domingo, 17 de outubro de 2010

Um pouquinho sobre mim...

Quem sou eu? Bem, é uma pergunta difícil já que eu sou apenas uma garota comum com mania de escrever. Mas, vamos lá: sou uma menina de 13 anos que ama os amigos, é apaixonada pela família e não trocaria isso por nada no mundo. Claro que minha vida não é perfeita, e por isso escrevo, porque todos os meus personagens são ramificações de mim mesma. Claro, eu nunca vivi nada do que narro na história, mas escrever me faz feliz, me faz sentir que todos os meus problemas (que com certeza são poucos, comparado com os de outras pessoas) desaparecem quando eu crio uma história. "Tem alguma coisa mágica em escrever as primeiras palavras de uma história, a gente nunca sabe para onde ela vai nos levar". Amo essa frase, me identifico muito com ela e concordo plenamente. As vezes, a história toma um rumo completamente diferente do que você imaginou, mas fica ainda melhor, mais cativante, mais "vivenciavel".
  Uma amiga minha, uma vez, me perguntou como eu fazia para escrever assim. A resposta é que eu não sei, as palavras simplesmente saem, eu não escrevo com a cabeça, escrevo com o coração, por mais que as vezes não fique o que as outras pessoas querem ler, as vezes não é o que eu quero ler, mas é muito importante para mim ter aquele momento, aquele aonde eu posso parar e transformar todos os meus sentimentos em palavras. É algo... mágico. Mas eu não concordo com quem diz que eu escrevo bem, para mim é tão fácil escrever assim que eu admiro outros escritores, como a minha amiga Sabrina Iara Cardoso, a melhor escritora que eu já conheci, ou talvez o meu amigo Vítor Duarte, em quem um dos personagens principais foi inspirado.
   Se algum dia eu fosse escrever uma dedicatória para essa história, eu dedicaria para quatro pessoas em especial: Sabrina, que me influenciou a escrever, a Maria Thereza, que me obrigou a continuar, ao Vítor, que me ajudou a criar a história e a minha mãe que sempre me ajudou com o meu "vício" e meu sonho impossível de escrever um livro. E, é claro, um obrigada especial a minha gata Agatha que sempre estava deitada no meu lado enquanto eu escrevia. Então, como eu acho que esse livro nunca vai sair do papel, vou fazer o seguinte:
  Obrigada a todos vocês!
  Pronto, consciência limpa. Agora, é melhor parar de falar de mim.
  Só mais um último pedido: comentem, tenho que saber o que quem lê acha da história.

