Oi, como passou a noite?- Perguntei, mas logo em seguida quis voltar atrás e ficar calado. Esperei um tapa ou algo do gênero, mas tudo o que recebi foi uma resposta rápida e fria:
  - Como todas as outras em que passei sozinha. Vamos, temos que ir para o aeroporto.- Ela se levantou e pegou sua mala.- Você não vem?
  - Sim...ér... claro.- Levantei minhas mala do chão e segui Bianca.
  Nós caminhamos em linha reta por algum tempo até que ela parou e disse:
  - Para onde estamos indo?- Eu não esperava por aquilo, simplesmente não esperava. Achei que, como Isabel, ela me levaria até o aeroporto de vassoura ou que se transformaria em um corvo para chegar mais rápido.
  - Não sei, você não vai pegar sua vassoura?
  - Você acha que posso sair voando de vassoura assim? Sem nenhuma razão especifica?
  - Acho.
  - Pois esta muito enganado e, além do mais, sou muito nova para isso, não aprendi ainda.- Bianca falou como se fosse a coisa mais normal do mundo. Não era normal para mim.
  Ela chamou um taxi para nos levar até o aeroporto. Eu não sabia como ela faria para pagar, mas parecia  muito segura do que estava fazendo, então resolvi não perguntar.
  Entramos no taxi, o taxista era um homem sem pescoço, com um nariz largo em forma de gancho, olhos muito pequenos que quase se perdiam no meio de tantas rugas e um fio quase invisível como boca, uma figura realmente divertida, mas ele não sorria e me lembrava um buldogue inglês com sua voz grossa.
  - Aeroporto, por favor.- Falou Bianca.
  - Vocês tem dinheiro para pagar?- O homem perguntou como se fossemos duas crianças prontas para enganar um motorista de taxi sem senso de humor.
  - Temos, temos sim senhor, não se preocupe.- O homem grunhiu e ligou o taxi, que fez um barulho alto e agudo antes de começar a andar.
  Bianca não disse uma palavra durante todo o  caminho, o silêncio era quebrado apenas pelos grunhidos do motorista, o que não era muito agradável. Meus pais não tinham ideia de onde eu estava naquele momento, achei que eles não me deixariam ir até Veneza junto com Bianca. Eles nem sentiriam minha falta, seria como se um dos pequenos peixes de um enorme aquário desaparecesse: com tantas pessoas nesse mundo, porque eles se importariam logo comigo?
  - São R$30,00.- Disse o motorista assim que parou o carro na frente do aeroporto. Bianca tirou o dinheiro da bolsa e entregou para ele. O homem grunhiu outra vez e, depois que saímos do carro, saiu em alta velocidade dali.
  - Estranho ele, não?- Falei para Bianca.
  - Sim, ele é um pouco... diferente. Mas me parece muito familiar, eu não sei bem porque.- Olhei para ela por um segundo com uma expressão de dúvida, mas ela deu de ombros e continuou andando.
  Eu nunca conseguiria imaginar que uma pessoa como aquele taxista pudesse ser familiar para alguém. Era uma figura bizarra. Mas, se Bianca achou familiar, então era melhor deixar para lá. Continuamos andando com nossas malas até o check-up. Não era muito bom estar ali naquela hora, eu tinha a impressão de que ninguém queria nos atender porque ainda estavam dormindo.
  Paramos em frente te um homem de mais ou menos 25 anos, magro, com cabelos ruivos, olhos verdes e muitas sardas pontilhando seu nariz pontiagudo. Ele era alto e se parecia um pouco com um zumbi por causa da cara de sono e da xícara de café que, sem motivo algum, ele balançava freneticamente. Era a segunda figura estranha que eu via naquele dia, será que em Veneza ainda apareceria mais alguma? Eu esperava que não.
  O homem ruivo pegou nossas bagagens com muita pouca vontade e fez um sinal com as mão dizendo que podíamos ir. Ele não era muito divertido pelo visto, não disse nem sequer bom dia, nem mesmo uma palavra. O atendimento as 2:30 da manhã não era muito bom.
  - Agora é só esperar o avião chegar.- Comentei, apenas para quebrar o interminável silêncio. Mas Bianca nem mesmo se dignou a olhar para mim, apenas balançou afirmativamente a cabeça e continuou olhando para o nada, com o pensamento muito longe.
  Era estranho ver minha amiga, normalmente tão radiante e autoritária, calada daquela forma, vulnerável de tal modo que achei, por um minuto, que teria de protege-la de qualquer perigo, pois não parecia mais achar que valia a pena viver.
  - Bianca, sabe o que estamos indo fazer, não é?
  - Sei. Sei que vamos salvar sua amiguinha e que vou ter que aguentar minha irmã por mais alguns dias. Ainda bem que ela está morta e só vai ficar por pouco tempo.- Engoli uma resposta grossa para esse comentário sobre Isabel. Não queria provocar uma briga, não naquele momento, não depois do que Bianca tinha passado no dia anterior.
  - É.
  Eu não tinha mais nada a dizer, mais nenhuma palavra me parecia útil, confortante ou mesmo apropriada para aquele momento. Era lógico que o que minha amiga estava passando era algo que estava longe, muito longe do meu entendimento, era algo que, por mais que eu tentasse, não conseguiria entender.
  Para minha sorte, o número do nosso vôo foi anunciado alguns minutos depois, acabando com aquele silêncio infernal e desconfortavel que fazia com que eu me sentisse um inútil incapaz de ajudar minha melhor amiga.
  - Vamos, quanto mais rápido sairmos daqui, mas rápido voltamos para cá. Não quero perder tempo.- Disse Bianca, voltando com seu tom autoritário que, normalmente, me irritava, mas que agora fazia com que eu sentisse que minha amiga estava de volta.
  Assenti e peguei minhas malas. Eu pretendia pegar as dela também, mas Bianca foi mais rápida e saiu na minha frente, trotando como uma executiva apressada. Eu simplesmente a segui, novamente submisso ao tom dela.
  Entramos no avião. Éramos, praticamente, as únicas pessoas lá dentro, a não ser pelas aeromoças e um homem que estava dormindo na poltrona. Deixei Bianca sentar na janela porque sabia que ela precisava se desligar um pouco e nada melhor para isso do que olhar pela janela do avião.
  Não demorou muito e Bianca estava dormindo, apoiada no meu ombro direito. Não era a toa, nenhum de nós tinha dormido muito naquela noite. Mas eu tinha medo de dormir. Medo de sonhar e descobrir alguma outra coisa que só pioraria minha vida...

