domingo, 17 de outubro de 2010

16- A Ordem é composta de sete cabeças

  Subimos as escadas, eu, Isabel, Sara e Glória. Estava começando a me sentir estranho por viajar só com garotas para salvar um garoto, mas agora já estava um pouco tarde para pensar nisso. Os degraus rangiam a cada passo que dávamos, mas ninguém mais parecia notar, apenas eu porque estava tentando prestar atenção em tudo, menos no fato de eu estar indo para uma sala cheia dos vampiros mais poderosos do mundo. Eu estava tentando evitar essa palavra "vampiro" desde que chegamos aqui, mas pelo visto era impossível.  
  Ao chegarmos lá me cima, um pequeno espaço decorado em ouro e um outro metal negro nos esperava, como um "hall de entrada". Era realmente muito bonito e muito sombrio, haviam vasos altos com flores secas mas que, mesmo assim, ficavam em tons diferentes. Talvez fossem tingidas. Talvez não. Do outro lado do hall havia uma grande porta toda em preto e vermelho, nela havia uma enorme fechadura aonde imaginei que apenas uma chave enorme entraria.
  - Glória, você tem a chave?
  - Sim, só não sei se é uma boa ideia.
  - É necessário. Abra a porta, por favor.- Imaginei ela tirando uma chave de 5 quilos do bolso e abrindo a porta, mas ela apenas pegou uma chave metálica comum e destrancou a porta.- Finalmente mudaram as fechaduras.
  - Sim, mas mantiveram o modelo antigo. Agora, é melhor vocês irem rápido, antes que alguém venha e me veja aqui com vocês.
  - Obrigada.- Disse Isabel enquanto abria a porta. Ela me puxou para dentro do enorme salão e Sara nos seguiu.
  O lugar era imenso. Haviam sete tronos feitos de ferro e que, de alguma forma, tinham cores variadas: o primeiro e o último eram negros, o segundo e o penúltimo eram marrom escuro, e assim iam clareando até que o do meio fosse vermelho sangue, como os olhos dos vampiros quando vão atacar. No centro do salão havia um altar sacrificial e, no teto acima dele, o maior lustre que eu já havia visto. O piso de mármore negro brilhava aos meus pés, eu conseguia ver levemente meu reflexo nele, e as paredes eram douradas e tinham detalhes em vermelho e marrom. Não era um lugar aonde eu gostaria que fosse meu quarto, mas com certeza os vampiros adoravam.
  - Venham, é por aqui.- Seguimos Isabel mais uma vez até uma porta que havia no salão. A porta era estreita e estava escondida por uma cortina, ao lado dela havia uma chave, provavelmente para abrir a porta. Ela pegou a chave, abriu a porta e nós entramos.
  O lugar era muito escuro, mas assim que Isabel acendeu uma das tochas que havia na parede, pude ver um pouco melhor. Estávamos prestes a descer uma escada estreita feita de pedra. Nós descemos, degrau por degrau, cada passo eu me sentia mais perto da morte, o medo estava tomando conta de mim o que me dava ainda mais medo. E se eu resolvesse sair correndo de repente e acordar os vampiros? Ou se, quando uma deles viesse me atacar eu ficasse paralisado? Aqueles pensamentos não estavam me deixando muito mais calmo, por isso resolvi voltar a prestar atenção na decida.
  Quando finalmente chegamos lá embaixo, me deparei com um lugar cheio de celas com pessoas dentro. Não haviam poucos prisioneiros, haviam muitos, muito mais do que realmente cabiam naquele lugar úmido e apertado.
  - Felipe, procure Vítor. Você vai por ali e eu vou por aqui com Sara, se o acha me chame que vou te ajudar. Em hipótese alguma grite, esta bem? Você pode ver algumas coisas não muito agradáveis, mas não grite, de jeito nenhum, ou os guardar podem vir ver o que esta acontecendo e, no quesito força, eles são muito mais fortes que a ordem.
  - Esta bem.- Foi tudo o que consegui dizer diante a tantas situações novas.
