terça-feira, 30 de novembro de 2010

10- Agora entendo a magia

  Bianca, eu, Eduardo e Melissa resolvemos sair de casa um pouco. Eles disseram que tinham que escolher um presente para mim "Você vai junto, mas quando abrir o papel vai fingir que esta surpreso." me dissera Bianca. Para mim, só estar ali com eles por tanto tempo já era suficiente, já era o melhor presente desse mundo, eles não me lembravam uma família de bruxos, talvez uma família de anjos, mas eu sempre imaginava bruxos com verrugas no nariz e gatos pretos, mas eles tinham dois cães e eram realmente muito bonitos, uma bela família. 
  Eu tinha que lembrar de perguntar para Bianca se ela usava chapéus pontudos e tinha um caldeirão com poções mágicas, mas não naquele momento, estava bom demais para estragar com um pergunta boba. Caminhamos pelo centro da cidade e entramos em várias lojas, encontrei muitas coisas que eu gostei, mas Bianca achou que nenhuma delas era suficientemente boa. Resolvemos sair dali e ir direto para a praia, assim ela encontraria alguma coisa para mim. Isabel teria escolhido o shopping mais próximo, mas Bianca usava qualquer coisa de desculpa para ir até a praia. Paramos em um loja e logo ela encontrou alguma coisa que eu gostei e ela também, na verdade, era só mais uma das bugigangas que eu colecionava, mas eu não estava me importando com o valor do presente. 
  Assim que saímos da loja, Eduardo mudou de postura, ele parecia mais tenso, não estava mais tão sorridente quanto era normalmente e não estava fazendo suas citações que só ele compreendia. De repente Melissa também ficou assim, se abaixou e cochichou algo no ouvido de Bianca, que olhou para mim um pouco apavorada. 
  - Felipe.- Disse ela- Você tem que sair daqui, nós todos temos, mas você principalmente.
  - Por que?- Ela olhou para a mãe, que respondeu minha pergunta.
  - Veja Felipe, é melhor você ir com Bianca, ela vai te explicar tudo no caminho e você vai entender. Mas não se preocupem comigo e nem com Eduardo, vamos ficar bem.
  - Mas mãe, é muito perigoso e...
  - Vai ser mais perigoso se você ficar aqui, porque vou ter que cuidar de você também. Não se preocupe filha, vamos ficar bem, eu te prometo. Nos encontramos no lugar de sempre, esta bem?- Melissa tinha lágrimas nos olhos, mas eu não entendia porque. Será que, além de eles serem bruxos, havia mas algum segredo? Mas não tive tempo de fazer nenhuma pergunta, Bianca me puxou pelo braço e saiu correndo, me obrigando a segui-la. Tive a impressão, por um breve momento, de que ela estava chorando. Eu nunca havia visto ela chorar, em nenhum momento, será que era algo tão grave assim?
  Corremos por algum tempo, mais ou menos 5 minutos, até que chegamos à uma pequena pracinha. Bianca soltou meu braço e caminhou com a cabeça baixa até um banco e se sentou lá. Eu me sentei ao seu lado e perguntei:
  - O que esta acontecendo? Por que você esta chorando?
  - O nome "Ilha da Magia" não é dado a toa à esse lugar. Existem muitos bruxos por aqui, alguns deles são muito... muito vampiros. Eles sugam suas forças com a varinha deles e se fortalecem, alguns matam por puro prazer, são os que praticam magia negra, e eles estão aqui. Felipe- ela levantou a cabeça e olhou nos meus olhos- eles sabem que meus pais estão aqui, eles vão mata-los.
  Aquilo foi um choque enorme, era difícil ouvir alguém falar aquilo, saber que os pais estão a beira da morte e não poder fazer nada. Bianca era a garota mais forte que eu conhecia.
  - Mas eles não tem como vencer?
  - São dois contra cinquenta, é uma luta injusta, mas um vai tentar proteger o outro, eu sei disso, sempre foi assim, mas principalmente estão tentando me proteger. É o trabalho deles como meus pais, eles me protegem mesmo que isso signifique perder a própria vida. Mesmo Eduardo, que nem é meu pai de sangue, mas é como se fosse, eu nunca vou considerar o pai de Isabel meu pai. 
  - Você não tem esperança?
  - Esperança é uma coisa que se perde a partir do momento que você se torna um de nós. Não há a menor chance de que os dois volte vivos disso tudo, eu sei que não, um dos dois vai partir, eu nunca mais verei um, talvez nenhum, dos maus pais. 
  - Não pode ajudar?
  - Ficou louco? Tenho que ser o mais egoísta possível agora, tenho que proteger minha vida e mais nada, você tem que proteger a sua e é isso. Por que não compramos seu presente lá onde vimos aqueles jogos de computador? Seria tão mais simples! A culpa é toda minha!- Bianca estava chorando outra vez, mas não parecia ser de tristeza, parecia esta com raiva, talvez dela mesma, talvez de mim, talvez dos outros bruxos, eu não sabia bem, mas não era o mesmo tipo de choro de quando íamos até a praça, era diferente, tinha ódio nele. 
  De repente tive a impressão de que havia mais alguém ali, que Bianca e eu não estávamos sozinhos. Bianca puxou uma pequena varinha de prata de dentro da bolsa e, em uma fração de segundos, lançou um raio de luz na direção dos balanços. 
  - O que você vez aqui?- Perguntou com seu melhor tom de ódio. 
  - Me desculpe, eu só queria poder dizer alguma coisa!- Eu conseguia ouvir uma voz feminina ao longe, parecia muito mais longe do que os balanços, mas não via ninguém. Logo um rosto foi se formando, as longas mechas negras flutuavam em volta do belo rosto de Isabel. Eu sentia que ela não estava ali, era apenas uma ilusão, ela era quase transparente, mas veio para mais perto, e se sentou no banco, ao lado de Bianca, fingindo que nem me via.
  - Mas não pode Isabel, não pode. Meus pais não passam de hoje, logo estarão mortos e eu não posso fazer nada para ajudar. Vá embora, por favor! 
  - Bianca eu...
  - Já basta ter que te aguentar como vampira, agora tenho que te aguentar como fantasma? Por favor, não é uma boa hora!
  - Você vai para Veneza?- Perguntou Isabel, mesmo que agora já estivesse quase completamente invisível.
  - Vou para qualquer lugar que seja longe daqui, nada mais me importa.
  - Então arrume sus malas. Você também Felipe- Ela se virou para mim e pude perceber um vislumbre de seu sorriso.- Vocês partem amanhã às 3 da manhã.- E ela desapareceu, me deixando ali com Bianca, só nós dois,  sem que eu pudesse dar mais do que o silêncio para consolar minha amiga.
  Passamos horas sentados ali, naquele banco, naquela praça, mas os pais de Bianca não voltaram. Esperamos até a lua estar alta no céu, mas eles não chegaram, eles não voltaram, eles haviam partido, para nunca mais voltar. 
  - Sabe o pior disso tudo?- Perguntou Bianca depois de horas em silêncio.
  - O que?
  - Nunca mais vou comer as torradas do meu pai.- Ela sorriu, eu sabia que era difícil para ela fazer uma piada com aquela situação, mas ela estava tentando, ela queria seguir em frente, queria seguir de cabeça erguida para onde quer que fosse, não importava se teria que atravessar o mundo, mas ela estaria de cabeça erguida. 
  - Você tem toda a razão, nunca mais vou ficar sem entender as citações do seu pai.
  - Ele era o melhor pai do mundo, não era?
  - Ele sempre vai ser, ele vai sempre estar com você, ele é o seu pai e é o melhor pai do mundo. Agora é melhor nós irmos, já esta tarde e os outros vão ficar preocupados se não voltarmos logo.
  - Você tem razão. Podemos voltar lá só por um minuto? Só quero ter certeza de que eles não vão mesmo voltar, quero matar essa esperança que, por algum motivo, cresceu dentro de mim. 
  - O tempo que você quiser.- Ela se levantou e me deu um abraço, um abraço de consolo, ela precisava ter certeza de que ainda estava ali, da mesma forma que eu precisava saber que ela estava ali.
  Voltamos até onde estávamos antes, não haviam corpos, não havia nada disso, apenas algumas varinhas de vários tipo jogadas no chão. Ela caminhou até as duas que estavam no meio das outras, uma de madeira e a outra de cristal e ficou parada ali, olhando os dois objetos jogados no chão. 
  - Eles ficaram juntos até o final.
  - Mas aí só estão as varinhas.
  - Quando um bruxo ou uma bruxa morre, seu corpo não fica aqui, resta apenas a varinha.
  - Eles não podem ter deixado as varinhas para trás? Quer dizer, podem ter saído com pressa e não pegaram as varinhas.
  - Se isso acontecessem, em algum tempo eles já estariam com eles outra vez, uma varinha sempre volta para o seu bruxo, elas são muito fiéis, mas se não tiverem um bruxo ou uma bruxa, elas não tem mais nenhuma utilidade, apenas valor sentimental.- Ela quebrou as duas varinhas no meio.- Um valor que eu realmente não quero para mim. Vou mandar as varinhas quebradas para o Conselho, deixar bem claro que Melissa Scott e Eduardo Scott são bruxos mortos.- Ela pegou sua varinha e fez um circulo brilhante no ar, em seguida, jogou as quatro metades das varinhas de seus pais lá dentro e disse:- Para o Conselho, de Bianca Scott.- O circulo de fechou e Bianca virou-se para mim novamente.- Agora esta tudo resolvido, podemos voltar para casa e arrumar as malas. Amanhã temos uma longa viagem até Veneza.