terça-feira, 30 de novembro de 2010

10- Agora entendo a magia

  Bianca, eu, Eduardo e Melissa resolvemos sair de casa um pouco. Eles disseram que tinham que escolher um presente para mim "Você vai junto, mas quando abrir o papel vai fingir que esta surpreso." me dissera Bianca. Para mim, só estar ali com eles por tanto tempo já era suficiente, já era o melhor presente desse mundo, eles não me lembravam uma família de bruxos, talvez uma família de anjos, mas eu sempre imaginava bruxos com verrugas no nariz e gatos pretos, mas eles tinham dois cães e eram realmente muito bonitos, uma bela família. 
  Eu tinha que lembrar de perguntar para Bianca se ela usava chapéus pontudos e tinha um caldeirão com poções mágicas, mas não naquele momento, estava bom demais para estragar com um pergunta boba. Caminhamos pelo centro da cidade e entramos em várias lojas, encontrei muitas coisas que eu gostei, mas Bianca achou que nenhuma delas era suficientemente boa. Resolvemos sair dali e ir direto para a praia, assim ela encontraria alguma coisa para mim. Isabel teria escolhido o shopping mais próximo, mas Bianca usava qualquer coisa de desculpa para ir até a praia. Paramos em um loja e logo ela encontrou alguma coisa que eu gostei e ela também, na verdade, era só mais uma das bugigangas que eu colecionava, mas eu não estava me importando com o valor do presente. 
  Assim que saímos da loja, Eduardo mudou de postura, ele parecia mais tenso, não estava mais tão sorridente quanto era normalmente e não estava fazendo suas citações que só ele compreendia. De repente Melissa também ficou assim, se abaixou e cochichou algo no ouvido de Bianca, que olhou para mim um pouco apavorada. 
  - Felipe.- Disse ela- Você tem que sair daqui, nós todos temos, mas você principalmente.
  - Por que?- Ela olhou para a mãe, que respondeu minha pergunta.
  - Veja Felipe, é melhor você ir com Bianca, ela vai te explicar tudo no caminho e você vai entender. Mas não se preocupem comigo e nem com Eduardo, vamos ficar bem.
  - Mas mãe, é muito perigoso e...
  - Vai ser mais perigoso se você ficar aqui, porque vou ter que cuidar de você também. Não se preocupe filha, vamos ficar bem, eu te prometo. Nos encontramos no lugar de sempre, esta bem?- Melissa tinha lágrimas nos olhos, mas eu não entendia porque. Será que, além de eles serem bruxos, havia mas algum segredo? Mas não tive tempo de fazer nenhuma pergunta, Bianca me puxou pelo braço e saiu correndo, me obrigando a segui-la. Tive a impressão, por um breve momento, de que ela estava chorando. Eu nunca havia visto ela chorar, em nenhum momento, será que era algo tão grave assim?
  Corremos por algum tempo, mais ou menos 5 minutos, até que chegamos à uma pequena pracinha. Bianca soltou meu braço e caminhou com a cabeça baixa até um banco e se sentou lá. Eu me sentei ao seu lado e perguntei:
  - O que esta acontecendo? Por que você esta chorando?
  - O nome "Ilha da Magia" não é dado a toa à esse lugar. Existem muitos bruxos por aqui, alguns deles são muito... muito vampiros. Eles sugam suas forças com a varinha deles e se fortalecem, alguns matam por puro prazer, são os que praticam magia negra, e eles estão aqui. Felipe- ela levantou a cabeça e olhou nos meus olhos- eles sabem que meus pais estão aqui, eles vão mata-los.
  Aquilo foi um choque enorme, era difícil ouvir alguém falar aquilo, saber que os pais estão a beira da morte e não poder fazer nada. Bianca era a garota mais forte que eu conhecia.
  - Mas eles não tem como vencer?
  - São dois contra cinquenta, é uma luta injusta, mas um vai tentar proteger o outro, eu sei disso, sempre foi assim, mas principalmente estão tentando me proteger. É o trabalho deles como meus pais, eles me protegem mesmo que isso signifique perder a própria vida. Mesmo Eduardo, que nem é meu pai de sangue, mas é como se fosse, eu nunca vou considerar o pai de Isabel meu pai. 
  - Você não tem esperança?
  - Esperança é uma coisa que se perde a partir do momento que você se torna um de nós. Não há a menor chance de que os dois volte vivos disso tudo, eu sei que não, um dos dois vai partir, eu nunca mais verei um, talvez nenhum, dos maus pais. 
  - Não pode ajudar?
  - Ficou louco? Tenho que ser o mais egoísta possível agora, tenho que proteger minha vida e mais nada, você tem que proteger a sua e é isso. Por que não compramos seu presente lá onde vimos aqueles jogos de computador? Seria tão mais simples! A culpa é toda minha!- Bianca estava chorando outra vez, mas não parecia ser de tristeza, parecia esta com raiva, talvez dela mesma, talvez de mim, talvez dos outros bruxos, eu não sabia bem, mas não era o mesmo tipo de choro de quando íamos até a praça, era diferente, tinha ódio nele. 
