terça-feira, 30 de novembro de 2010

10- Agora entendo a magia

  Bianca, eu, Eduardo e Melissa resolvemos sair de casa um pouco. Eles disseram que tinham que escolher um presente para mim "Você vai junto, mas quando abrir o papel vai fingir que esta surpreso." me dissera Bianca. Para mim, só estar ali com eles por tanto tempo já era suficiente, já era o melhor presente desse mundo, eles não me lembravam uma família de bruxos, talvez uma família de anjos, mas eu sempre imaginava bruxos com verrugas no nariz e gatos pretos, mas eles tinham dois cães e eram realmente muito bonitos, uma bela família. 
  Eu tinha que lembrar de perguntar para Bianca se ela usava chapéus pontudos e tinha um caldeirão com poções mágicas, mas não naquele momento, estava bom demais para estragar com um pergunta boba. Caminhamos pelo centro da cidade e entramos em várias lojas, encontrei muitas coisas que eu gostei, mas Bianca achou que nenhuma delas era suficientemente boa. Resolvemos sair dali e ir direto para a praia, assim ela encontraria alguma coisa para mim. Isabel teria escolhido o shopping mais próximo, mas Bianca usava qualquer coisa de desculpa para ir até a praia. Paramos em um loja e logo ela encontrou alguma coisa que eu gostei e ela também, na verdade, era só mais uma das bugigangas que eu colecionava, mas eu não estava me importando com o valor do presente. 
  Assim que saímos da loja, Eduardo mudou de postura, ele parecia mais tenso, não estava mais tão sorridente quanto era normalmente e não estava fazendo suas citações que só ele compreendia. De repente Melissa também ficou assim, se abaixou e cochichou algo no ouvido de Bianca, que olhou para mim um pouco apavorada. 
  - Felipe.- Disse ela- Você tem que sair daqui, nós todos temos, mas você principalmente.
  - Por que?- Ela olhou para a mãe, que respondeu minha pergunta.
  - Veja Felipe, é melhor você ir com Bianca, ela vai te explicar tudo no caminho e você vai entender. Mas não se preocupem comigo e nem com Eduardo, vamos ficar bem.
  - Mas mãe, é muito perigoso e...
  - Vai ser mais perigoso se você ficar aqui, porque vou ter que cuidar de você também. Não se preocupe filha, vamos ficar bem, eu te prometo. Nos encontramos no lugar de sempre, esta bem?- Melissa tinha lágrimas nos olhos, mas eu não entendia porque. Será que, além de eles serem bruxos, havia mas algum segredo? Mas não tive tempo de fazer nenhuma pergunta, Bianca me puxou pelo braço e saiu correndo, me obrigando a segui-la. Tive a impressão, por um breve momento, de que ela estava chorando. Eu nunca havia visto ela chorar, em nenhum momento, será que era algo tão grave assim?
  Corremos por algum tempo, mais ou menos 5 minutos, até que chegamos à uma pequena pracinha. Bianca soltou meu braço e caminhou com a cabeça baixa até um banco e se sentou lá. Eu me sentei ao seu lado e perguntei:
  - O que esta acontecendo? Por que você esta chorando?
  - O nome "Ilha da Magia" não é dado a toa à esse lugar. Existem muitos bruxos por aqui, alguns deles são muito... muito vampiros. Eles sugam suas forças com a varinha deles e se fortalecem, alguns matam por puro prazer, são os que praticam magia negra, e eles estão aqui. Felipe- ela levantou a cabeça e olhou nos meus olhos- eles sabem que meus pais estão aqui, eles vão mata-los.
  Aquilo foi um choque enorme, era difícil ouvir alguém falar aquilo, saber que os pais estão a beira da morte e não poder fazer nada. Bianca era a garota mais forte que eu conhecia.
  - Mas eles não tem como vencer?
  - São dois contra cinquenta, é uma luta injusta, mas um vai tentar proteger o outro, eu sei disso, sempre foi assim, mas principalmente estão tentando me proteger. É o trabalho deles como meus pais, eles me protegem mesmo que isso signifique perder a própria vida. Mesmo Eduardo, que nem é meu pai de sangue, mas é como se fosse, eu nunca vou considerar o pai de Isabel meu pai. 
  - Você não tem esperança?
  - Esperança é uma coisa que se perde a partir do momento que você se torna um de nós. Não há a menor chance de que os dois volte vivos disso tudo, eu sei que não, um dos dois vai partir, eu nunca mais verei um, talvez nenhum, dos maus pais. 
  - Não pode ajudar?
  - Ficou louco? Tenho que ser o mais egoísta possível agora, tenho que proteger minha vida e mais nada, você tem que proteger a sua e é isso. Por que não compramos seu presente lá onde vimos aqueles jogos de computador? Seria tão mais simples! A culpa é toda minha!- Bianca estava chorando outra vez, mas não parecia ser de tristeza, parecia esta com raiva, talvez dela mesma, talvez de mim, talvez dos outros bruxos, eu não sabia bem, mas não era o mesmo tipo de choro de quando íamos até a praça, era diferente, tinha ódio nele. 