9- Meu presente risonho

  - Felipe, o que você faz aqui?- Perguntou Bianca que ainda estava de pijama, com os cabelos castanhos embaraçados e uma expressão surpresa por me ver.
  - Estou te visitando. Ainda somos amigos, não é?- Eu falava tão normalmente, como se não me impressionasse nem um pouco com o fato de que ela era um bruxa, ou que era irmã de Isabel, ou que estava de pijamas. Ela ficou me olhando como quem tenta entender alguma coisa.- Posso entrar?
  - Sim... hun... sim, é claro, por que não!? Você quer alguma coisa?
  - Você nunca me pergunta isso, mas de qualquer forma, quero sim, quero falar com você sobre uma coisa séria.- Nos sentamos no sofá e eu comecei a contar para Bianca toda a história, desde quando eu e Isabel nos conhecemos, falei de Sara e, finalmente, do pedido de Isabel.
  - Não, eu não vou até Veneza para te ajudar a salvar Isabel, não mesmo! Sem chance.
  - Bianca, você não vai salvar Isabel, ela vai voltar por alguns dias e me ajudar a salvar Sara, nada além disso, ela esta morta e nada pode mudar isso. Por favor Bianca, você é a única esperança que eu tenho, Sara vai morrer se você não ajudar, sei que você não vai deixar que isso aconteça.
  - Vá para casa, depois conversamos.- Ela se levantou e seguiu em direção ao quarto de visitas, mas eu a segurei pelo braço e olhei em seus olhos.
  - Não temos muito tempo, por favor, me ajuda!- Ela virou a cabeça para o lado, desviando o olhar.
  - Esta bem seu chato. Vou ajudar. Quando partimos?
  - Eu ainda não sei, mas logo vou descobrir.- Ficamos cerca de dois minutos em silêncio até que ela disse:
  - Certo, acho que agora você pode soltar meu braço para que eu vá trocar de roupa e escovar esse cabelo, não é?
  - Sim, talvez.- Eu soltei o braço dela, mas antes que ela pudesse sair da minha frente eu lhe dei um abraço apertado e sussurrei no seu ouvido:- Obrigada.
  Bianca sorriu e entrou no quarto de visitas. Ela era uma ótima amiga, mesmo com seu temperamento explosivo e nossas constantes discussões, ela e Isabel com certeza eram minhas melhores amigas, por mais diferentes que fossem, eram, ao mesmo tempo, parecidas. Sempre prontas para ajudar os amigos e para estar junto deles para o que der e vier, amigas fiéis, confiáveis, simplesmente as melhores amigas desse mundo.
  Eu fui até a cozinha, o pai de Bianca não estava lá e, pelo visto, ainda não havia acordado já que não havia nenhum sinal de que o café da manhã havia sido preparado. Comecei a caminhar pelo lugar, eu procurava alguma coisa, mas não sabia bem o que, eu estava só olhando, buscando talvez alguma prova de que Bianca era mesmo irmã de Isabel.
  - Quer alguma coisa, Felipe?- Virei-me rapidamente para a mãe de Bianca que estava parada na porta da cozinha.
  - N-não senhora.
  - Não me chame de senhora. Você sabe muito bem que meu nome é Melissa, pode me chamar de Mel, de "mãe da Bianca", de qualquer coisa, só não me chame de senhora. Não sou tão velha assim.
  - Sim senho... Melissa.- Ela sorriu e me deu as costas, não parecia realmente interessada em saber o que eu estava fazendo ali, ela simplesmente se virou e saiu.
  - Regra número 1 de Melissa Scott: nunca a chame de senhora.- Disse Bianca parada na porta da cozinha, exatamente onde sua mãe estava antes. Foi então que percebi o quanto elas eram parecidas: os mesmos olhos castanhos profundos, o mesmo sorriso acolhedor, o mesmo cabelo castanho e cacheado descendo até metade das costas e o mesmo tom de pele bronzeado que declarava abertamente a adoração da família pelas praias de Florianópolis. Eram tão diferentes de Isabel, tinham um outro tipo de beleza, uma beleza mais tropical, talvez uma beleza menos fria e menos assassina. 
   Algumas perguntas começaram a surgir em minha mente: será que Isabel já havia matado alguém? Será que, no fundo, ela era como os vampiros da Ordem, poderosa e traiçoeira? Será que ela seria capaz de me trair? Aquelas perguntas sem solução estavam fazendo minha cabeça girar e me deixando sem fala. O que mesmo Bianca tinha me dito há um minuto atrás? 
  - Felipe, o que foi?
  - Nada.- Sim, agora eu estava raciocinando direito. Isabel deveria ficar de lado por algum tempo, pelo menos até que eu organizasse minhas ideias.
  - Hoje é seu aniversário, não é?
  - Sim, hoje é.
  - Parabéns então, mas ainda assim, continuo mais velha que você. 
  - Acho que você é mais velha que todos os seus amigos, você nasceu no dia 5 de janeiro, quem nasce mais cedo do que isso? Você é apressada desde que nasceu.- Ela me deu um leve soco no braço e sorriu. Normalmente só meninos faziam isso, mas Bianca sempre tivera mais amigos do que amigas e tinha aprendido a fazer isso com eles.
  - Acho que temos de planejar essa ta viagem para Veneza, não é? Tenho que saber ao certo quando vamos e o que eu vou fazer lá.
  - Nem eu sei ainda, Isabel só me falou aquilo que eu te disse, nada mais, nada menos.
  - Vou até Veneza para falar com uma bruxa? Só isso? Se eu quiser falar com uma bruxa fico em casa, não acha?- Não consegui segurar e caí na gargalhada.   
  Aquela frase, com as expressão de Bianca e o seu tom de voz divertido eram um conjunto perfeito. Era tão bom rir sem ter que forçar, só rir, sem me preocupar com meus problemas e, por um breve momento, nem me lembrar deles. Bianca tinha essa capacidade, uma pena que à usava pouco, mas quando usava conseguia me deixa feliz, mesmo que por pouco tempo, mas aquele momento valia tudo, tudo o que eu vinha passando, valia meu aniversário de 14 anos. 
  - Ei cabeção, esta rindo do que?- A típica frase que sempre vinha depois de uma boa gargalhada.
  - De você, é claro!
  - De mim?
  - Sim, do seu jeito de falar, de revirar os olhos e de me fazer rir. É por isso que estou rindo, você é a única pessoa no mundo capaz de fazer isso.- Ela abriu um lindo sorriso, aquele sorriso que ela e Isabel tinham em comum, a única coisa que me fazia acreditar que elas eram mesmo irmãs: aquele sorriso perfeito que iluminava tudo ao redor, que me impressionava em todas as vezes que eu o via, que me fazia mudar de opinião em um segundo e me convencia de qualquer coisa. Só aquele sorriso.
  - Você é um tonto! Nem sei porque ainda falo com você.
  - Porque você me adoro, é por isso que ainda fala comigo, você também é tonta.
  - Deve ser por isso mesmo, sou tão tonta quanto minha irmã nessa área... não, ninguém nunca vai ser tão tonta quanto Isabel, nisso ela é única.
  - Bianca, não fale nada dela, ela tem muita coragem e é única em todos os sentidos, menos no sorriso, que você tem um igual.
  - Esse aqui?- Ela sorriu novamente e todo o brilho e o encanto voltou.
  - Esse mesmo.- Dessa vez nós dois rimos, rimos alto e em bom som, para que todos os que quisessem- e os que não quisessem- pudessem ouvir. Esses momentos faziam qualquer amizade valer a pena, porque se havia uma coisa que as irmãs mais estranhas desse mundo haviam me ensinado é que as melhores risadas são com os amigos. 

sábado, 27 de novembro de 2010

8- Feliz Aniversário esquecido

  Eu demorei para conseguir dormir naquela noite, mas eu sabia que precisava. Agora que o mistério de Bianca tinha se resolvido, pelo menos em parte, eu tinha que me concentrar no que Isabel havia me dito. Sara estava em perigo e eu tinha obrigação de ajudar, afinal, ela era minha irmã mais nova e, entre todas as irmãs mais novas que eu tinha, era a que eu mais gostava.
  Fechei meus olhos com força e consegui obrigar minha cabeça a esquecer dos problemas por um minuto, assim eu conseguiria dormir. E eu consegui.

  Me vi de repente no meio de uma rua em Portugal. Eu tinha certeza de que ali era Portugal, mas eu não sabia bem porque. Não havia ninguém comigo, eu estava completamente sozinho, não havia ninguém na rua e nem mesmo nas lojas e casas. Eu estava parado na frente de um prédio alto, parecia ser velho pois a pintura estava desgastada e as portas e janelas estavam caindo aos pedaços.
  - É ali que ela mora.- Eu não via ninguém, mas eu sabia que Isabel era quem estava falando comigo e ela se referia a Sara.
  - Ali? Que lugar estranho.
  - Sim. O pai dela esta muito doente, teve que parar de trabalhar e não pode pagar nada de... melhor.
  - Pobre Sara, sempre acostumada com o bom e o melhor.
  - Sim, ela sentiu um choque muito grande com toda essa mudança. Eu venho observando vocês desde que voltaram da Transilvania. Você eu sei que sabe se virar, mas Sara ainda precisa da nossa ajuda.
  - Isabel, eu não sei se consigo sozinho.
  - Mas você não esta sozinho.- Agora eu conseguia ver os lindos e longos cabelos negros flutuando ao meu lado. Era horrível a ideia de que eles eram a penas uma ilusão, que se fossem tocados desapareciam. - Você tem Bianca e você tem a mim.
  - Mas você esta... esta ai, do outro lado.
  - Felipe, você fala como se uma simples barreira entre a vida e a morte fosse nos separar. Não vai se livrar de mim assim tão fácil.- Ela riu, mas eu não achei graça nenhuma, eu não queria me livrar dela, queria que ela voltasse.- Eu estou brincando. Veja bem Felipe: em Veneza existe uma mulher que pode me trazer de volta por alguns dias, mas para isso algum vivo tem que ir até lá e pagar.
  - Não tenho dinheiro o bastante.
  - Ela não quer dinheiro, ela quer um pagamento em poder. É como uma troca, Bianca sabe como fazer.
  - E você acha que ela vai até Veneza comigo para fazer você voltar da morte? Isabel, vocês se odeiam, esta lembrada? Ela nunca vai me ajudar a salvar você.
  - Você não vai até Veneza pra me salvar, vai até lá para que eu te ajude a salvar Sara.
  - E quem vai convencer ela? Com quais argumentos? E quem vai pagar toda essa viagem, pra Itália e depois para Portugal?
  - Você vai ver. Só fale com Bianca, esta bem? Agora que o assunto esta encerrado, vou deixar você entrar rapidamente no prédio e dar uma olhada, esta bem? Mas seja rápido.
  - Certo, serei rápido.- Eu subi alguns degraus e abri a velha porta do lugar.
As escadas eram feitas de madeira e assim que subi o primeiro degrau, ele rangeu e um pequeno pedaço dele se quebrou. Pelo visto não era um lugar muito seguro. Resolvi não me arriscar e sair logo dali, eu já tinha visto o suficiente por um sonho.