  De repente tive a impressão de que havia mais alguém ali, que Bianca e eu não estávamos sozinhos. Bianca puxou uma pequena varinha de prata de dentro da bolsa e, em uma fração de segundos, lançou um raio de luz na direção dos balanços. 
  - O que você vez aqui?- Perguntou com seu melhor tom de ódio. 
  - Me desculpe, eu só queria poder dizer alguma coisa!- Eu conseguia ouvir uma voz feminina ao longe, parecia muito mais longe do que os balanços, mas não via ninguém. Logo um rosto foi se formando, as longas mechas negras flutuavam em volta do belo rosto de Isabel. Eu sentia que ela não estava ali, era apenas uma ilusão, ela era quase transparente, mas veio para mais perto, e se sentou no banco, ao lado de Bianca, fingindo que nem me via.
  - Mas não pode Isabel, não pode. Meus pais não passam de hoje, logo estarão mortos e eu não posso fazer nada para ajudar. Vá embora, por favor! 
  - Bianca eu...
  - Já basta ter que te aguentar como vampira, agora tenho que te aguentar como fantasma? Por favor, não é uma boa hora!
  - Você vai para Veneza?- Perguntou Isabel, mesmo que agora já estivesse quase completamente invisível.
  - Vou para qualquer lugar que seja longe daqui, nada mais me importa.
  - Então arrume sus malas. Você também Felipe- Ela se virou para mim e pude perceber um vislumbre de seu sorriso.- Vocês partem amanhã às 3 da manhã.- E ela desapareceu, me deixando ali com Bianca, só nós dois,  sem que eu pudesse dar mais do que o silêncio para consolar minha amiga.
  Passamos horas sentados ali, naquele banco, naquela praça, mas os pais de Bianca não voltaram. Esperamos até a lua estar alta no céu, mas eles não chegaram, eles não voltaram, eles haviam partido, para nunca mais voltar. 
  - Sabe o pior disso tudo?- Perguntou Bianca depois de horas em silêncio.
  - O que?
  - Nunca mais vou comer as torradas do meu pai.- Ela sorriu, eu sabia que era difícil para ela fazer uma piada com aquela situação, mas ela estava tentando, ela queria seguir em frente, queria seguir de cabeça erguida para onde quer que fosse, não importava se teria que atravessar o mundo, mas ela estaria de cabeça erguida. 
  - Você tem toda a razão, nunca mais vou ficar sem entender as citações do seu pai.
  - Ele era o melhor pai do mundo, não era?
  - Ele sempre vai ser, ele vai sempre estar com você, ele é o seu pai e é o melhor pai do mundo. Agora é melhor nós irmos, já esta tarde e os outros vão ficar preocupados se não voltarmos logo.
  - Você tem razão. Podemos voltar lá só por um minuto? Só quero ter certeza de que eles não vão mesmo voltar, quero matar essa esperança que, por algum motivo, cresceu dentro de mim. 
  - O tempo que você quiser.- Ela se levantou e me deu um abraço, um abraço de consolo, ela precisava ter certeza de que ainda estava ali, da mesma forma que eu precisava saber que ela estava ali.
  Voltamos até onde estávamos antes, não haviam corpos, não havia nada disso, apenas algumas varinhas de vários tipo jogadas no chão. Ela caminhou até as duas que estavam no meio das outras, uma de madeira e a outra de cristal e ficou parada ali, olhando os dois objetos jogados no chão. 
  - Eles ficaram juntos até o final.
  - Mas aí só estão as varinhas.
  - Quando um bruxo ou uma bruxa morre, seu corpo não fica aqui, resta apenas a varinha.
  - Eles não podem ter deixado as varinhas para trás? Quer dizer, podem ter saído com pressa e não pegaram as varinhas.
  - Se isso acontecessem, em algum tempo eles já estariam com eles outra vez, uma varinha sempre volta para o seu bruxo, elas são muito fiéis, mas se não tiverem um bruxo ou uma bruxa, elas não tem mais nenhuma utilidade, apenas valor sentimental.- Ela quebrou as duas varinhas no meio.- Um valor que eu realmente não quero para mim. Vou mandar as varinhas quebradas para o Conselho, deixar bem claro que Melissa Scott e Eduardo Scott são bruxos mortos.- Ela pegou sua varinha e fez um circulo brilhante no ar, em seguida, jogou as quatro metades das varinhas de seus pais lá dentro e disse:- Para o Conselho, de Bianca Scott.- O circulo de fechou e Bianca virou-se para mim novamente.- Agora esta tudo resolvido, podemos voltar para casa e arrumar as malas. Amanhã temos uma longa viagem até Veneza.

