domingo, 17 de outubro de 2010

17- Nada pior do que o adeus

  - Isabel, você esta nos ajudando desde que chegamos aqui.
  - Não, eu só estou colocando vocês em mais confusão. Felipe, me escute, você tem que me ajudar, esta bem? Vou salvar você, vou salvar Vítor e vou salvar Sara, mas você tem que me ajudar. Temos pouco tempo.
  - Não Isabel, eu não vou deixar!- As lágrimas escorriam pelo meu rosto. Tantas coisas estavam acontecendo que eu nem sequer conseguia ouvir meus pensamentos. Por que ela queria fazer isso? Por que ela? Eu sabia que tínhamos pouco tempo, eu sabia que a Ordem estaria ali em pouco tempo, eu sabia que mataria a todos nós, mas isso não estava certo, eu preferia que a Ordem sugasse meu sangue até a morte do que ver aquilo acontecendo. Eu não ia deixar.
  - Felipe, é importante. Vai ser melhor para todos nós.
  - Não!- Eu me sentia uma criança teimosa brigando com a mãe porque não quer tomar banho. Mas eu não era mais uma criança. E aquilo não era só um banho. Isabel segurou minhas mãos e fixou seus olhos azuis nos meus. 
  - Felipe, você é meu amigo?
  - É claro!
  - Você se importa comigo?
  - Mais do que comigo mesmo.
  - Então, você vai entender. Eu venho sofrendo a minha vida inteira, é como se a cada dia eu morresse um pouco, o meu viver é pior do que a morte, então me deixe te ajudar, me deixe ser feliz e fazer outros felizes.- Agora eu me sentia como uma egoísta sentimental. Isabel estava sorrindo, por mais que algumas lágrimas escorressem  de seus lindos olhos azuis, mas eu sabia que era o que ela queria. Eu não queria. Não queria perde-la de jeito nenhum, ela era tudo o que me importava, eu não podia deixa-la para trás. 
  - Isabel, eu...- Ela me abraçou e olhou no fundo dos meus olhos, preenchendo minha visão com aquele maravilhoso tom de azul que tinham seus olhos.
  - Não diga mais nada. É difícil para mim também.- Ela tirou um lindo punhal do bolso e, depois de respirar fundo, o cravou no próprio coração.
  - Não!- Consegui gritar antes de desabar em um choro conpulsivo. Eu conseguia ver que ela sentia dor, mas eu conseguia ver que estava feliz. Era como se ela tivesse tirado um peso das próprias costas, por isso, ela estava sorrindo. 
  Ela estava parando de respirar. A agonia tomava conta de mim, como eu estava deixando aquilo acontecer? Então uma luz branca surgiu na frente do corpo quase sem vida de minha melhor amiga, tinha a forma de uma mulher adulta com cabelos longos e lisos. Ela sorriu.
  - Olá novamente filha.- Disse a luz.- E então querida, qual o seu último desejo?- Era como se Isabel estivesse se recuperando a cada minuto que a luz estava ali, ela havia voltado a respirar, conseguia se movimentar normalmente, mas eu sabia que ela não estava viva, e por isso eu chorava cada vez mais.
  - Meu último desejo é que Vítor volte a ser humano e que todos os meus amigos voltem para suas casas em segurança.
  - Você troca a sua vida por esse desejo?- Isabel hesitou um pouco antes de responder. Ela olhou para mim e sorriu. Aquela era a última vez que eu veria o seu sorriso maravilhoso, era a última vez que eu ouviria sua voz, ela estava trocando a vida dela pela minha. Porque a Ordem não chegou antes? Eu preferia morrer do que ter que perde-la e continuar vivo.
  - Sim.
  - Então, que assim seja.- A luz veio em direção a Isabel. Ela reagiu como se o espirito de sua mãe entrasse nela por alguns segundos e, em seguida, caiu no chão, pálida, sem vida.
  - Isabel! Bell! Não! Você... você não fez isso!- Eu não conseguia nem mesmo chorar, meu corpo estava fraco demais, era como se um pedaço de mim estivesse morto também. Me ajoelhei ao seu lado e fechei ou olhos, para não ver tudo o que estava acontecendo. 
  No segundo seguinte eu estava no avião, com Sara e Vítor ao meu lado. Eu não conseguia entender o que havia acontecido. " ...todos os meus amigos voltem para suas casas em segurança" ela havia dito. Eu não consegui me despedir como gostaria.
  - Felipe, porque você esta chorando?- Era Vítor, sentado ao meu lado como se nada tivesse acontecido.
  - Isabel esta morta.- As palavras eram piores do que a própria situação, ter que dizer uma coisa que nem eu mesmo acreditava era muito pior do que fingir que ela ainda estava em algum lugar por ai.
  - Morta? Por que? O pai dela colocou ela de castigo?- Ela riu e eu o fuzilei com o olhar. 
  - Ela morreu Vítor, você não entende? Não se lembra de nada?
  - Lembro de 6 pessoas que me explicavam alguma coisa sobre cozinha.- Cozinha? Esta bem, ele não se lembrava e não acreditaria se eu lhe contasse. Ele nunca saberia o que Isabel fez por ele. Mas eu sabia, sabia o que ela fez por mim, por Sara e por Vítor, eu nunca iria me esquecer, nunca. Encostei minha cabeça na janela e fiquei olhando as nuvens, imaginando aonde Isabel poderia estar naquele momento.

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