18- Recomeço



  Acordei no outro dia achando que tudo aquilo fora só um sonho, mas então vi uma foto de Isabel e eu no meu criado mudo. Eu nunca mais veria minha amiga novamente.
  Coloquei o uniforme e caminhei sozinho até a escola. Eu estava pensando em muitas coisas ao mesmo tempo, estava pensando em tudo o que eu poderia ter feito e não fiz, fiquei me culpando por não ter impedido ela de fazer aquela besteira, me culpei por ter aceitado aquela viajem. Se nós não tivéssemos feito ela, Isabel ainda estaria ali quando eu chegasse na escola, sentada no seu banco favorito, lendo um livro ou falando com algum amigo, mas ela estaria ali, eu poderia abraça-la ou simplesmente ver o seu lindo sorriso.
  Entrei na escola, me sentei naquele mesmo banco do dia em que a conheci e fiquei olhando os carros, na esperança de ver a BMW parando na frente da escola e a linda garota de cabelos negros e reluzentes descendo do carro com sua mochila vermelha. Ah Isabel, você vai fazer falta.
  O sinal tocou, mas eu não queria entrar, não queria chegar lá e ver que o lugar dela estava vago. Era muito difícil me acostumar com a ideia de perde-la, era muito difícil esquece-la. 
  - Felipe.- Chamou a professora de espanhol. Ela se abaixou na minha frente e disse:- Eu fiquei sabendo da sua amiga. É difícil para todos nós, eu imagino que deve ser muito mais difícil para você. Quando eu tinha a sua idade, minha melhor amiga morreu em um acidente de transito, eu fiquei muito triste, cheguei a entrar em depressão, mas depois percebi que a vida continua, que eu nunca iria me esquecer do que aconteceu, mas que tinha que seguir em frente. Isabel não iria gostar se visse você aqui sozinho, não é? Ela gostava de te ver feliz.
  - Ela morreu na minha frente.- Soltei. Eu precisava contar isso para alguém. Sara estava em Portugal com o pai dela agora, Vítor não se lembrava de nada, minha família não teria tempo de ouvir, então eu tive que falar para a professora.
  - Deve ser muito difícil para você, mas é melhor seguir a sua vida, guardando todas as lembranças boas que você tem dela, que com certeza são muitas. Ela era realmente incrível e gostava muito de você. Venha, vamos para a sala.- Ela se levantou e me ajudou a levantar também, nós fomos até a sala de aula e eu me sentei em meu lugar, meu lugar solitário.
  O mundo continuava, eu não conseguia entender como, para mim, tudo tinha parado, tudo estava acabado, nada mais existia, então por que os outros continuavam vivendo como se nada tivesse acontecido? Eu já não conseguia mais fingir que ela ainda estava viva em algum lugar, minha cabeça me obrigava a encarar a verdade. Será que ela realmente estava mais feliz agora? Será que ela realmente fez aquilo porque quis? Aceitar era o mais difícil, era pios do que simplesmente perde-la. Se ela tivesse se mudado, seria muito mais fácil, porque eu saberia que algum dia eu a veria de novo, ou pelo menos, eu poderia falar com ela.
  Adeus Isabel.
  Eu queria que ela voltasse por, pelo menos, alguns minutos, para que pudesse me despedir e dizer tudo o que precisava. Mas nunca seria tempo o bastante.
  "Ela disse que seria mais feliz assim. Então, se ela esta feliz, eu tenho que estar feliz." pensei. Minha cabeça achava isso, meu coração estava sentindo uma vazio impressionante. Eu sabia que aquele vazio nunca seria preenchido, mas ele poderia ser amenizado, como eu não sabia, mas com certeza poderia.
  - Professora.- Chamou uma das secretárias na porta da sala de aula.- Nós recebemos uma aluna nova nessa turma. Bianca, bem vinda a sua nova sala de aula.- A garota colocou a cabeça para dentro da sala. Ela tinha cabelos cacheados, castanhos e sedosos, olhos castanhos, pele bronzeada e carregava uma mochila camuflada nas costas. Ela não era nem um pouco parecida com Isabel, mas talvez fosse a pessoa que iria amenizar o vazio no meu coração.
  - Olá Bianca- Cumprimentou a professora- Você pode se sentar ali naquele lugar, esta bem?- Ela apontou para a cadeira aonde Isabel sentava e piscou para mim. 
  A garota foi até o meu lado e se sentou.
  - Oi.- Disse ela baixinho- Qual o seu nome?
  - Felipe.
  - Muito prazer Felipe. Pode me dizer porque você é o único dessa fileira?
  - Não sou o único, você esta aqui.- Ela sorriu e piscou para mim. Sim, era o mesmo sorriso, aquele sorriso que Isabel fazia quando ia aprontar alguma coisa. Eu me assustei, mas logo passou e resolvi deixar para lá. Se eu ia começar uma nova fase, era melhor deixar o sorriso de Isabel de lado um pouco.  