  - Bom dia, Lipe!- Gritou Marina no meu ouvido.
  - Ta feliz?- Perguntou Heloísa ao seu lado.
  - Feliz?  Feliz por que?
  - Felipe, o que esta acontecendo com você meu filho? Hoje é dia 9 de abril, lembra? Seu aniversário de 14 anos.- Meu Deus, como eu havia esquecido do meu próprio aniversário? Eu estava mesmo sobrecarregado de problemas, tantos que eu havia me esquecido completamente do meu aniversário.
  - Sim mãe, é claro, é claro que é por isso. Bem, eu... eu estou feliz sim, estou muito feliz.
  - É claro que esta. Olhe, eu vou sair com as meninas e seu pai, se você quiser ir também pode ir, se não quiser pode ir para a casa de Bianca, ou de algum de seus amigos. Vítor por exemplo, faz um bom tempo que você não o visita.- A verdade era que eu e Vítor havíamos brigado por causa de um jogo de basquete há algum tempo e, mesmo que já tivéssemos feito as pazes, ainda não nos falávamos tanto quanto antes e a ideia de que Isabel tinha morrido só para salva-lo me irritava profundamente.
  - Eu vou até a casa de Bianca, pode ser? Temos um trabalho pra fazer e...
  - Ta bom, tchau.- Foi tudo o que a minha mãe disse antes de sair do quarto e me deixar sozinho ali.
  "Ótimo, agora eu tenho 14 anos e uma viagem marcada para Veneza. Pareceria ótimo se não fosse tão perigoso." foi o meu primeiro pensamento decente com 14 anos. Eu não me sentia nem um pouco diferente, nem um pouco mais velho, nem um pouco mais maduro e nem um pouco pronto para resolver meus problemas.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

7- Ideias difíceis de aceitar

  - Como você descobriu?- Perguntou Bianca, depois de parar de fingir que o que eu estava dizendo era loucura.
  - Isabel.
  - Aquela vampira...
  - Sua irmã. Não diga nada.
  - Ela te contou isso também? Era um segredo de família.
  - Vocês são irmãs. Por que nunca me contou? Quer dizer, você sabia de tudo, não é? Bruxas conseguem saber dessas coisas.
  - Ainda sou aprendiz, esta bem? E, era um segredo, eu nunca poderia te contar. Isabel também não, nem mesmo meu pai sabe sobre isso.
  - Ele não sabe que você tem uma irmã?
  - Não, ele acha que sou filha dele, e eu realmente me considero, não gosto de ser filha de um assassino.
  - Entendo. Então seu pai também é um bruxo?
  - É sim, meus pais são, minha família toda é, com exeção do infeliz do meu pai e da família dele, que inclui Isabel.- Certo, retiro o que disse sobre a família de Bianca ser a família dos meus sonhos, eles tinham mais problemas do que imaginei. Uma pena, se eles fossem normais seria uma família incrível.
  - Não tenho mais perguntas, é melhor irmos para casa, o professor deve achar que ainda estou na enfermaria.- Eu me levantei e caminhei até a sala de aula. Bianca veio atras de mim, mas não disse uma única palavra até chegarmos a porta da sala.
  - Olha Felipe, isso é um grande segredo, esta bem? Eu estou tentando ser só uma garota normal, sem usar feitiços para melhorar minha vida.
  - Não se preocupe, eu sei guardar segredo, guardei o de Isabel por um bom tempo, não é? Ate você resolver descobrir, mas pensando bem, eu nunca contei para ninguém.
  - E eu espero que guarde o meu d mesmo jeito.
  - Pode deixar, não tenho ninguém para contar mesmo.- Eu abri a porta da sala, pedi licença e nós dois entramos e nos sentamos em nossos devidos lugares.
  Mais uma amiga sobrenatural. Talvez eu não demorasse tanto para me acostumar com isso, mas com a ideia de que Isabel e Bianca eram irmãs, isso sim seria difícil de entender. "Eu achava que as duas eram filhas únicas, e ai descubro que as duas tinham uma a outra como irmã" aquele pensamento confuso não saía da minha mente. Era estranho imaginar Bianca como filha do pai de Isabel, se fosse ao contrario seria mais fácil aceitar.
  Tentei prestar atenção nas aulas, mas era mais difícil do que eu imaginei. Parecia que alguma coisa me impedia de fazer o que era certo. Talvez fosse eu mesmo.
  Tudo o que eu mais queria naquele momento era ir para minha casa e colocar minhas ideias no lugar. Talvez eu conseguisse falar com Isabel de novo se pegasse no sono, mas só tinha uma maneira de descobrir.
  Assim que a aula acabou, sai correndo da escola e voltei para casa. Nem mesmo me despedi de Bianca o que, mais tardem percebi ter sido um erro. Mas eu precisava ir para casa, precisava assistir televisão, ficar um pouco sozinho. Na verdade, eu precisava falar com Isabel.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

6- O problema deve ser comigo

  - Bruxinha irritante.- Murmurou Isabel, sentada ao meu lado.
  - Bell? O que você... Estou sonhando?
  - Sim, esta sim.
  - Espere ai, você disse "Bruxinha irritante"?
  - Sim. Sua amiguinha Bianca, ela não te contou?- A última coisa de que me lembrava era que Bianca e eu estávamos sentados em um banco, ela prometeu responder a todas as minhas perguntas, as de repente tudo ficou escuro e agora eu estava ali, sonhando. O que era aquilo?
  - Bruxa? Ela é uma bruxa?
  - Não, ela é uma bruxinha, é inexperiente e jovem demais para ser uma bruxa. E, agora, vou repetir: ela é uma bruxinha irritante.
  - Certo, qual o meu problema? O problema só pode ser meu, se o que você esta me dizendo for verdade, minhas duas melhores amigas são seres estranhos: uma é uma "bruxinha" e a outra uma "vampirinha". Então o problema só pode ser meu.
  - Realmente não sei qual o seu problema, Felipe. Pra mim, você não tem problemas.
  - Esta bem, as coisas já estão esquisitas mesmo, então vou perguntar logo: por que você tem tanta raiva dela?
  - Você sabe, coisa de irmã.
  - Irmã? Isabel, você ouve o que fala? Bianca é sua irmã?
  - Infelizmente, temos essa pequena aberração na família. Ela é minha irmã por parte de pai. Nascemos na mesma época e, desde então, minha mãe criou um ódio sobrenatural contra a mãe dela e eu contra ela.
  - Então o pai dela... não é pai dela?- As palavras que saiam da minha boca não faziam nenhum sentido. O que era aquilo? Por que eu nunca soube que elas eram irmãs? Elas podiam ser irmãs? Por mais estranha que fosse a ideia, ela esclarecia muitas coisas.
  - Pode até ser, pai de criação, sabe como é. Mas, se você ficar quieto vai ser bom para todos nós.
  - Certo, calma, muita calma nessa hora, vamos rever os fatos: o seu pai também é pai de Bianca o que, consequentemente, torna vocês irmãs.
  - Até ai esta certo.
  - Ta, mas a mãe de Bianca é uma bruxa. E a sua mãe era uma vampira. E elas se odiavam.
  - Pode ser, pode ser assim.
  - E por isso você odeia a sua irmã. É piada, não é?
  - Felipe!
  - Ora, por favor Isabel. Você nunca tentou ser amiga dela? Vocês devem ter muitas coisas em comum.
  - Não me ofenda, assim parece que você quer que eu e ela tenhamos alguma coisa de parecido.- Ela empinou seu nariz perfeito e revirou os brilhantes olhos azuis.- Só porque somos irmãs, não quer dizer que somos parecidas.
  - Você nunca considerou a possibilidade, não é?
  - E porque consideraria? Ela é uma bruxinha, eu sou uma vampira, não temos nada em comum.
  - Posso comentar isso com Bianca?
  - Desde que meu nome não apareça na conversa como quem te contou, pode sim. Mas agora é melhor você ir indo, até mais.

  Abri os olhos devagar. Era estranho que alguém dentro do meu sonho estivesse ma dizendo a hora de acordar, mas vindo de Isabel me parecia bem normal. Olhei em volta, eu estava na enfermaria da escola, havia uma enfermeira ao meu lado e uma outra falando com uma garota de cabelos cacheados: Bianca.
  - Eu não sei, ele desmaiou de repente. Provavelmente estava com fome.- Eu consegui ouvir Bianca dizer para a enfermeira.
  - É, mas agora estou bem, não é?- Falei levantando da maca e fazendo minha melhor cara de "saudável".- Nós temos muito o que conversar, não é?- Eu cheguei mais perto e sussurrei em seu ouvido- Bruxinha.

5- Como existem pessoas que sabem mais do que conseguem?