  Caminhei sozinho pelo calabouço, olhando para dentro de todas as celas. Era realmente difícil não se assustar com tudo o que eu estava vendo, pelo visto os prisioneiros eram torturados antes, ou depois, de ir para lá. Eu prefiro não me lembrar daquilo tudo, era realmente a pior imagem que já havia visto na vida, mas para você ter uma ideia, um corpo remado poderia ser lindo comparado aquilo. Fiquei com medo das condições em que encontraria Vítor, mas segui em frente. Eu não o via em lugar nenhum, era difícil ver qualquer um naquele meio, mas eu não conseguia ver nenhum vestígio do meu melhor amigo.
  Fui até a última cela, voltei para o lugar aonde havia me separado de Isabel e Sara, mas não consegui o encontrar. Isabel chegou algum tempo depois, junto com Sara.
  - Encontraram alguma coisa?
  - Não. Eu tinha esperança de que você o encontrasse.
  - Você tem certeza de que ele esta vivo?
  - Sim. Vamos, vamos voltar para o salão principal. Se não o encontrarmos em lugar nenhum... Sinto muito Felipe.
  - Certo, vamos voltar.- Peguei novamente a tocha e subi as escadas. Uma nova "bomba" de coragem tomou conta de mim. Se ele não estava ali, aonde poderia estar?
  Empurrei levemente e portinha que nos separava do salão e me deparei com tudo o que eu menos queria: haviam sete pessoas dentro da sala. Eu não conseguia ver muita coisa, mas consegui reconhecer uma delas: Vítor.
  - O que é?- Me perguntou Isabel baixinho, mas ela não me deu tempo de responder.- Oh não.
  - Vítor esta ali. Vão mata-lo?
  - Infelizmente, eu acho que não.
  - Infelizmente? Isabel!
  - Calma! É que, eu acho que agora seu amigo faz parte da ordem.
  - Meu Deus! E ainda tem algum jeito de salva-lo?
  - Tem um, vem comigo.
  - Ai!- Gritou Sara.- Me cortei!
  Olhei novamente pela fresta da porta. Haviam dois vampiros vindo na nossa direção.
  - Mas que droga!- Exclamei.- E agora Isabel? O que nós fazemos?
  - Pegue Sara, o corte foi bem profundo, ela não vai conseguir andar. Se bem me lembro, tem uma passagem secreta aqui em algum lugar.- Ela começou a tatear as pedras que formavam a parede.
  - Ali!- Ouvi uma voz masculina dizer do lado de fora da porta.- Tem três pestinhas ali dentro.
  - Rápido, vamos!- Chamou Isabel assim que conseguiu abrir a passagem. Eu a segui sem fazer mais nenhuma pergunta, apenas entrai no túnel aonde ela estava e esperei que ela fechasse a passagem.
  - Ufa.- Suspirei enquanto me encostava na parede.
  - Não vai demorar muito para eles nos acharem, na verdade, vai ser bem rápido. Vamos seguir esse túnel até o fim, ele dá no quarto que era dos meus pais.
  Nós fomos, eu e Isabel fomos um pouco abaixados, porque já éramos muito altos para passar pelo estreito lugar, e Sara foi se arrastando, pelo visto o corte ainda doía muito. Alguns minutos depois nós chegamos até o quarto que Isabel dissera. O lugar era bem grande para um quarto, mas ninguém deu muita atenção para isso, simplesmente seguimos nossa guia e fomos ate uma porta de vidro que dava em uma enorme sacada.
  - Como pode ter uma sacada aqui?
  - Ela da para o jardim interno, não é lá grande coisa e eu duvido que a Ordem tenha mantido o jardim como meu pai fazia, mas é um bom cano de escape para nós.- Ela abriu a porta e nós fomos até a sacada. Era realmente grande, o jardim estava seco e sem vida, mas dava para ver que fora muito bonito um dia.
  Isabel se sentou no chão e colocou a cabeça sobre as mãos. Ela sorriu, mas uma lágrima escorreu por seu rosto.
  - Chegou a hora.- Disse ela.
  - Hora de que?
  - Chegou a minha hora de salvar vocês.

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