terça-feira, 2 de novembro de 2010

1- Torradas com mel e leite

Bianca e eu saímos da escola o mais rápido possível, como sempre. Ela era muito mais rápida que eu e muito mais determinada, por isso era sempre a primeira a chegar ao nosso destino: a sorveteria Gelo Bom que havia aberto perto da escola há um mês. Depois que descobrimos aquele lugar, passamos a ir lá todos os dias após a aula, o verão estava muito quente naquele ano e as variedades de sorvetes no buffet era enorme.
  Tentei alcançar Bianca, mas não consegui, quando cheguei a sorveteria ela já estava lá dentro, sentada, com uma taça de sorvete nas mãos. 
  - Como você é lento, Felipe.- Comentou ela sem tirar os olhos do sorvete amarelo e que, pelo jeito, estava muito gelado.
  - Você sabe disso. Mas, se fosse Isabel ela me deixaria ganhar.- Já fazia quase um ano, mas era difícil para mim esquece-la. Bianca sabia de quase toda a história, sabia que tínhamos ido para a Transilvania e que ela tinha  morrido na minha frente, mas ela não sabia nada sobre os vampiros, achei melhor que ela não soubesse de nada.
  - Deixaria sim, mas como você mesmo diz: sou muito diferente dela. Agora vá pegar um pouco de sorvete que já esta me deixando agoniada de ver você ai parado.
  Se tinha uma coisa que eu havia aprendido nos três meses que passei com Bianca era que não era muito inteligente desobedece-la. Ela tinha uma personalidade forte, não gostava de ser contrariada e tinha ótimos argumentos, mas também tinha muita influência para convencer qualquer um de que eu era o malvado. Eu larguei minha mochila na mesa e fui para o buffet me servir. Peguei um pouco do de chocolate e um pouco do de creme, para variar. O caixa me cobrou e me sentei com minha amiga novamente.
  - E então, de que é esse seu sorvete amarelo?- Perguntei tentando puxar assunto.
  - De manga. Você sabe, tenho um gosto estranho.- Ela colocou uma colherada de sorvete na boca, mas não parecia estar muito feliz com o gosto.- Ele é... diferente.
  - Você quer dizer que não gostou do sabor?
  - Não, só quis dizer que é um gosto diferente, mas que gosto de inovar e coisas novas são ótimas pra mim.- Ela não ia admitir que não havia gostado, então resolvi saborear meu clássico sorvete de chocolate sem me preocupar muito com o que ela estava pensando. Ela era realmente muito legal.
  Assim que gastamos todo o nosso dinheiro em sorvete e doces, fomos para a casa de Bianca. Desde que eu a conhecera, já quase não ficava na minha casa. A família dela era muito unida e nada do que ela dizia era um motivo para brigas, apenas para elogios e as famosas "criticas construtivas". Eu gostava de estar lá, era bom saber que nem tudo estava perdido e que nem todos os pais eram como os meus. 
  O pai de Bianca era artista plástico e sua mãe era estilista, os dois estavam sempre em casa, desenhando alguma coisa nova, criando um mundo novo a cada toque do lápis no papel. Bianca tinha herdado esse talento deles, ela desenhava paisagens como ninguém, eram quase como fotografias, realmente maravilhosas. 
  A casa dela era um pouco mais longe da escola do que a minha, mas íamos conversando e isso sempre fazia o tempo passar mais rápido, e mesmo que eu fosse sozinho, a casa dela era tão revigorante que valia a pena caminhar até lá. 
  O muro de tijolos a vista escondia o andar térreo da casa e as folhas de hera escondiam o muro, o que fazia com que quase não se conseguisse vê-lo. A casa era grande, tinha 2 andares, 5 quartos, 2 escritórios, 4 banheiros, cozinha e uma sala, que era tão bem decorada que não parecia ser realmente de uma casa, parecia mais o hall de um hotel. 
  Nós fomos até o quarto dela e deixamos as mochilas lá, em seguida descemos as escadas e fomos até a cozinha, da onde vinha um cheiro maravilhoso de bolo de chocolate. Se tinha uma coisa que o pai de Bianca sabia fazer era cozinhar. Ele estava sempre inventando alguma coisa nova, sempre um prato diferente para surpreender os convidados, ele dizia que se não criasse coisas novas as pessoas não iam mais querer comer nada do que ele fizesse. Eu não concordava, porque nunca me enjoava de nenhum dos pratos dele.
  - O que vamos ter hoje, pai?- Perguntou Bianca já sentando na mesa.
  - Primeiro vocês vão enganar o estômago com algumas torradas com mel e leite, depois vamos ter bolo de chocolate. Mas ainda não esta pronto.
  - Esta bem.- Ela pegou uma torrada e um copo de leite que estava em cima da mesa. 
  - Felipe, você vai ficar em pé?- Perguntou ele.- Ora, pegue algumas torradas e um copo de leite, o bolo não demora para ficar pronto.- Ele puxou uma cadeira para mim e me deu uma torrada. Me sentei e ele comentou:- Leite, torradas e mel. Não é engraçado como as coisas às vezes parecem tão claras e tão próximas?
  As vezes eu não entendia exatamente o que ele queria dizer com certos comentários, mas com certeza tinham algum significado. Ou talvez fossem apenas comentários. Isso não me importava muito, eu simplesmente esqueci o que ele havia dito e comi minha torrada com mel e tomei meu copo de leite. Em quinze minutos o bolo estava pronto e eu, Bianca, o pai e a mãe dela estávamos sentados à mesa comendo o melhor bolo de chocolate que eu já havia experimentado. O dia estava indo muito bem, muito melhor do que o esperado. Ter uma vida normal de novo era bom, mas eu ainda sentia falta da antiga vida cheia de aventuras que eu tinha, sentia falta de Isabel.

Um comentário:

  1. Milk and toast and honey! Amo essa músiquinha, culpa da Sabrina, agora meu primeiro capitulo é baseado em torradas. Hushuahsua

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