  - Posso entrar?- Perguntei a professora enquanto estava parado na porta da sala de aula. Ela olhou para o relógio no seu pulso e torceu o nariz.
  - Você já esta aqui mesmo, não é? Entre e me deixe continuar minha aula.- Eu entrei e me sentei no meu lugar.
  - Oi.- Falei baixinho, com a intenção de que apenas Bianca ouvisse, mas ela não respondeu.- Oi.- Repeti, um pouco mais alto, mas ela ainda não respondia, parecia estar me ignorando.- Não vai mais falar comigo agora? Só porque ouvi a conversa que teve com seu pai?- Certo, aquilo foi um pouco mais alto do que eu esperava e toda a sala parou de conversar para olhar para mim. Mas, pelo menos, agora Bianca não podia mais me ignorar.
  - Falo com você no recreio, pode ser? Nós não queremos atrapalhar a aula mais do que você já fez questão de atrapalhar.- O rosto dela estava ficando vermelho como uma cereja, o que me fez dar um leve sorriso, e ela ficou ainda mais nervosa.
  - Que foi? É engraçado quando você fica vermelha assim.
  - Engraçado vai ser a briga que vamos ter seu melhor amigo espião!- A turma inteira estava formando uma pequena roda em volta de nós dois, como se esperassem uma boa briga dentro da sala. Eu não queria brigar com minha melhor amiga, mas ela estava com muita raiva de mim, se não fosse a professora interromper teríamos uma briga feia dentro de alguns segundos, mas a professora salvou, por mais algum tempo, a nossa amizade.
  - Certo crianças, já chega, por que não conversam no recreio? Vai ser muito melhor para todos. E, por favor, mantenham-se vivos. Agora, se me dão licença, vou terminar minha aula.- E assim foi, até a hora do recreio não nos falamos, os professores entravam e saiam da sala e davam suas aulas, as quais eu não conseguia prestar atenção. "Mais um problema! Por que ela é tão explosiva?" era a única coisa que eu conseguia pensar. Isabel nunca faria isso, ela não era explosiva, não escondia nada de mim, eu queria muito que ela ainda estivesse ali. Não que eu não gostasse da amizade de Bianca, mas com Isabel era diferente, era uma amizade mais intensa, não era assim com Bianca, ela era muito explosiva, qualquer coisa era motivo para gritos e brigas. Não era fácil ser tão amigo de alguém assim.
  O sinal do recreio tocou e Bianca saiu como um foguete pela porta. Corri o máximo que consegui e mais um pouco para alcança-la e consegui. Segurei um dos seus braços com força e a obriguei a parar.
  - O que é? O que é dessa vez? Vai falar mais alguma coisa?
  - Vou.
  - Ah vai? Pois então diga, quero ver quanto tempo vai durar depois.
  - Vim pedir desculpas, esta bem? Mas é que é difícil conviver com você, Bia.
  - Então volte pra Isabel, aposto que o túmulo dela vai ser um ótimo lugar e o fantasma da vampirinha um grande amigo.
  - Vampirinha? Como assim?- Ela sabia? Isso não era possível. Eu nunca tinha dito nada sobre isso, nunca tinha nem insinuado algo parecido, como ela sabia?
  Bianca apertou os lábios e fechou os olhos fortemente, em seguida, resmungou algo como "OPA" e continuou:
  - Eu... eu tenho que ir, Felipe, não estou me sentindo bem e...- Eu apertei o braço dela com mais força.
  - Não, não, não mocinha. Agora você vai me dizer tudo o que sabe e como sabe. Vou tolerar a crítica que você fez de Isabel, mas é melhor que você me diga alguma coisas.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

4- Mais um sonho, mais um mistério

  Voltei para casa com uma saco de pães de trigo na mão e com meu pensamento na conversa que eu havia ouvido há alguns minutos. Sobre o que eles estavam falando? Por que eu não podia saber? Eram muitas perguntas para minha cabeça.
  Coloquei os pães em cima da mesa da cozinha e fui para o meu quarto. Já estava ficando tarde e eu precisava descansar, colocar as ideias no lugar e tentar esquecer daquele dia. Nem troquei de roupa, simplesmente deitei a cabeça no meu traveseiro e dormi, quase que instanteaneamente.

  -Felipe!- Chamou uma voz em meio a escuridão.- Felipe! É você!?
  - Sou.- Respondi, mesmo que eu não conseguisse ver ninguem naquela escuridão. Algum tempo se passou, eu não conseguia saber exatamente quanto tempo, mas deveriam ser alguns minutos, até que uma luz branca surgiu ali.
  - Finalmente consegui! Consegui que você estivesse aqui comigo!- Agora eu já reconhecia a voz: Era Isabel, minha falecida amiga.
  - Isabel!- Eu corri em direção a luz, mas quando tentei tocla, minha mão atravessou o corpo levemente transparente de Isabel.
  - O que aconteceu com você, hã? Não sabe que não pode tocar um fantasma?
  - E você é um fantasma?
  - Bem, tecnicamente sim, estou morta e você esta me vendo, então sou um fantasma, certo?
  - E eu? Estou morto também?- Agora eu estava reralmente confuso. Eu sabia que estava sonhando, mas era como se ainda estivesse acordado, eu conseguia sentir tudo, ouvir cada palavra que ela dizia como quano ela estava viva.
  - Não, você não esta morto! Ai Felipe, as vezes eu acho que tenho que te ensinar tudo! Não tenho muito tempo, esta bem? Vamos direto ao ponto: Sara precisa da sua ajuda, ela vai tentar fazer uma loucura, você tem que ancontra-la.
  - Sara? Ela ainda é muito pequena para fazer alguma coisa perigosa, não é?
  - Não a subestime. Sara é mais forte e mais determinada do que você pensa, ela quer vingar minha morte, aprendeu a se comunicar com os mortos e agora esta bolando um plano para voltar para a Transilvania e acabar com a Ordem. VocÊ não pode deixar que ela faça isso.
  - Como você quer que eu a impessa? Ela esta em Portugal com o pai. Não vou conseguir ir até lá. E tenho outras coisas para resolver por aqui.
  - Ah, é claro que tem, Bianca, não é?- Ela levantou as sobrancelhas como se esperasse uma resposta imadiata. Eu não respondi. Como ela sabia sobre Bianca? Ela já estava morta quando conheci Bianca.
  Isabel revirou os olhos e murmurou alguma coisa sobre como ela conseguiu sobraviver. Será que elas se conheciam?
  - É, tenho que resolver algumas coisas com Bianca também.
  - Sim, é ótimo ser substituida tãoi rapidamente, obrigada por perguntar!- Disse Isabel ironicamente.- Agora vamos ao que interessa...
  - Você não foi substituida.
  - Oh não, imagine.- Aquele tom ironico que ela usava quando estava irritada estava começanndo a me irritar.- Nem uma semana depois da mionha morte você já encontra uma nova melhor amiga.
  - Isabel, eu não vou ficar aqui descutindo a minha vida com um fantasma! Vamos, me tire daqui, diga logo o que tem que dizer e me tire logo daqui.
  - Não precisa, você esta ocupado demais com Bianca para poder se preocupar com Sara. Que ótimo irmão você é! Não vou mais perder mau tempo te procurando, não vou mesmo.- Ela virou as costas e desapareceu, me deixando sozinho naquela escuridão.
  Eu ainda estava um poco irritado, mas Isabel e Sara tinham me ajudado muito, uma delas tinha dado sua vida por mim. Talvez eu tivesse sido duro demais com Isabel.
  - Isabel!- Chamei, na esperança de que ela voltasse com aquele belo sorriso no rosto.- Isabel!- Nada aconteceu, aquela luz não voltou.
  Mas, de repente, o cenario mudou. Eu estava em um quarto todo cor de rosa, cheio de ursinhos de pelúcia e bonecas espalhados por todos os lados. Em  cima da cama havia uma menina com cabelos claros e olhos azuis. Ela parecia estar conversando com alguem, ou com alguma coisa.
  - Não, ela esta morta mesmo, eu tenho certeza, eu a vi morrer, mas não consigo falar com ela.
  - Ela não deve querer falar com você.- Disse uma voz masculina. Era forte, parecia ser de uma homem adulto. Eu conhecia aquela voz, só não sabia de onde.- Mas, veja, é um ótimo plano, se você acabasse com a Ordem, provavelmente eles devolvriam a sua amiga.
  Que besteira era aquela? Devolver Isabel? A Ordem nunca faria isso, eles são trapaceiros sem coração. Eu tentai dizer alguma coisa, tentei gritar não emandar Sara não ouvir aquele estranho e indefinido vulto, mas as palavras não saiam da minha boca, era como se eu estivesse mudo.
  - É agoniante, não é?- Perguntou Isabel atras de mim. Ela já pareca mais calma, talvez porque nunca houvesse sido uma pessoa que guardava rancor.
  - Então eles estão tentando obriga-la a destruir a Ordem?- Ela assentiu.- Quem é aquele?
  - Radu, irmão mais velho do Conde Drácula.
  - O Conde Drácula ainda esta vivo?
  - Não, mas eles mantem esse nome por uma questão de tradição. Vampiros são muito tradicionais. Mas, de qualquer forma, Radu foi condenado a morte por seu irmão, não sei bem o que ele fez de tão errado, mas é por isso que esta morto, e ele guarda uma raiva enorme do irmão.
  - E o que Sara tem a ver com isso?
  - Existe uma profecia antiga que fala sobre "a jovem destruidora da Ordem". Pelo o que eu percebi, Radu acha que Sara pode ser essa garota, porque ela tem força de vontade e as razões necessarias para fazer isso, por esse motivo ele esta tentando influência-la. Ela ainda é pequena e fraca, mas com um pouco de treino e com o tutor certo vai se tornar uma arma poderosa. Você não pode deixar que o tutor seja Radu, ela ia destrui-la.
  - E como posso vazer isso?
  - Você tem que...

  O barulho do despertador ecoava em minha cabeça. O que Isabel tinha tentado me dizer? Por que as coisas não podiam ser mais simples? Agora eu tinha dois mistérios para resolver, mas antes era melhor eu me apressar, já estava atrasado para a escola.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