9- Meu presente risonho

  - Felipe, o que você faz aqui?- Perguntou Bianca que ainda estava de pijama, com os cabelos castanhos embaraçados e uma expressão surpresa por me ver.
  - Estou te visitando. Ainda somos amigos, não é?- Eu falava tão normalmente, como se não me impressionasse nem um pouco com o fato de que ela era um bruxa, ou que era irmã de Isabel, ou que estava de pijamas. Ela ficou me olhando como quem tenta entender alguma coisa.- Posso entrar?
  - Sim... hun... sim, é claro, por que não!? Você quer alguma coisa?
  - Você nunca me pergunta isso, mas de qualquer forma, quero sim, quero falar com você sobre uma coisa séria.- Nos sentamos no sofá e eu comecei a contar para Bianca toda a história, desde quando eu e Isabel nos conhecemos, falei de Sara e, finalmente, do pedido de Isabel.
  - Não, eu não vou até Veneza para te ajudar a salvar Isabel, não mesmo! Sem chance.
  - Bianca, você não vai salvar Isabel, ela vai voltar por alguns dias e me ajudar a salvar Sara, nada além disso, ela esta morta e nada pode mudar isso. Por favor Bianca, você é a única esperança que eu tenho, Sara vai morrer se você não ajudar, sei que você não vai deixar que isso aconteça.
  - Vá para casa, depois conversamos.- Ela se levantou e seguiu em direção ao quarto de visitas, mas eu a segurei pelo braço e olhei em seus olhos.
  - Não temos muito tempo, por favor, me ajuda!- Ela virou a cabeça para o lado, desviando o olhar.
  - Esta bem seu chato. Vou ajudar. Quando partimos?
  - Eu ainda não sei, mas logo vou descobrir.- Ficamos cerca de dois minutos em silêncio até que ela disse:
  - Certo, acho que agora você pode soltar meu braço para que eu vá trocar de roupa e escovar esse cabelo, não é?
  - Sim, talvez.- Eu soltei o braço dela, mas antes que ela pudesse sair da minha frente eu lhe dei um abraço apertado e sussurrei no seu ouvido:- Obrigada.
  Bianca sorriu e entrou no quarto de visitas. Ela era uma ótima amiga, mesmo com seu temperamento explosivo e nossas constantes discussões, ela e Isabel com certeza eram minhas melhores amigas, por mais diferentes que fossem, eram, ao mesmo tempo, parecidas. Sempre prontas para ajudar os amigos e para estar junto deles para o que der e vier, amigas fiéis, confiáveis, simplesmente as melhores amigas desse mundo.
  Eu fui até a cozinha, o pai de Bianca não estava lá e, pelo visto, ainda não havia acordado já que não havia nenhum sinal de que o café da manhã havia sido preparado. Comecei a caminhar pelo lugar, eu procurava alguma coisa, mas não sabia bem o que, eu estava só olhando, buscando talvez alguma prova de que Bianca era mesmo irmã de Isabel.
  - Quer alguma coisa, Felipe?- Virei-me rapidamente para a mãe de Bianca que estava parada na porta da cozinha.
  - N-não senhora.
  - Não me chame de senhora. Você sabe muito bem que meu nome é Melissa, pode me chamar de Mel, de "mãe da Bianca", de qualquer coisa, só não me chame de senhora. Não sou tão velha assim.
  - Sim senho... Melissa.- Ela sorriu e me deu as costas, não parecia realmente interessada em saber o que eu estava fazendo ali, ela simplesmente se virou e saiu.
  - Regra número 1 de Melissa Scott: nunca a chame de senhora.- Disse Bianca parada na porta da cozinha, exatamente onde sua mãe estava antes. Foi então que percebi o quanto elas eram parecidas: os mesmos olhos castanhos profundos, o mesmo sorriso acolhedor, o mesmo cabelo castanho e cacheado descendo até metade das costas e o mesmo tom de pele bronzeado que declarava abertamente a adoração da família pelas praias de Florianópolis. Eram tão diferentes de Isabel, tinham um outro tipo de beleza, uma beleza mais tropical, talvez uma beleza menos fria e menos assassina. 