17- Nada pior do que o adeus

  - Isabel, você esta nos ajudando desde que chegamos aqui.
  - Não, eu só estou colocando vocês em mais confusão. Felipe, me escute, você tem que me ajudar, esta bem? Vou salvar você, vou salvar Vítor e vou salvar Sara, mas você tem que me ajudar. Temos pouco tempo.
  - Não Isabel, eu não vou deixar!- As lágrimas escorriam pelo meu rosto. Tantas coisas estavam acontecendo que eu nem sequer conseguia ouvir meus pensamentos. Por que ela queria fazer isso? Por que ela? Eu sabia que tínhamos pouco tempo, eu sabia que a Ordem estaria ali em pouco tempo, eu sabia que mataria a todos nós, mas isso não estava certo, eu preferia que a Ordem sugasse meu sangue até a morte do que ver aquilo acontecendo. Eu não ia deixar.
  - Felipe, é importante. Vai ser melhor para todos nós.
  - Não!- Eu me sentia uma criança teimosa brigando com a mãe porque não quer tomar banho. Mas eu não era mais uma criança. E aquilo não era só um banho. Isabel segurou minhas mãos e fixou seus olhos azuis nos meus. 
  - Felipe, você é meu amigo?
  - É claro!
  - Você se importa comigo?
  - Mais do que comigo mesmo.
  - Então, você vai entender. Eu venho sofrendo a minha vida inteira, é como se a cada dia eu morresse um pouco, o meu viver é pior do que a morte, então me deixe te ajudar, me deixe ser feliz e fazer outros felizes.- Agora eu me sentia como uma egoísta sentimental. Isabel estava sorrindo, por mais que algumas lágrimas escorressem  de seus lindos olhos azuis, mas eu sabia que era o que ela queria. Eu não queria. Não queria perde-la de jeito nenhum, ela era tudo o que me importava, eu não podia deixa-la para trás. 
  - Isabel, eu...- Ela me abraçou e olhou no fundo dos meus olhos, preenchendo minha visão com aquele maravilhoso tom de azul que tinham seus olhos.
  - Não diga mais nada. É difícil para mim também.- Ela tirou um lindo punhal do bolso e, depois de respirar fundo, o cravou no próprio coração.
  - Não!- Consegui gritar antes de desabar em um choro conpulsivo. Eu conseguia ver que ela sentia dor, mas eu conseguia ver que estava feliz. Era como se ela tivesse tirado um peso das próprias costas, por isso, ela estava sorrindo. 
  Ela estava parando de respirar. A agonia tomava conta de mim, como eu estava deixando aquilo acontecer? Então uma luz branca surgiu na frente do corpo quase sem vida de minha melhor amiga, tinha a forma de uma mulher adulta com cabelos longos e lisos. Ela sorriu.
  - Olá novamente filha.- Disse a luz.- E então querida, qual o seu último desejo?- Era como se Isabel estivesse se recuperando a cada minuto que a luz estava ali, ela havia voltado a respirar, conseguia se movimentar normalmente, mas eu sabia que ela não estava viva, e por isso eu chorava cada vez mais.
  - Meu último desejo é que Vítor volte a ser humano e que todos os meus amigos voltem para suas casas em segurança.
  - Você troca a sua vida por esse desejo?- Isabel hesitou um pouco antes de responder. Ela olhou para mim e sorriu. Aquela era a última vez que eu veria o seu sorriso maravilhoso, era a última vez que eu ouviria sua voz, ela estava trocando a vida dela pela minha. Porque a Ordem não chegou antes? Eu preferia morrer do que ter que perde-la e continuar vivo.
  - Sim.
  - Então, que assim seja.- A luz veio em direção a Isabel. Ela reagiu como se o espirito de sua mãe entrasse nela por alguns segundos e, em seguida, caiu no chão, pálida, sem vida.
  - Isabel! Bell! Não! Você... você não fez isso!- Eu não conseguia nem mesmo chorar, meu corpo estava fraco demais, era como se um pedaço de mim estivesse morto também. Me ajoelhei ao seu lado e fechei ou olhos, para não ver tudo o que estava acontecendo. 
  No segundo seguinte eu estava no avião, com Sara e Vítor ao meu lado. Eu não conseguia entender o que havia acontecido. " ...todos os meus amigos voltem para suas casas em segurança" ela havia dito. Eu não consegui me despedir como gostaria.
  - Felipe, porque você esta chorando?- Era Vítor, sentado ao meu lado como se nada tivesse acontecido.
  - Isabel esta morta.- As palavras eram piores do que a própria situação, ter que dizer uma coisa que nem eu mesmo acreditava era muito pior do que fingir que ela ainda estava em algum lugar por ai.
  - Morta? Por que? O pai dela colocou ela de castigo?- Ela riu e eu o fuzilei com o olhar. 
  - Ela morreu Vítor, você não entende? Não se lembra de nada?
  - Lembro de 6 pessoas que me explicavam alguma coisa sobre cozinha.- Cozinha? Esta bem, ele não se lembrava e não acreditaria se eu lhe contasse. Ele nunca saberia o que Isabel fez por ele. Mas eu sabia, sabia o que ela fez por mim, por Sara e por Vítor, eu nunca iria me esquecer, nunca. Encostei minha cabeça na janela e fiquei olhando as nuvens, imaginando aonde Isabel poderia estar naquele momento.