3- Padarias são ótimos lugares para se descobrir coisas

  Como eu já esperava, sai da casa de Bianca completamente machucado e sem saber andar de bicicleta. Eu não conseguia aprender, me parecia muito difícil pensar no equilíbrio e nos pés ao mesmo tempo. E no dia seguinte, Bianca já havia me avisado, ela ia continuar me ensinando até eu aprender. Será que era muito difícil entender que esportes não eram a coisa que eu mais gostava? Era só olhar para minhas notas em educação física que já se percebia isso.
  Entrei em casa sem ninguém me ver. Heloísa estava indo para a escola durante a tarde agora e Marina estava dormindo, meus pais estavam trabalhando, então realmente era difícil que alguém me visse ali. Me arrastei até o banheiro e tomei um banho gelado. Aquele tinha sido o dia menos divertido que eu passara com Bianca.
  - Felipe, é você?- Chamou minha mãe de dentro do escritório.
  - Não mãe, é o Bicho Papão.- Falei ironicamente.
  - Não brinque comigo, Felipe.
  - Se você sabe que sou eu, por que pergunta?
  - Porque quero uma resposta concreta.
  - Esta bem então: sim mãe, sou eu.
  - Ótimo, agora vá comprar pão. Tem dinheiro em cima da mesa da cozinha. E não demore,  sua irmã vai acordar logo e vai querer comer alguma coisa.- Revirei os olhos e murmurei algumas reclamações, mas acabei por pegar o dinheiro e sair de casa. Qualquer coisa para ficar longe da minha irmã.
  Caminhei o mais devagar possível até a padaria da esquina. Além de todos os arranhões que eu havia conseguido na tentativa de aprender a andar de bicicleta e do cansaço que eu sentia, eu ainda estava sem a menor vontade de voltar para casa, por isso pretendia demorar o máximo possível na padaria e levar o máximo de tempo para chegar até lá. Era um plano bem comum, que eu costumava usar com frequência, mas que sempre funcionava.
  Fui com olhando as árvores, cumprimentando os vizinhos e ouvindo o canto dos pássaros, simplesmente aproveitando meu tempo fora de casa. Depois de mais ou menos 15 minutos, cheguei a padaria. O lugar estava quase vazio, com aquela mesma cara de abandonada e a mesma pintura gasta que a padaria sempre teve. Eu havia passado a minha vida indo e vindo daquele estranho lugar, os donos me conheciam muito bem e sempre me cumprimentavam quando eu passava por ali.
  Parei ao lado da porta e esperei um pouco. Eu gostava de entrar quando o lugar estava vazio, assim eu podia demorar mais nas conversas. Pelo que eu estava ouvindo, havia alguém mais além dos donos da padaria ali dentro.
  - Pai, mais cedo ou mais tarde vou ter que contar pra ele!- Disse a voz de uma garota, devia ter mais ou menos a minha idade.
  - Não minha filha, é melhor não. Sei que ele é seu amigo, mas temos que manter este segredo, esta bem?
  - E eu tenho escolha? Só queria que meus amigos pudessem saber quem sou.- Aquela voz me parecia muito familiar, por isso resolvi me esconder e esperar que eles saíssem da padaria. Quem será que escondia um segredo? Minha curiosidade queria saber.
  Eles passaram mais alguns minutos dentro da loja até que finalmente saíram. Era uma garota de cabelos castanhos, pele bronzeada e olhos castanhos: Bianca. O que ela estava escondendo? Por que ela não podia contar para mim ou para quem quer que fosse? Eu só esperava que não fosse nada grava, nada como o que Isabel havia me contado há mais ou menos três meses. Aquilo não era nada bom.
  Dei um passo para trás, com a intenção de sair dali sem que Bianca ou seu pai me vissem, mas meu plano foi destruído por uma latinha de refrigerante que estava bem atras de mim e que, por coincidência, eu acabei esmagando com um dos pés e fazendo um barulho alto.
  - O que foi isso?- Disse Bianca se virando na minha direção e indo até a origem do som.
  "Mas que droga!" pensei "tenho que dar um jeito de sair daqui sem ela me ver". Mas já era muito tarde.
  - Felipe?- Perguntou ela parada na minha frente e olhando fixamente para os meus olhos.- O que você esta fazendo ai?
  - E- e- eu vim... er... vim... comprar pão. É, foi isso que eu vim fazer.- Eu estava convencido com a minha resposta, mas Bianca parecia estar longe de aceita-la.
  - E por que você esta escondido ai?
  - Estou esperando os clientes saírem para poder conversar com o dono da padaria. Somos grandes amigos, sabe?- Ela hesitou por alguns segundos antes de responder:
  - Bem, neste caso, você já pode entrar. Eu e meu pai éramos os únicos clientes. Até mais.- Ela se virou e deu alguns passos na direção do pai.- Hã.. Felipe.- Ela estava virada para mim agora.
  - Que foi?
  - Eu tenho que te...- Ela olhou para o pai que retribuiu com um olhar de desaprovação.
  - Você tem que...
  - Tenho que... que te dar tchau. Tchau.- Ela me deu um beijo rápido no rosto e continuou seu caminho até o pai. Eles foram embora e eu entrei na padaria para comprar os pães. O que Bianca estava escondendo? Por que o pai dela não a deixava contar? Aquilo estava me incomodando e por isso eu tinha que descobrir o que era. Tinha que ter certeza de que, dessa vez, minha melhor amiga era simplesmente humana.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

2- Bicicleta não é minha área

  - Rufos, Babaloo! Eu não posso tirar os olhos por um minuto de você destroem tudo?- Perguntou Bianca para seus dois rottweilers.
  Eles eram muito grandes, tinham dentes que me faziam tremer só de olhar, até porque depois da viagem para a Transilvania eu havia ficado um pouco traumatizado com dentes afiados, e os cães poderiam acabar comigo em uma única mordida. Mas os dois irmãos eram muito menos ferozes do que aparentavam, eles eram muito bagunceiros e destruíam tudo o que viam pela frente, e desta vez não fora diferente: a casinha de cachorro havia sido completamente desintegrada.
  Os cães olhavam para Bianca com os curtos rabos entre as pernas. Eles sabiam que ela não era muito caridosa, mas com eles era muito mais paciente do que com algumas pessoas.
  - Esta bem, seus cãesinhos levados, mas não façam de novo, esta bem? Minha mãe não vai gostar de ver isso aqui, tenho que esconder, vamos, me ajudem antes que ela apareça!- Os cachorros abanaram os rabichos, colocaram as línguas rosadas para fora e pularam em volta de sua dona como gazelas. Era um cena divertida e talvez uma das que eu mais gostasse de ver ali naquele lugar.
  Bianca se abaixou para ficar na altura de Rufos e acariciou sua cabeça. Ele a abaixou de forma que seu queixo quase tocasse o chão e ficou alguns minutos assim. Depois deu outro pulo repentino e voltou a saltitar com sua irmã. Aqueles dois me faziam ter vontade de ter um cachorro, mas meus pais nunca deixariam.
  Ajudei Bianca a esconder os restos de madeira que ainda estavam no chão e a dar comida para os cães. Ela era uma dona realmente muito boa para seus cachorros, era a melhor dona que eu conhecia, todos os dias ela saia para correr com os dois, ela e o pai. Algumas vezes eu até ia junto, mas só quando meus pais saiam com as minhas irmãs e demoravam para voltar. Eu adorava esses dias, Eduardo, o pai de Bianca, era muito divertido, Melissa, a mãe dela, era incrivelmente amiga da filha e Bianca, a partir do momento que a conheci, era minha melhor amiga. Aquela era a família que eu sempre sonhara em ter.
  Nos despedimos de Babaloo e de Rufos e voltamos para dentro de casa. Eu e Bianca tínhamos um dom incrível para diversão, sempre encontrávamos um novo jeito de melhorar o dia.
  - Vamos andar de bicicleta?- Perguntou ela antes mesmo que eu tivesse tempo de pensar.
  - Bicicleta? Bem, eu não sei não...
  - Por que não? É divertido e saudável, venha, vamos pegar as bicicletas, te empresto a minha e vou com a da minha mãe.
  - Bianca é que eu... eu não sei andar de bicicleta.
  - Não sabe? Isso é terrível! Por que? Olha, não importa, vou te ensinar, pronto, encontramos alguma coisa para fazer hoje! - Ela sorriu. O sorriso era a única coisa nela que me fazia lembrar Isabel.
  - Tem razão Bell...
  - Bia, Felipe, Bia, não sou a Isabel, realmente não sou.
  - Desculpa Bia, você sabe, é o seu sorriso.
  - Vou ficar sem sorrir agora? Ora essa, venha, vamos pegar as bicicletas.- Ela saiu na minha frente. Eu sabia que ela não gostava quando eu a confundia com Isabel, mas era muito difícil não fazer isso, eu tentava, só que aquele sorriso me impressionava.
  Por que será que Bianca ficava tão nervosa quando eu a confundia com minha falecida melhor amiga? As vezes ela me assustava com algumas atitudes estranhas, eu ficava pensando se ela não era algum tipo de ser estranho como Isabel. Mas Bianca parecia tão humana... Será que ela poderia ser alguma coisa além disso? Ou a minha imaginação ainda estava me pregando peças? Era difícil responder, mas alguma coisa me dizia que a minha imaginação já havia se recuperado do choque.