   Algumas perguntas começaram a surgir em minha mente: será que Isabel já havia matado alguém? Será que, no fundo, ela era como os vampiros da Ordem, poderosa e traiçoeira? Será que ela seria capaz de me trair? Aquelas perguntas sem solução estavam fazendo minha cabeça girar e me deixando sem fala. O que mesmo Bianca tinha me dito há um minuto atrás? 
  - Felipe, o que foi?
  - Nada.- Sim, agora eu estava raciocinando direito. Isabel deveria ficar de lado por algum tempo, pelo menos até que eu organizasse minhas ideias.
  - Hoje é seu aniversário, não é?
  - Sim, hoje é.
  - Parabéns então, mas ainda assim, continuo mais velha que você. 
  - Acho que você é mais velha que todos os seus amigos, você nasceu no dia 5 de janeiro, quem nasce mais cedo do que isso? Você é apressada desde que nasceu.- Ela me deu um leve soco no braço e sorriu. Normalmente só meninos faziam isso, mas Bianca sempre tivera mais amigos do que amigas e tinha aprendido a fazer isso com eles.
  - Acho que temos de planejar essa ta viagem para Veneza, não é? Tenho que saber ao certo quando vamos e o que eu vou fazer lá.
  - Nem eu sei ainda, Isabel só me falou aquilo que eu te disse, nada mais, nada menos.
  - Vou até Veneza para falar com uma bruxa? Só isso? Se eu quiser falar com uma bruxa fico em casa, não acha?- Não consegui segurar e caí na gargalhada.   
  Aquela frase, com as expressão de Bianca e o seu tom de voz divertido eram um conjunto perfeito. Era tão bom rir sem ter que forçar, só rir, sem me preocupar com meus problemas e, por um breve momento, nem me lembrar deles. Bianca tinha essa capacidade, uma pena que à usava pouco, mas quando usava conseguia me deixa feliz, mesmo que por pouco tempo, mas aquele momento valia tudo, tudo o que eu vinha passando, valia meu aniversário de 14 anos. 
  - Ei cabeção, esta rindo do que?- A típica frase que sempre vinha depois de uma boa gargalhada.
  - De você, é claro!
  - De mim?
  - Sim, do seu jeito de falar, de revirar os olhos e de me fazer rir. É por isso que estou rindo, você é a única pessoa no mundo capaz de fazer isso.- Ela abriu um lindo sorriso, aquele sorriso que ela e Isabel tinham em comum, a única coisa que me fazia acreditar que elas eram mesmo irmãs: aquele sorriso perfeito que iluminava tudo ao redor, que me impressionava em todas as vezes que eu o via, que me fazia mudar de opinião em um segundo e me convencia de qualquer coisa. Só aquele sorriso.
  - Você é um tonto! Nem sei porque ainda falo com você.
  - Porque você me adoro, é por isso que ainda fala comigo, você também é tonta.
  - Deve ser por isso mesmo, sou tão tonta quanto minha irmã nessa área... não, ninguém nunca vai ser tão tonta quanto Isabel, nisso ela é única.
  - Bianca, não fale nada dela, ela tem muita coragem e é única em todos os sentidos, menos no sorriso, que você tem um igual.
  - Esse aqui?- Ela sorriu novamente e todo o brilho e o encanto voltou.
  - Esse mesmo.- Dessa vez nós dois rimos, rimos alto e em bom som, para que todos os que quisessem- e os que não quisessem- pudessem ouvir. Esses momentos faziam qualquer amizade valer a pena, porque se havia uma coisa que as irmãs mais estranhas desse mundo haviam me ensinado é que as melhores risadas são com os amigos. 

sábado, 27 de novembro de 2010

8- Feliz Aniversário esquecido

  Eu demorei para conseguir dormir naquela noite, mas eu sabia que precisava. Agora que o mistério de Bianca tinha se resolvido, pelo menos em parte, eu tinha que me concentrar no que Isabel havia me dito. Sara estava em perigo e eu tinha obrigação de ajudar, afinal, ela era minha irmã mais nova e, entre todas as irmãs mais novas que eu tinha, era a que eu mais gostava.
  Fechei meus olhos com força e consegui obrigar minha cabeça a esquecer dos problemas por um minuto, assim eu conseguiria dormir. E eu consegui.