  De repente tive a impressão de que havia mais alguém ali, que Bianca e eu não estávamos sozinhos. Bianca puxou uma pequena varinha de prata de dentro da bolsa e, em uma fração de segundos, lançou um raio de luz na direção dos balanços. 
  - O que você vez aqui?- Perguntou com seu melhor tom de ódio. 
  - Me desculpe, eu só queria poder dizer alguma coisa!- Eu conseguia ouvir uma voz feminina ao longe, parecia muito mais longe do que os balanços, mas não via ninguém. Logo um rosto foi se formando, as longas mechas negras flutuavam em volta do belo rosto de Isabel. Eu sentia que ela não estava ali, era apenas uma ilusão, ela era quase transparente, mas veio para mais perto, e se sentou no banco, ao lado de Bianca, fingindo que nem me via.
  - Mas não pode Isabel, não pode. Meus pais não passam de hoje, logo estarão mortos e eu não posso fazer nada para ajudar. Vá embora, por favor! 
  - Bianca eu...
  - Já basta ter que te aguentar como vampira, agora tenho que te aguentar como fantasma? Por favor, não é uma boa hora!
  - Você vai para Veneza?- Perguntou Isabel, mesmo que agora já estivesse quase completamente invisível.
  - Vou para qualquer lugar que seja longe daqui, nada mais me importa.
  - Então arrume sus malas. Você também Felipe- Ela se virou para mim e pude perceber um vislumbre de seu sorriso.- Vocês partem amanhã às 3 da manhã.- E ela desapareceu, me deixando ali com Bianca, só nós dois,  sem que eu pudesse dar mais do que o silêncio para consolar minha amiga.
  Passamos horas sentados ali, naquele banco, naquela praça, mas os pais de Bianca não voltaram. Esperamos até a lua estar alta no céu, mas eles não chegaram, eles não voltaram, eles haviam partido, para nunca mais voltar. 
  - Sabe o pior disso tudo?- Perguntou Bianca depois de horas em silêncio.
  - O que?
  - Nunca mais vou comer as torradas do meu pai.- Ela sorriu, eu sabia que era difícil para ela fazer uma piada com aquela situação, mas ela estava tentando, ela queria seguir em frente, queria seguir de cabeça erguida para onde quer que fosse, não importava se teria que atravessar o mundo, mas ela estaria de cabeça erguida. 
  - Você tem toda a razão, nunca mais vou ficar sem entender as citações do seu pai.
  - Ele era o melhor pai do mundo, não era?
  - Ele sempre vai ser, ele vai sempre estar com você, ele é o seu pai e é o melhor pai do mundo. Agora é melhor nós irmos, já esta tarde e os outros vão ficar preocupados se não voltarmos logo.
  - Você tem razão. Podemos voltar lá só por um minuto? Só quero ter certeza de que eles não vão mesmo voltar, quero matar essa esperança que, por algum motivo, cresceu dentro de mim. 
  - O tempo que você quiser.- Ela se levantou e me deu um abraço, um abraço de consolo, ela precisava ter certeza de que ainda estava ali, da mesma forma que eu precisava saber que ela estava ali.
  Voltamos até onde estávamos antes, não haviam corpos, não havia nada disso, apenas algumas varinhas de vários tipo jogadas no chão. Ela caminhou até as duas que estavam no meio das outras, uma de madeira e a outra de cristal e ficou parada ali, olhando os dois objetos jogados no chão. 
  - Eles ficaram juntos até o final.
  - Mas aí só estão as varinhas.
  - Quando um bruxo ou uma bruxa morre, seu corpo não fica aqui, resta apenas a varinha.
  - Eles não podem ter deixado as varinhas para trás? Quer dizer, podem ter saído com pressa e não pegaram as varinhas.
  - Se isso acontecessem, em algum tempo eles já estariam com eles outra vez, uma varinha sempre volta para o seu bruxo, elas são muito fiéis, mas se não tiverem um bruxo ou uma bruxa, elas não tem mais nenhuma utilidade, apenas valor sentimental.- Ela quebrou as duas varinhas no meio.- Um valor que eu realmente não quero para mim. Vou mandar as varinhas quebradas para o Conselho, deixar bem claro que Melissa Scott e Eduardo Scott são bruxos mortos.- Ela pegou sua varinha e fez um circulo brilhante no ar, em seguida, jogou as quatro metades das varinhas de seus pais lá dentro e disse:- Para o Conselho, de Bianca Scott.- O circulo de fechou e Bianca virou-se para mim novamente.- Agora esta tudo resolvido, podemos voltar para casa e arrumar as malas. Amanhã temos uma longa viagem até Veneza.

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