1- Torradas com mel e leite

Bianca e eu saímos da escola o mais rápido possível, como sempre. Ela era muito mais rápida que eu e muito mais determinada, por isso era sempre a primeira a chegar ao nosso destino: a sorveteria Gelo Bom que havia aberto perto da escola há um mês. Depois que descobrimos aquele lugar, passamos a ir lá todos os dias após a aula, o verão estava muito quente naquele ano e as variedades de sorvetes no buffet era enorme.
  Tentei alcançar Bianca, mas não consegui, quando cheguei a sorveteria ela já estava lá dentro, sentada, com uma taça de sorvete nas mãos. 
  - Como você é lento, Felipe.- Comentou ela sem tirar os olhos do sorvete amarelo e que, pelo jeito, estava muito gelado.
  - Você sabe disso. Mas, se fosse Isabel ela me deixaria ganhar.- Já fazia quase um ano, mas era difícil para mim esquece-la. Bianca sabia de quase toda a história, sabia que tínhamos ido para a Transilvania e que ela tinha  morrido na minha frente, mas ela não sabia nada sobre os vampiros, achei melhor que ela não soubesse de nada.
  - Deixaria sim, mas como você mesmo diz: sou muito diferente dela. Agora vá pegar um pouco de sorvete que já esta me deixando agoniada de ver você ai parado.
  Se tinha uma coisa que eu havia aprendido nos três meses que passei com Bianca era que não era muito inteligente desobedece-la. Ela tinha uma personalidade forte, não gostava de ser contrariada e tinha ótimos argumentos, mas também tinha muita influência para convencer qualquer um de que eu era o malvado. Eu larguei minha mochila na mesa e fui para o buffet me servir. Peguei um pouco do de chocolate e um pouco do de creme, para variar. O caixa me cobrou e me sentei com minha amiga novamente.
  - E então, de que é esse seu sorvete amarelo?- Perguntei tentando puxar assunto.
  - De manga. Você sabe, tenho um gosto estranho.- Ela colocou uma colherada de sorvete na boca, mas não parecia estar muito feliz com o gosto.- Ele é... diferente.
  - Você quer dizer que não gostou do sabor?
  - Não, só quis dizer que é um gosto diferente, mas que gosto de inovar e coisas novas são ótimas pra mim.- Ela não ia admitir que não havia gostado, então resolvi saborear meu clássico sorvete de chocolate sem me preocupar muito com o que ela estava pensando. Ela era realmente muito legal.
  Assim que gastamos todo o nosso dinheiro em sorvete e doces, fomos para a casa de Bianca. Desde que eu a conhecera, já quase não ficava na minha casa. A família dela era muito unida e nada do que ela dizia era um motivo para brigas, apenas para elogios e as famosas "criticas construtivas". Eu gostava de estar lá, era bom saber que nem tudo estava perdido e que nem todos os pais eram como os meus. 
  O pai de Bianca era artista plástico e sua mãe era estilista, os dois estavam sempre em casa, desenhando alguma coisa nova, criando um mundo novo a cada toque do lápis no papel. Bianca tinha herdado esse talento deles, ela desenhava paisagens como ninguém, eram quase como fotografias, realmente maravilhosas. 
  A casa dela era um pouco mais longe da escola do que a minha, mas íamos conversando e isso sempre fazia o tempo passar mais rápido, e mesmo que eu fosse sozinho, a casa dela era tão revigorante que valia a pena caminhar até lá. 
  O muro de tijolos a vista escondia o andar térreo da casa e as folhas de hera escondiam o muro, o que fazia com que quase não se conseguisse vê-lo. A casa era grande, tinha 2 andares, 5 quartos, 2 escritórios, 4 banheiros, cozinha e uma sala, que era tão bem decorada que não parecia ser realmente de uma casa, parecia mais o hall de um hotel. 
  Nós fomos até o quarto dela e deixamos as mochilas lá, em seguida descemos as escadas e fomos até a cozinha, da onde vinha um cheiro maravilhoso de bolo de chocolate. Se tinha uma coisa que o pai de Bianca sabia fazer era cozinhar. Ele estava sempre inventando alguma coisa nova, sempre um prato diferente para surpreender os convidados, ele dizia que se não criasse coisas novas as pessoas não iam mais querer comer nada do que ele fizesse. Eu não concordava, porque nunca me enjoava de nenhum dos pratos dele.
  - O que vamos ter hoje, pai?- Perguntou Bianca já sentando na mesa.
  - Primeiro vocês vão enganar o estômago com algumas torradas com mel e leite, depois vamos ter bolo de chocolate. Mas ainda não esta pronto.
  - Esta bem.- Ela pegou uma torrada e um copo de leite que estava em cima da mesa. 
  - Felipe, você vai ficar em pé?- Perguntou ele.- Ora, pegue algumas torradas e um copo de leite, o bolo não demora para ficar pronto.- Ele puxou uma cadeira para mim e me deu uma torrada. Me sentei e ele comentou:- Leite, torradas e mel. Não é engraçado como as coisas às vezes parecem tão claras e tão próximas?
  As vezes eu não entendia exatamente o que ele queria dizer com certos comentários, mas com certeza tinham algum significado. Ou talvez fossem apenas comentários. Isso não me importava muito, eu simplesmente esqueci o que ele havia dito e comi minha torrada com mel e tomei meu copo de leite. Em quinze minutos o bolo estava pronto e eu, Bianca, o pai e a mãe dela estávamos sentados à mesa comendo o melhor bolo de chocolate que eu já havia experimentado. O dia estava indo muito bem, muito melhor do que o esperado. Ter uma vida normal de novo era bom, mas eu ainda sentia falta da antiga vida cheia de aventuras que eu tinha, sentia falta de Isabel.

domingo, 17 de outubro de 2010

Um pouquinho sobre mim...

Quem sou eu? Bem, é uma pergunta difícil já que eu sou apenas uma garota comum com mania de escrever. Mas, vamos lá: sou uma menina de 13 anos que ama os amigos, é apaixonada pela família e não trocaria isso por nada no mundo. Claro que minha vida não é perfeita, e por isso escrevo, porque todos os meus personagens são ramificações de mim mesma. Claro, eu nunca vivi nada do que narro na história, mas escrever me faz feliz, me faz sentir que todos os meus problemas (que com certeza são poucos, comparado com os de outras pessoas) desaparecem quando eu crio uma história. "Tem alguma coisa mágica em escrever as primeiras palavras de uma história, a gente nunca sabe para onde ela vai nos levar". Amo essa frase, me identifico muito com ela e concordo plenamente. As vezes, a história toma um rumo completamente diferente do que você imaginou, mas fica ainda melhor, mais cativante, mais "vivenciavel".
  Uma amiga minha, uma vez, me perguntou como eu fazia para escrever assim. A resposta é que eu não sei, as palavras simplesmente saem, eu não escrevo com a cabeça, escrevo com o coração, por mais que as vezes não fique o que as outras pessoas querem ler, as vezes não é o que eu quero ler, mas é muito importante para mim ter aquele momento, aquele aonde eu posso parar e transformar todos os meus sentimentos em palavras. É algo... mágico. Mas eu não concordo com quem diz que eu escrevo bem, para mim é tão fácil escrever assim que eu admiro outros escritores, como a minha amiga Sabrina Iara Cardoso, a melhor escritora que eu já conheci, ou talvez o meu amigo Vítor Duarte, em quem um dos personagens principais foi inspirado.
   Se algum dia eu fosse escrever uma dedicatória para essa história, eu dedicaria para quatro pessoas em especial: Sabrina, que me influenciou a escrever, a Maria Thereza, que me obrigou a continuar, ao Vítor, que me ajudou a criar a história e a minha mãe que sempre me ajudou com o meu "vício" e meu sonho impossível de escrever um livro. E, é claro, um obrigada especial a minha gata Agatha que sempre estava deitada no meu lado enquanto eu escrevia. Então, como eu acho que esse livro nunca vai sair do papel, vou fazer o seguinte:
  Obrigada a todos vocês!
  Pronto, consciência limpa. Agora, é melhor parar de falar de mim.
  Só mais um último pedido: comentem, tenho que saber o que quem lê acha da história.

18- Recomeço



  Acordei no outro dia achando que tudo aquilo fora só um sonho, mas então vi uma foto de Isabel e eu no meu criado mudo. Eu nunca mais veria minha amiga novamente.
  Coloquei o uniforme e caminhei sozinho até a escola. Eu estava pensando em muitas coisas ao mesmo tempo, estava pensando em tudo o que eu poderia ter feito e não fiz, fiquei me culpando por não ter impedido ela de fazer aquela besteira, me culpei por ter aceitado aquela viajem. Se nós não tivéssemos feito ela, Isabel ainda estaria ali quando eu chegasse na escola, sentada no seu banco favorito, lendo um livro ou falando com algum amigo, mas ela estaria ali, eu poderia abraça-la ou simplesmente ver o seu lindo sorriso.
  Entrei na escola, me sentei naquele mesmo banco do dia em que a conheci e fiquei olhando os carros, na esperança de ver a BMW parando na frente da escola e a linda garota de cabelos negros e reluzentes descendo do carro com sua mochila vermelha. Ah Isabel, você vai fazer falta.
  O sinal tocou, mas eu não queria entrar, não queria chegar lá e ver que o lugar dela estava vago. Era muito difícil me acostumar com a ideia de perde-la, era muito difícil esquece-la. 
  - Felipe.- Chamou a professora de espanhol. Ela se abaixou na minha frente e disse:- Eu fiquei sabendo da sua amiga. É difícil para todos nós, eu imagino que deve ser muito mais difícil para você. Quando eu tinha a sua idade, minha melhor amiga morreu em um acidente de transito, eu fiquei muito triste, cheguei a entrar em depressão, mas depois percebi que a vida continua, que eu nunca iria me esquecer do que aconteceu, mas que tinha que seguir em frente. Isabel não iria gostar se visse você aqui sozinho, não é? Ela gostava de te ver feliz.
  - Ela morreu na minha frente.- Soltei. Eu precisava contar isso para alguém. Sara estava em Portugal com o pai dela agora, Vítor não se lembrava de nada, minha família não teria tempo de ouvir, então eu tive que falar para a professora.
  - Deve ser muito difícil para você, mas é melhor seguir a sua vida, guardando todas as lembranças boas que você tem dela, que com certeza são muitas. Ela era realmente incrível e gostava muito de você. Venha, vamos para a sala.- Ela se levantou e me ajudou a levantar também, nós fomos até a sala de aula e eu me sentei em meu lugar, meu lugar solitário.
  O mundo continuava, eu não conseguia entender como, para mim, tudo tinha parado, tudo estava acabado, nada mais existia, então por que os outros continuavam vivendo como se nada tivesse acontecido? Eu já não conseguia mais fingir que ela ainda estava viva em algum lugar, minha cabeça me obrigava a encarar a verdade. Será que ela realmente estava mais feliz agora? Será que ela realmente fez aquilo porque quis? Aceitar era o mais difícil, era pios do que simplesmente perde-la. Se ela tivesse se mudado, seria muito mais fácil, porque eu saberia que algum dia eu a veria de novo, ou pelo menos, eu poderia falar com ela.
  Adeus Isabel.
  Eu queria que ela voltasse por, pelo menos, alguns minutos, para que pudesse me despedir e dizer tudo o que precisava. Mas nunca seria tempo o bastante.
  "Ela disse que seria mais feliz assim. Então, se ela esta feliz, eu tenho que estar feliz." pensei. Minha cabeça achava isso, meu coração estava sentindo uma vazio impressionante. Eu sabia que aquele vazio nunca seria preenchido, mas ele poderia ser amenizado, como eu não sabia, mas com certeza poderia.
  - Professora.- Chamou uma das secretárias na porta da sala de aula.- Nós recebemos uma aluna nova nessa turma. Bianca, bem vinda a sua nova sala de aula.- A garota colocou a cabeça para dentro da sala. Ela tinha cabelos cacheados, castanhos e sedosos, olhos castanhos, pele bronzeada e carregava uma mochila camuflada nas costas. Ela não era nem um pouco parecida com Isabel, mas talvez fosse a pessoa que iria amenizar o vazio no meu coração.
  - Olá Bianca- Cumprimentou a professora- Você pode se sentar ali naquele lugar, esta bem?- Ela apontou para a cadeira aonde Isabel sentava e piscou para mim. 
  A garota foi até o meu lado e se sentou.
  - Oi.- Disse ela baixinho- Qual o seu nome?
  - Felipe.
  - Muito prazer Felipe. Pode me dizer porque você é o único dessa fileira?
  - Não sou o único, você esta aqui.- Ela sorriu e piscou para mim. Sim, era o mesmo sorriso, aquele sorriso que Isabel fazia quando ia aprontar alguma coisa. Eu me assustei, mas logo passou e resolvi deixar para lá. Se eu ia começar uma nova fase, era melhor deixar o sorriso de Isabel de lado um pouco.  