  Me vi de repente no meio de uma rua em Portugal. Eu tinha certeza de que ali era Portugal, mas eu não sabia bem porque. Não havia ninguém comigo, eu estava completamente sozinho, não havia ninguém na rua e nem mesmo nas lojas e casas. Eu estava parado na frente de um prédio alto, parecia ser velho pois a pintura estava desgastada e as portas e janelas estavam caindo aos pedaços.
  - É ali que ela mora.- Eu não via ninguém, mas eu sabia que Isabel era quem estava falando comigo e ela se referia a Sara.
  - Ali? Que lugar estranho.
  - Sim. O pai dela esta muito doente, teve que parar de trabalhar e não pode pagar nada de... melhor.
  - Pobre Sara, sempre acostumada com o bom e o melhor.
  - Sim, ela sentiu um choque muito grande com toda essa mudança. Eu venho observando vocês desde que voltaram da Transilvania. Você eu sei que sabe se virar, mas Sara ainda precisa da nossa ajuda.
  - Isabel, eu não sei se consigo sozinho.
  - Mas você não esta sozinho.- Agora eu conseguia ver os lindos e longos cabelos negros flutuando ao meu lado. Era horrível a ideia de que eles eram a penas uma ilusão, que se fossem tocados desapareciam. - Você tem Bianca e você tem a mim.
  - Mas você esta... esta ai, do outro lado.
  - Felipe, você fala como se uma simples barreira entre a vida e a morte fosse nos separar. Não vai se livrar de mim assim tão fácil.- Ela riu, mas eu não achei graça nenhuma, eu não queria me livrar dela, queria que ela voltasse.- Eu estou brincando. Veja bem Felipe: em Veneza existe uma mulher que pode me trazer de volta por alguns dias, mas para isso algum vivo tem que ir até lá e pagar.
  - Não tenho dinheiro o bastante.
  - Ela não quer dinheiro, ela quer um pagamento em poder. É como uma troca, Bianca sabe como fazer.
  - E você acha que ela vai até Veneza comigo para fazer você voltar da morte? Isabel, vocês se odeiam, esta lembrada? Ela nunca vai me ajudar a salvar você.
  - Você não vai até Veneza pra me salvar, vai até lá para que eu te ajude a salvar Sara.
  - E quem vai convencer ela? Com quais argumentos? E quem vai pagar toda essa viagem, pra Itália e depois para Portugal?
  - Você vai ver. Só fale com Bianca, esta bem? Agora que o assunto esta encerrado, vou deixar você entrar rapidamente no prédio e dar uma olhada, esta bem? Mas seja rápido.
  - Certo, serei rápido.- Eu subi alguns degraus e abri a velha porta do lugar.
As escadas eram feitas de madeira e assim que subi o primeiro degrau, ele rangeu e um pequeno pedaço dele se quebrou. Pelo visto não era um lugar muito seguro. Resolvi não me arriscar e sair logo dali, eu já tinha visto o suficiente por um sonho.

  - Bom dia, Lipe!- Gritou Marina no meu ouvido.
  - Ta feliz?- Perguntou Heloísa ao seu lado.
  - Feliz?  Feliz por que?
  - Felipe, o que esta acontecendo com você meu filho? Hoje é dia 9 de abril, lembra? Seu aniversário de 14 anos.- Meu Deus, como eu havia esquecido do meu próprio aniversário? Eu estava mesmo sobrecarregado de problemas, tantos que eu havia me esquecido completamente do meu aniversário.
  - Sim mãe, é claro, é claro que é por isso. Bem, eu... eu estou feliz sim, estou muito feliz.
  - É claro que esta. Olhe, eu vou sair com as meninas e seu pai, se você quiser ir também pode ir, se não quiser pode ir para a casa de Bianca, ou de algum de seus amigos. Vítor por exemplo, faz um bom tempo que você não o visita.- A verdade era que eu e Vítor havíamos brigado por causa de um jogo de basquete há algum tempo e, mesmo que já tivéssemos feito as pazes, ainda não nos falávamos tanto quanto antes e a ideia de que Isabel tinha morrido só para salva-lo me irritava profundamente.
  - Eu vou até a casa de Bianca, pode ser? Temos um trabalho pra fazer e...
  - Ta bom, tchau.- Foi tudo o que a minha mãe disse antes de sair do quarto e me deixar sozinho ali.
  "Ótimo, agora eu tenho 14 anos e uma viagem marcada para Veneza. Pareceria ótimo se não fosse tão perigoso." foi o meu primeiro pensamento decente com 14 anos. Eu não me sentia nem um pouco diferente, nem um pouco mais velho, nem um pouco mais maduro e nem um pouco pronto para resolver meus problemas.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

