terça-feira, 30 de novembro de 2010

9- Meu presente risonho

  - Felipe, o que você faz aqui?- Perguntou Bianca que ainda estava de pijama, com os cabelos castanhos embaraçados e uma expressão surpresa por me ver.
  - Estou te visitando. Ainda somos amigos, não é?- Eu falava tão normalmente, como se não me impressionasse nem um pouco com o fato de que ela era um bruxa, ou que era irmã de Isabel, ou que estava de pijamas. Ela ficou me olhando como quem tenta entender alguma coisa.- Posso entrar?
  - Sim... hun... sim, é claro, por que não!? Você quer alguma coisa?
  - Você nunca me pergunta isso, mas de qualquer forma, quero sim, quero falar com você sobre uma coisa séria.- Nos sentamos no sofá e eu comecei a contar para Bianca toda a história, desde quando eu e Isabel nos conhecemos, falei de Sara e, finalmente, do pedido de Isabel.
  - Não, eu não vou até Veneza para te ajudar a salvar Isabel, não mesmo! Sem chance.
  - Bianca, você não vai salvar Isabel, ela vai voltar por alguns dias e me ajudar a salvar Sara, nada além disso, ela esta morta e nada pode mudar isso. Por favor Bianca, você é a única esperança que eu tenho, Sara vai morrer se você não ajudar, sei que você não vai deixar que isso aconteça.
  - Vá para casa, depois conversamos.- Ela se levantou e seguiu em direção ao quarto de visitas, mas eu a segurei pelo braço e olhei em seus olhos.
  - Não temos muito tempo, por favor, me ajuda!- Ela virou a cabeça para o lado, desviando o olhar.
  - Esta bem seu chato. Vou ajudar. Quando partimos?
  - Eu ainda não sei, mas logo vou descobrir.- Ficamos cerca de dois minutos em silêncio até que ela disse:
  - Certo, acho que agora você pode soltar meu braço para que eu vá trocar de roupa e escovar esse cabelo, não é?
  - Sim, talvez.- Eu soltei o braço dela, mas antes que ela pudesse sair da minha frente eu lhe dei um abraço apertado e sussurrei no seu ouvido:- Obrigada.
  Bianca sorriu e entrou no quarto de visitas. Ela era uma ótima amiga, mesmo com seu temperamento explosivo e nossas constantes discussões, ela e Isabel com certeza eram minhas melhores amigas, por mais diferentes que fossem, eram, ao mesmo tempo, parecidas. Sempre prontas para ajudar os amigos e para estar junto deles para o que der e vier, amigas fiéis, confiáveis, simplesmente as melhores amigas desse mundo.
  Eu fui até a cozinha, o pai de Bianca não estava lá e, pelo visto, ainda não havia acordado já que não havia nenhum sinal de que o café da manhã havia sido preparado. Comecei a caminhar pelo lugar, eu procurava alguma coisa, mas não sabia bem o que, eu estava só olhando, buscando talvez alguma prova de que Bianca era mesmo irmã de Isabel.
  - Quer alguma coisa, Felipe?- Virei-me rapidamente para a mãe de Bianca que estava parada na porta da cozinha.
  - N-não senhora.
  - Não me chame de senhora. Você sabe muito bem que meu nome é Melissa, pode me chamar de Mel, de "mãe da Bianca", de qualquer coisa, só não me chame de senhora. Não sou tão velha assim.
  - Sim senho... Melissa.- Ela sorriu e me deu as costas, não parecia realmente interessada em saber o que eu estava fazendo ali, ela simplesmente se virou e saiu.
  - Regra número 1 de Melissa Scott: nunca a chame de senhora.- Disse Bianca parada na porta da cozinha, exatamente onde sua mãe estava antes. Foi então que percebi o quanto elas eram parecidas: os mesmos olhos castanhos profundos, o mesmo sorriso acolhedor, o mesmo cabelo castanho e cacheado descendo até metade das costas e o mesmo tom de pele bronzeado que declarava abertamente a adoração da família pelas praias de Florianópolis. Eram tão diferentes de Isabel, tinham um outro tipo de beleza, uma beleza mais tropical, talvez uma beleza menos fria e menos assassina. 