17- Nada pior do que o adeus

  - Isabel, você esta nos ajudando desde que chegamos aqui.
  - Não, eu só estou colocando vocês em mais confusão. Felipe, me escute, você tem que me ajudar, esta bem? Vou salvar você, vou salvar Vítor e vou salvar Sara, mas você tem que me ajudar. Temos pouco tempo.
  - Não Isabel, eu não vou deixar!- As lágrimas escorriam pelo meu rosto. Tantas coisas estavam acontecendo que eu nem sequer conseguia ouvir meus pensamentos. Por que ela queria fazer isso? Por que ela? Eu sabia que tínhamos pouco tempo, eu sabia que a Ordem estaria ali em pouco tempo, eu sabia que mataria a todos nós, mas isso não estava certo, eu preferia que a Ordem sugasse meu sangue até a morte do que ver aquilo acontecendo. Eu não ia deixar.
  - Felipe, é importante. Vai ser melhor para todos nós.
  - Não!- Eu me sentia uma criança teimosa brigando com a mãe porque não quer tomar banho. Mas eu não era mais uma criança. E aquilo não era só um banho. Isabel segurou minhas mãos e fixou seus olhos azuis nos meus. 
  - Felipe, você é meu amigo?
  - É claro!
  - Você se importa comigo?
  - Mais do que comigo mesmo.
  - Então, você vai entender. Eu venho sofrendo a minha vida inteira, é como se a cada dia eu morresse um pouco, o meu viver é pior do que a morte, então me deixe te ajudar, me deixe ser feliz e fazer outros felizes.- Agora eu me sentia como uma egoísta sentimental. Isabel estava sorrindo, por mais que algumas lágrimas escorressem  de seus lindos olhos azuis, mas eu sabia que era o que ela queria. Eu não queria. Não queria perde-la de jeito nenhum, ela era tudo o que me importava, eu não podia deixa-la para trás. 
  - Isabel, eu...- Ela me abraçou e olhou no fundo dos meus olhos, preenchendo minha visão com aquele maravilhoso tom de azul que tinham seus olhos.
  - Não diga mais nada. É difícil para mim também.- Ela tirou um lindo punhal do bolso e, depois de respirar fundo, o cravou no próprio coração.
  - Não!- Consegui gritar antes de desabar em um choro conpulsivo. Eu conseguia ver que ela sentia dor, mas eu conseguia ver que estava feliz. Era como se ela tivesse tirado um peso das próprias costas, por isso, ela estava sorrindo. 
  Ela estava parando de respirar. A agonia tomava conta de mim, como eu estava deixando aquilo acontecer? Então uma luz branca surgiu na frente do corpo quase sem vida de minha melhor amiga, tinha a forma de uma mulher adulta com cabelos longos e lisos. Ela sorriu.
  - Olá novamente filha.- Disse a luz.- E então querida, qual o seu último desejo?- Era como se Isabel estivesse se recuperando a cada minuto que a luz estava ali, ela havia voltado a respirar, conseguia se movimentar normalmente, mas eu sabia que ela não estava viva, e por isso eu chorava cada vez mais.
  - Meu último desejo é que Vítor volte a ser humano e que todos os meus amigos voltem para suas casas em segurança.
  - Você troca a sua vida por esse desejo?- Isabel hesitou um pouco antes de responder. Ela olhou para mim e sorriu. Aquela era a última vez que eu veria o seu sorriso maravilhoso, era a última vez que eu ouviria sua voz, ela estava trocando a vida dela pela minha. Porque a Ordem não chegou antes? Eu preferia morrer do que ter que perde-la e continuar vivo.
  - Sim.
  - Então, que assim seja.- A luz veio em direção a Isabel. Ela reagiu como se o espirito de sua mãe entrasse nela por alguns segundos e, em seguida, caiu no chão, pálida, sem vida.
  - Isabel! Bell! Não! Você... você não fez isso!- Eu não conseguia nem mesmo chorar, meu corpo estava fraco demais, era como se um pedaço de mim estivesse morto também. Me ajoelhei ao seu lado e fechei ou olhos, para não ver tudo o que estava acontecendo. 
  No segundo seguinte eu estava no avião, com Sara e Vítor ao meu lado. Eu não conseguia entender o que havia acontecido. " ...todos os meus amigos voltem para suas casas em segurança" ela havia dito. Eu não consegui me despedir como gostaria.
  - Felipe, porque você esta chorando?- Era Vítor, sentado ao meu lado como se nada tivesse acontecido.
  - Isabel esta morta.- As palavras eram piores do que a própria situação, ter que dizer uma coisa que nem eu mesmo acreditava era muito pior do que fingir que ela ainda estava em algum lugar por ai.
  - Morta? Por que? O pai dela colocou ela de castigo?- Ela riu e eu o fuzilei com o olhar. 
  - Ela morreu Vítor, você não entende? Não se lembra de nada?
  - Lembro de 6 pessoas que me explicavam alguma coisa sobre cozinha.- Cozinha? Esta bem, ele não se lembrava e não acreditaria se eu lhe contasse. Ele nunca saberia o que Isabel fez por ele. Mas eu sabia, sabia o que ela fez por mim, por Sara e por Vítor, eu nunca iria me esquecer, nunca. Encostei minha cabeça na janela e fiquei olhando as nuvens, imaginando aonde Isabel poderia estar naquele momento.

16- A Ordem é composta de sete cabeças

  Subimos as escadas, eu, Isabel, Sara e Glória. Estava começando a me sentir estranho por viajar só com garotas para salvar um garoto, mas agora já estava um pouco tarde para pensar nisso. Os degraus rangiam a cada passo que dávamos, mas ninguém mais parecia notar, apenas eu porque estava tentando prestar atenção em tudo, menos no fato de eu estar indo para uma sala cheia dos vampiros mais poderosos do mundo. Eu estava tentando evitar essa palavra "vampiro" desde que chegamos aqui, mas pelo visto era impossível.  
  Ao chegarmos lá me cima, um pequeno espaço decorado em ouro e um outro metal negro nos esperava, como um "hall de entrada". Era realmente muito bonito e muito sombrio, haviam vasos altos com flores secas mas que, mesmo assim, ficavam em tons diferentes. Talvez fossem tingidas. Talvez não. Do outro lado do hall havia uma grande porta toda em preto e vermelho, nela havia uma enorme fechadura aonde imaginei que apenas uma chave enorme entraria.
  - Glória, você tem a chave?
  - Sim, só não sei se é uma boa ideia.
  - É necessário. Abra a porta, por favor.- Imaginei ela tirando uma chave de 5 quilos do bolso e abrindo a porta, mas ela apenas pegou uma chave metálica comum e destrancou a porta.- Finalmente mudaram as fechaduras.
  - Sim, mas mantiveram o modelo antigo. Agora, é melhor vocês irem rápido, antes que alguém venha e me veja aqui com vocês.
  - Obrigada.- Disse Isabel enquanto abria a porta. Ela me puxou para dentro do enorme salão e Sara nos seguiu.
  O lugar era imenso. Haviam sete tronos feitos de ferro e que, de alguma forma, tinham cores variadas: o primeiro e o último eram negros, o segundo e o penúltimo eram marrom escuro, e assim iam clareando até que o do meio fosse vermelho sangue, como os olhos dos vampiros quando vão atacar. No centro do salão havia um altar sacrificial e, no teto acima dele, o maior lustre que eu já havia visto. O piso de mármore negro brilhava aos meus pés, eu conseguia ver levemente meu reflexo nele, e as paredes eram douradas e tinham detalhes em vermelho e marrom. Não era um lugar aonde eu gostaria que fosse meu quarto, mas com certeza os vampiros adoravam.
  - Venham, é por aqui.- Seguimos Isabel mais uma vez até uma porta que havia no salão. A porta era estreita e estava escondida por uma cortina, ao lado dela havia uma chave, provavelmente para abrir a porta. Ela pegou a chave, abriu a porta e nós entramos.
  O lugar era muito escuro, mas assim que Isabel acendeu uma das tochas que havia na parede, pude ver um pouco melhor. Estávamos prestes a descer uma escada estreita feita de pedra. Nós descemos, degrau por degrau, cada passo eu me sentia mais perto da morte, o medo estava tomando conta de mim o que me dava ainda mais medo. E se eu resolvesse sair correndo de repente e acordar os vampiros? Ou se, quando uma deles viesse me atacar eu ficasse paralisado? Aqueles pensamentos não estavam me deixando muito mais calmo, por isso resolvi voltar a prestar atenção na decida.
  Quando finalmente chegamos lá embaixo, me deparei com um lugar cheio de celas com pessoas dentro. Não haviam poucos prisioneiros, haviam muitos, muito mais do que realmente cabiam naquele lugar úmido e apertado.
  - Felipe, procure Vítor. Você vai por ali e eu vou por aqui com Sara, se o acha me chame que vou te ajudar. Em hipótese alguma grite, esta bem? Você pode ver algumas coisas não muito agradáveis, mas não grite, de jeito nenhum, ou os guardar podem vir ver o que esta acontecendo e, no quesito força, eles são muito mais fortes que a ordem.
  - Esta bem.- Foi tudo o que consegui dizer diante a tantas situações novas.
  Caminhei sozinho pelo calabouço, olhando para dentro de todas as celas. Era realmente difícil não se assustar com tudo o que eu estava vendo, pelo visto os prisioneiros eram torturados antes, ou depois, de ir para lá. Eu prefiro não me lembrar daquilo tudo, era realmente a pior imagem que já havia visto na vida, mas para você ter uma ideia, um corpo remado poderia ser lindo comparado aquilo. Fiquei com medo das condições em que encontraria Vítor, mas segui em frente. Eu não o via em lugar nenhum, era difícil ver qualquer um naquele meio, mas eu não conseguia ver nenhum vestígio do meu melhor amigo.
  Fui até a última cela, voltei para o lugar aonde havia me separado de Isabel e Sara, mas não consegui o encontrar. Isabel chegou algum tempo depois, junto com Sara.
  - Encontraram alguma coisa?
  - Não. Eu tinha esperança de que você o encontrasse.
  - Você tem certeza de que ele esta vivo?
  - Sim. Vamos, vamos voltar para o salão principal. Se não o encontrarmos em lugar nenhum... Sinto muito Felipe.
  - Certo, vamos voltar.- Peguei novamente a tocha e subi as escadas. Uma nova "bomba" de coragem tomou conta de mim. Se ele não estava ali, aonde poderia estar?
  Empurrei levemente e portinha que nos separava do salão e me deparei com tudo o que eu menos queria: haviam sete pessoas dentro da sala. Eu não conseguia ver muita coisa, mas consegui reconhecer uma delas: Vítor.
  - O que é?- Me perguntou Isabel baixinho, mas ela não me deu tempo de responder.- Oh não.
  - Vítor esta ali. Vão mata-lo?
  - Infelizmente, eu acho que não.
  - Infelizmente? Isabel!
  - Calma! É que, eu acho que agora seu amigo faz parte da ordem.
  - Meu Deus! E ainda tem algum jeito de salva-lo?
  - Tem um, vem comigo.
  - Ai!- Gritou Sara.- Me cortei!
  Olhei novamente pela fresta da porta. Haviam dois vampiros vindo na nossa direção.
  - Mas que droga!- Exclamei.- E agora Isabel? O que nós fazemos?
  - Pegue Sara, o corte foi bem profundo, ela não vai conseguir andar. Se bem me lembro, tem uma passagem secreta aqui em algum lugar.- Ela começou a tatear as pedras que formavam a parede.
  - Ali!- Ouvi uma voz masculina dizer do lado de fora da porta.- Tem três pestinhas ali dentro.
  - Rápido, vamos!- Chamou Isabel assim que conseguiu abrir a passagem. Eu a segui sem fazer mais nenhuma pergunta, apenas entrai no túnel aonde ela estava e esperei que ela fechasse a passagem.
  - Ufa.- Suspirei enquanto me encostava na parede.
  - Não vai demorar muito para eles nos acharem, na verdade, vai ser bem rápido. Vamos seguir esse túnel até o fim, ele dá no quarto que era dos meus pais.
  Nós fomos, eu e Isabel fomos um pouco abaixados, porque já éramos muito altos para passar pelo estreito lugar, e Sara foi se arrastando, pelo visto o corte ainda doía muito. Alguns minutos depois nós chegamos até o quarto que Isabel dissera. O lugar era bem grande para um quarto, mas ninguém deu muita atenção para isso, simplesmente seguimos nossa guia e fomos ate uma porta de vidro que dava em uma enorme sacada.
  - Como pode ter uma sacada aqui?
  - Ela da para o jardim interno, não é lá grande coisa e eu duvido que a Ordem tenha mantido o jardim como meu pai fazia, mas é um bom cano de escape para nós.- Ela abriu a porta e nós fomos até a sacada. Era realmente grande, o jardim estava seco e sem vida, mas dava para ver que fora muito bonito um dia.
  Isabel se sentou no chão e colocou a cabeça sobre as mãos. Ela sorriu, mas uma lágrima escorreu por seu rosto.
  - Chegou a hora.- Disse ela.
  - Hora de que?
  - Chegou a minha hora de salvar vocês.