7- Ideias difíceis de aceitar

  - Como você descobriu?- Perguntou Bianca, depois de parar de fingir que o que eu estava dizendo era loucura.
  - Isabel.
  - Aquela vampira...
  - Sua irmã. Não diga nada.
  - Ela te contou isso também? Era um segredo de família.
  - Vocês são irmãs. Por que nunca me contou? Quer dizer, você sabia de tudo, não é? Bruxas conseguem saber dessas coisas.
  - Ainda sou aprendiz, esta bem? E, era um segredo, eu nunca poderia te contar. Isabel também não, nem mesmo meu pai sabe sobre isso.
  - Ele não sabe que você tem uma irmã?
  - Não, ele acha que sou filha dele, e eu realmente me considero, não gosto de ser filha de um assassino.
  - Entendo. Então seu pai também é um bruxo?
  - É sim, meus pais são, minha família toda é, com exeção do infeliz do meu pai e da família dele, que inclui Isabel.- Certo, retiro o que disse sobre a família de Bianca ser a família dos meus sonhos, eles tinham mais problemas do que imaginei. Uma pena, se eles fossem normais seria uma família incrível.
  - Não tenho mais perguntas, é melhor irmos para casa, o professor deve achar que ainda estou na enfermaria.- Eu me levantei e caminhei até a sala de aula. Bianca veio atras de mim, mas não disse uma única palavra até chegarmos a porta da sala.
  - Olha Felipe, isso é um grande segredo, esta bem? Eu estou tentando ser só uma garota normal, sem usar feitiços para melhorar minha vida.
  - Não se preocupe, eu sei guardar segredo, guardei o de Isabel por um bom tempo, não é? Ate você resolver descobrir, mas pensando bem, eu nunca contei para ninguém.
  - E eu espero que guarde o meu d mesmo jeito.
  - Pode deixar, não tenho ninguém para contar mesmo.- Eu abri a porta da sala, pedi licença e nós dois entramos e nos sentamos em nossos devidos lugares.
  Mais uma amiga sobrenatural. Talvez eu não demorasse tanto para me acostumar com isso, mas com a ideia de que Isabel e Bianca eram irmãs, isso sim seria difícil de entender. "Eu achava que as duas eram filhas únicas, e ai descubro que as duas tinham uma a outra como irmã" aquele pensamento confuso não saía da minha mente. Era estranho imaginar Bianca como filha do pai de Isabel, se fosse ao contrario seria mais fácil aceitar.
  Tentei prestar atenção nas aulas, mas era mais difícil do que eu imaginei. Parecia que alguma coisa me impedia de fazer o que era certo. Talvez fosse eu mesmo.
  Tudo o que eu mais queria naquele momento era ir para minha casa e colocar minhas ideias no lugar. Talvez eu conseguisse falar com Isabel de novo se pegasse no sono, mas só tinha uma maneira de descobrir.
  Assim que a aula acabou, sai correndo da escola e voltei para casa. Nem mesmo me despedi de Bianca o que, mais tardem percebi ter sido um erro. Mas eu precisava ir para casa, precisava assistir televisão, ficar um pouco sozinho. Na verdade, eu precisava falar com Isabel.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

6- O problema deve ser comigo

  - Bruxinha irritante.- Murmurou Isabel, sentada ao meu lado.
  - Bell? O que você... Estou sonhando?
  - Sim, esta sim.
  - Espere ai, você disse "Bruxinha irritante"?
  - Sim. Sua amiguinha Bianca, ela não te contou?- A última coisa de que me lembrava era que Bianca e eu estávamos sentados em um banco, ela prometeu responder a todas as minhas perguntas, as de repente tudo ficou escuro e agora eu estava ali, sonhando. O que era aquilo?
  - Bruxa? Ela é uma bruxa?
  - Não, ela é uma bruxinha, é inexperiente e jovem demais para ser uma bruxa. E, agora, vou repetir: ela é uma bruxinha irritante.
  - Certo, qual o meu problema? O problema só pode ser meu, se o que você esta me dizendo for verdade, minhas duas melhores amigas são seres estranhos: uma é uma "bruxinha" e a outra uma "vampirinha". Então o problema só pode ser meu.
  - Realmente não sei qual o seu problema, Felipe. Pra mim, você não tem problemas.
  - Esta bem, as coisas já estão esquisitas mesmo, então vou perguntar logo: por que você tem tanta raiva dela?
  - Você sabe, coisa de irmã.
  - Irmã? Isabel, você ouve o que fala? Bianca é sua irmã?
  - Infelizmente, temos essa pequena aberração na família. Ela é minha irmã por parte de pai. Nascemos na mesma época e, desde então, minha mãe criou um ódio sobrenatural contra a mãe dela e eu contra ela.
  - Então o pai dela... não é pai dela?- As palavras que saiam da minha boca não faziam nenhum sentido. O que era aquilo? Por que eu nunca soube que elas eram irmãs? Elas podiam ser irmãs? Por mais estranha que fosse a ideia, ela esclarecia muitas coisas.
  - Pode até ser, pai de criação, sabe como é. Mas, se você ficar quieto vai ser bom para todos nós.
  - Certo, calma, muita calma nessa hora, vamos rever os fatos: o seu pai também é pai de Bianca o que, consequentemente, torna vocês irmãs.
  - Até ai esta certo.
  - Ta, mas a mãe de Bianca é uma bruxa. E a sua mãe era uma vampira. E elas se odiavam.
  - Pode ser, pode ser assim.
  - E por isso você odeia a sua irmã. É piada, não é?
  - Felipe!
  - Ora, por favor Isabel. Você nunca tentou ser amiga dela? Vocês devem ter muitas coisas em comum.
  - Não me ofenda, assim parece que você quer que eu e ela tenhamos alguma coisa de parecido.- Ela empinou seu nariz perfeito e revirou os brilhantes olhos azuis.- Só porque somos irmãs, não quer dizer que somos parecidas.
  - Você nunca considerou a possibilidade, não é?
  - E porque consideraria? Ela é uma bruxinha, eu sou uma vampira, não temos nada em comum.
  - Posso comentar isso com Bianca?
  - Desde que meu nome não apareça na conversa como quem te contou, pode sim. Mas agora é melhor você ir indo, até mais.