   Algumas perguntas começaram a surgir em minha mente: será que Isabel já havia matado alguém? Será que, no fundo, ela era como os vampiros da Ordem, poderosa e traiçoeira? Será que ela seria capaz de me trair? Aquelas perguntas sem solução estavam fazendo minha cabeça girar e me deixando sem fala. O que mesmo Bianca tinha me dito há um minuto atrás? 
  - Felipe, o que foi?
  - Nada.- Sim, agora eu estava raciocinando direito. Isabel deveria ficar de lado por algum tempo, pelo menos até que eu organizasse minhas ideias.
  - Hoje é seu aniversário, não é?
  - Sim, hoje é.
  - Parabéns então, mas ainda assim, continuo mais velha que você. 
  - Acho que você é mais velha que todos os seus amigos, você nasceu no dia 5 de janeiro, quem nasce mais cedo do que isso? Você é apressada desde que nasceu.- Ela me deu um leve soco no braço e sorriu. Normalmente só meninos faziam isso, mas Bianca sempre tivera mais amigos do que amigas e tinha aprendido a fazer isso com eles.
  - Acho que temos de planejar essa ta viagem para Veneza, não é? Tenho que saber ao certo quando vamos e o que eu vou fazer lá.
  - Nem eu sei ainda, Isabel só me falou aquilo que eu te disse, nada mais, nada menos.
  - Vou até Veneza para falar com uma bruxa? Só isso? Se eu quiser falar com uma bruxa fico em casa, não acha?- Não consegui segurar e caí na gargalhada.   
  Aquela frase, com as expressão de Bianca e o seu tom de voz divertido eram um conjunto perfeito. Era tão bom rir sem ter que forçar, só rir, sem me preocupar com meus problemas e, por um breve momento, nem me lembrar deles. Bianca tinha essa capacidade, uma pena que à usava pouco, mas quando usava conseguia me deixa feliz, mesmo que por pouco tempo, mas aquele momento valia tudo, tudo o que eu vinha passando, valia meu aniversário de 14 anos. 
  - Ei cabeção, esta rindo do que?- A típica frase que sempre vinha depois de uma boa gargalhada.
  - De você, é claro!
  - De mim?
  - Sim, do seu jeito de falar, de revirar os olhos e de me fazer rir. É por isso que estou rindo, você é a única pessoa no mundo capaz de fazer isso.- Ela abriu um lindo sorriso, aquele sorriso que ela e Isabel tinham em comum, a única coisa que me fazia acreditar que elas eram mesmo irmãs: aquele sorriso perfeito que iluminava tudo ao redor, que me impressionava em todas as vezes que eu o via, que me fazia mudar de opinião em um segundo e me convencia de qualquer coisa. Só aquele sorriso.
  - Você é um tonto! Nem sei porque ainda falo com você.
  - Porque você me adoro, é por isso que ainda fala comigo, você também é tonta.
  - Deve ser por isso mesmo, sou tão tonta quanto minha irmã nessa área... não, ninguém nunca vai ser tão tonta quanto Isabel, nisso ela é única.
  - Bianca, não fale nada dela, ela tem muita coragem e é única em todos os sentidos, menos no sorriso, que você tem um igual.
  - Esse aqui?- Ela sorriu novamente e todo o brilho e o encanto voltou.
  - Esse mesmo.- Dessa vez nós dois rimos, rimos alto e em bom som, para que todos os que quisessem- e os que não quisessem- pudessem ouvir. Esses momentos faziam qualquer amizade valer a pena, porque se havia uma coisa que as irmãs mais estranhas desse mundo haviam me ensinado é que as melhores risadas são com os amigos. 

Um comentário:

  1. Gente, me desculpam a letra miúda, ok? É que o PC deu problema, talvez a próxima postagem tbm saia assim, mas vou tentar arrumar.

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