15- O castelo da ordem


   - É ali.- Disse Isabel apontando para as torres de pedra logo a nossa frente.- É muito grande por fora e maior ainda por dentro, portanto fiquem perto de mim, eu estou um pouco mais acostumada com o lugar do que vocês.-  Ela piscou um dos olhos, tentando parecer animada, mas ainda assim não me ajudou muito. Por mais que eu estivesse tentando parecer o mais seguro possível, por causa de Sara, mas acho que eu não estava conseguindo, pois até a pequena garota tentava me acalmar com sorrisos discretos e brincadeiras. Ela é uma gracinha, mas ainda assim, não conseguiu melhorar muito a minha situação. 
   Aquela sensação de desconforto só aumentava a medida que nos aproximávamos  do castelo. Eu já não conseguia nem prestar muita atenção no que Isabel ou Sara falavam, era muito difícil me concentrar em qualquer coisa além do fato da minha morte se aproximar mais a cada passo que eu dava, ou pelo menos, isso era o que eu imaginava.
   Paramos na frente da enorme porta. Era feita de cedro, as dobradiças eram de ferro negro e ela era muito, muito alta. Mas, o castelo também não era nem um pouco humilde, era como uma igreja gótica só que mais antigo, mais bonito e muito, muito mais sombrio. Era difícil dizer tudo o que se sentia ao olhar aquela maravilhosa construção. Ao mesmo tempo que ela era extremamente assustadora, como se o terror os olhos que por ali passaram fossem os porteiros do lugar.
   - Chegamos. Aqui é a sede da Ordem.- Eu conseguia ver que, de certo modo, até Isabel estava com medo de entrar no lugar. Ela sabia muito melhor do que eu e Sara o que nos esperava ali dentro.
   - Certo, como faremos para entrar?
   - Bem, é só...- Ela hesitou por um bom tempo antes de responder.-  Não sei ao certo, mas vou pensar em alguma coisa rapidamente. Esperem apenas um minuto.
   - Você parece minha avó falando assim.- Comentou Sara
   - Me desculpa. É o lugar, me deixa nervosa, é como se eu voltasse no tempo até a época em que o Conde reinava sobre a Transilvania.
   - Esta bem, mas pare com isso, esta me assustando também.- Acrescentei.
   Ficamos parados ali, na porta do magnífico castelo, por mais ou menos uma hora, sem que ninguém nos visse ou percebesse a nossa presença.
   - Já sei!- Exclamou Isabel.- É tão simples, como não pensei nisso antes. Venham, vamos andar mais um pouco.
   Demos uma volta quase completa pelo castelo e paramos diante de uma porta pequena.
   - É a porta dos empregados, se conseguirmos nos disfarçar...
   - E por quê não conseguiríamos? - Parecia tão simples abrir a porta e entrar que não consegui resistir a perguntar.
   - Porque a Ordem gosta de manter as coisas como na idade Média. Os empregados e empregadas tem que usar roupas antigas, como vestidos longos e anáguas. Temos que conseguir roupas assim. Bem, não importa, vamos entrar.- Com certeza as nossas roupas nem um pouco "século sei lá o que" dificultariam a nossa entrada, mas eu confiava em Isabel acima de tudo, por isso sabia que ela iria conseguir.
   Ela colocou o capuz do casaco na cabeça e mandou que Sara fizesse o mesmo. Eu tinha dado meu casaco para a pequena, por isso ficaria sem e proteção na cabeça, mas isso era o de menos. Isabel empurrou a pequena porta, que por sinal era mais pesada do que aparentava ser, e uma pequena fresta se abriu, apenas o suficiente para que nós três entrássemos no castelo.
   Entramos em uma estreito corredor mal iluminado. As paredes e o piso eram feitor de pedra e isso dificultava bastante a locomoção, mas ainda assim nós conseguíamos andar. Isabel pegou uma tas tochas que estavam presas na parede e me mandou que fizesse a mesma coisa. 
   Com as tochas nas mão nos esgueiramos pelos corredores, evitando criados, guardas e qualquer outra pessoa que não fosse eu, Isabel ou Sara. Logo conseguimos sair do "chão de pedra" e fomos parar em alguns corredores melhores iluminados e com chão de mármore.
   - Certo, Felipe, você pode apagar a tocha e deixa-la aqui.-  Ela apontou para um grande prato dourado que estava apoiado em uma mesinha baixa. Eu obedeci e ela prossegui.- Bem, agora que saímos da área dos empregados, temos que ser muito diretos, cada segundo aqui dentro é crucial, se desperdiçarmos um único segundo nossas vidas podem estar em risco e nossa missão destruída. Fiquem perto de mim, sigam todos os meus passos exatamente, pois esse lugar é cheio de armadilhas.- Podemos dizer que a frase dela não me acalmou muito.
    Ela seguiu em frente pelo longo e largo corredor, se esgueirando para as sombras sempre que surgia uma oportunidade. Ela já não parecia ser aquela doce garota que eu conhecia, agora parecia realmente uma caçadora astuta e atenta, com certeza conseguiria alcançar seus objetivos. Continuamos seguindo-a sem nenhuma pressa, já que quando ela parasse, ou a nossa morte finalmente chegou, ou algum perigo muito perigoso estava ali. 
   Passamos por vários corredores, várias portas, quase nenhuma janela e por algumas pessoas antes de pararmos em frente a uma enorme escadaria.
   - Subindo essas escadas vamos estar quase chegando no salão principal.
   - Vítor não vai estar no salão principal, vai?
   - Provavelmente não, mas a única maneira de chegar até os calabouços é passando por ali, já que a Ordem tem que examinar todos os prisioneiros antes de serem mandados para as celas, por isso temos que entrar, mas isso vai ser muito mais difícil do que entrar pela porta do empregados.- Ela se sentou em um dos degraus da escada e apoiou a cabeça em uma das mãos.- Se pelo menos Glória viesse até aqui...
   - Quem é Glória?
   - É uma amiga minha que serve a Ordem, ela com certeza pode entrar lá.
   - Não podemos considerar a ideia de subir primeiro e ver se a porta esta aberta?
   - Não, a porta nunca esta aberta.
   - Isabel?- Chamou uma voz baixinho.- Isabel, é você?
   - Glória!, minha amiga!- Isabel se levantou e foi em direção a voz. Uma jovem esbelta de cabelos castanhos, olhos azuis e um belo rosto veio abraçar Isabel. A jovem usava um longo vestido marrom, como aqueles que eram usados antigamente. Glória tinha uma beleza encantadora, era como uma princesa de contos de fadas, era mesmo linda.
   Isabel me cutucou levemente, talvez porque eu não conseguisse tirar os olhos da beleza de sua amiga e todos já tivessem notado isso, menos eu.
   - O que você faz aqui?- Perguntou Glória.
   - Isso não importa, mas preciso da sua ajuda para uma coisa.