  Abri os olhos devagar. Era estranho que alguém dentro do meu sonho estivesse ma dizendo a hora de acordar, mas vindo de Isabel me parecia bem normal. Olhei em volta, eu estava na enfermaria da escola, havia uma enfermeira ao meu lado e uma outra falando com uma garota de cabelos cacheados: Bianca.
  - Eu não sei, ele desmaiou de repente. Provavelmente estava com fome.- Eu consegui ouvir Bianca dizer para a enfermeira.
  - É, mas agora estou bem, não é?- Falei levantando da maca e fazendo minha melhor cara de "saudável".- Nós temos muito o que conversar, não é?- Eu cheguei mais perto e sussurrei em seu ouvido- Bruxinha.

5- Como existem pessoas que sabem mais do que conseguem?

  - Posso entrar?- Perguntei a professora enquanto estava parado na porta da sala de aula. Ela olhou para o relógio no seu pulso e torceu o nariz.
  - Você já esta aqui mesmo, não é? Entre e me deixe continuar minha aula.- Eu entrei e me sentei no meu lugar.
  - Oi.- Falei baixinho, com a intenção de que apenas Bianca ouvisse, mas ela não respondeu.- Oi.- Repeti, um pouco mais alto, mas ela ainda não respondia, parecia estar me ignorando.- Não vai mais falar comigo agora? Só porque ouvi a conversa que teve com seu pai?- Certo, aquilo foi um pouco mais alto do que eu esperava e toda a sala parou de conversar para olhar para mim. Mas, pelo menos, agora Bianca não podia mais me ignorar.
  - Falo com você no recreio, pode ser? Nós não queremos atrapalhar a aula mais do que você já fez questão de atrapalhar.- O rosto dela estava ficando vermelho como uma cereja, o que me fez dar um leve sorriso, e ela ficou ainda mais nervosa.
  - Que foi? É engraçado quando você fica vermelha assim.
  - Engraçado vai ser a briga que vamos ter seu melhor amigo espião!- A turma inteira estava formando uma pequena roda em volta de nós dois, como se esperassem uma boa briga dentro da sala. Eu não queria brigar com minha melhor amiga, mas ela estava com muita raiva de mim, se não fosse a professora interromper teríamos uma briga feia dentro de alguns segundos, mas a professora salvou, por mais algum tempo, a nossa amizade.
  - Certo crianças, já chega, por que não conversam no recreio? Vai ser muito melhor para todos. E, por favor, mantenham-se vivos. Agora, se me dão licença, vou terminar minha aula.- E assim foi, até a hora do recreio não nos falamos, os professores entravam e saiam da sala e davam suas aulas, as quais eu não conseguia prestar atenção. "Mais um problema! Por que ela é tão explosiva?" era a única coisa que eu conseguia pensar. Isabel nunca faria isso, ela não era explosiva, não escondia nada de mim, eu queria muito que ela ainda estivesse ali. Não que eu não gostasse da amizade de Bianca, mas com Isabel era diferente, era uma amizade mais intensa, não era assim com Bianca, ela era muito explosiva, qualquer coisa era motivo para gritos e brigas. Não era fácil ser tão amigo de alguém assim.
  O sinal do recreio tocou e Bianca saiu como um foguete pela porta. Corri o máximo que consegui e mais um pouco para alcança-la e consegui. Segurei um dos seus braços com força e a obriguei a parar.
  - O que é? O que é dessa vez? Vai falar mais alguma coisa?
  - Vou.
  - Ah vai? Pois então diga, quero ver quanto tempo vai durar depois.
  - Vim pedir desculpas, esta bem? Mas é que é difícil conviver com você, Bia.
  - Então volte pra Isabel, aposto que o túmulo dela vai ser um ótimo lugar e o fantasma da vampirinha um grande amigo.
  - Vampirinha? Como assim?- Ela sabia? Isso não era possível. Eu nunca tinha dito nada sobre isso, nunca tinha nem insinuado algo parecido, como ela sabia?
  Bianca apertou os lábios e fechou os olhos fortemente, em seguida, resmungou algo como "OPA" e continuou:
  - Eu... eu tenho que ir, Felipe, não estou me sentindo bem e...- Eu apertei o braço dela com mais força.
  - Não, não, não mocinha. Agora você vai me dizer tudo o que sabe e como sabe. Vou tolerar a crítica que você fez de Isabel, mas é melhor que você me diga alguma coisas.