16- A Ordem é composta de sete cabeças

  Subimos as escadas, eu, Isabel, Sara e Glória. Estava começando a me sentir estranho por viajar só com garotas para salvar um garoto, mas agora já estava um pouco tarde para pensar nisso. Os degraus rangiam a cada passo que dávamos, mas ninguém mais parecia notar, apenas eu porque estava tentando prestar atenção em tudo, menos no fato de eu estar indo para uma sala cheia dos vampiros mais poderosos do mundo. Eu estava tentando evitar essa palavra "vampiro" desde que chegamos aqui, mas pelo visto era impossível.  
  Ao chegarmos lá me cima, um pequeno espaço decorado em ouro e um outro metal negro nos esperava, como um "hall de entrada". Era realmente muito bonito e muito sombrio, haviam vasos altos com flores secas mas que, mesmo assim, ficavam em tons diferentes. Talvez fossem tingidas. Talvez não. Do outro lado do hall havia uma grande porta toda em preto e vermelho, nela havia uma enorme fechadura aonde imaginei que apenas uma chave enorme entraria.
  - Glória, você tem a chave?
  - Sim, só não sei se é uma boa ideia.
  - É necessário. Abra a porta, por favor.- Imaginei ela tirando uma chave de 5 quilos do bolso e abrindo a porta, mas ela apenas pegou uma chave metálica comum e destrancou a porta.- Finalmente mudaram as fechaduras.
  - Sim, mas mantiveram o modelo antigo. Agora, é melhor vocês irem rápido, antes que alguém venha e me veja aqui com vocês.
  - Obrigada.- Disse Isabel enquanto abria a porta. Ela me puxou para dentro do enorme salão e Sara nos seguiu.
  O lugar era imenso. Haviam sete tronos feitos de ferro e que, de alguma forma, tinham cores variadas: o primeiro e o último eram negros, o segundo e o penúltimo eram marrom escuro, e assim iam clareando até que o do meio fosse vermelho sangue, como os olhos dos vampiros quando vão atacar. No centro do salão havia um altar sacrificial e, no teto acima dele, o maior lustre que eu já havia visto. O piso de mármore negro brilhava aos meus pés, eu conseguia ver levemente meu reflexo nele, e as paredes eram douradas e tinham detalhes em vermelho e marrom. Não era um lugar aonde eu gostaria que fosse meu quarto, mas com certeza os vampiros adoravam.
  - Venham, é por aqui.- Seguimos Isabel mais uma vez até uma porta que havia no salão. A porta era estreita e estava escondida por uma cortina, ao lado dela havia uma chave, provavelmente para abrir a porta. Ela pegou a chave, abriu a porta e nós entramos.
  O lugar era muito escuro, mas assim que Isabel acendeu uma das tochas que havia na parede, pude ver um pouco melhor. Estávamos prestes a descer uma escada estreita feita de pedra. Nós descemos, degrau por degrau, cada passo eu me sentia mais perto da morte, o medo estava tomando conta de mim o que me dava ainda mais medo. E se eu resolvesse sair correndo de repente e acordar os vampiros? Ou se, quando uma deles viesse me atacar eu ficasse paralisado? Aqueles pensamentos não estavam me deixando muito mais calmo, por isso resolvi voltar a prestar atenção na decida.
  Quando finalmente chegamos lá embaixo, me deparei com um lugar cheio de celas com pessoas dentro. Não haviam poucos prisioneiros, haviam muitos, muito mais do que realmente cabiam naquele lugar úmido e apertado.
  - Felipe, procure Vítor. Você vai por ali e eu vou por aqui com Sara, se o acha me chame que vou te ajudar. Em hipótese alguma grite, esta bem? Você pode ver algumas coisas não muito agradáveis, mas não grite, de jeito nenhum, ou os guardar podem vir ver o que esta acontecendo e, no quesito força, eles são muito mais fortes que a ordem.
  - Esta bem.- Foi tudo o que consegui dizer diante a tantas situações novas.
  Caminhei sozinho pelo calabouço, olhando para dentro de todas as celas. Era realmente difícil não se assustar com tudo o que eu estava vendo, pelo visto os prisioneiros eram torturados antes, ou depois, de ir para lá. Eu prefiro não me lembrar daquilo tudo, era realmente a pior imagem que já havia visto na vida, mas para você ter uma ideia, um corpo remado poderia ser lindo comparado aquilo. Fiquei com medo das condições em que encontraria Vítor, mas segui em frente. Eu não o via em lugar nenhum, era difícil ver qualquer um naquele meio, mas eu não conseguia ver nenhum vestígio do meu melhor amigo.
  Fui até a última cela, voltei para o lugar aonde havia me separado de Isabel e Sara, mas não consegui o encontrar. Isabel chegou algum tempo depois, junto com Sara.
  - Encontraram alguma coisa?
  - Não. Eu tinha esperança de que você o encontrasse.
  - Você tem certeza de que ele esta vivo?
  - Sim. Vamos, vamos voltar para o salão principal. Se não o encontrarmos em lugar nenhum... Sinto muito Felipe.
  - Certo, vamos voltar.- Peguei novamente a tocha e subi as escadas. Uma nova "bomba" de coragem tomou conta de mim. Se ele não estava ali, aonde poderia estar?
  Empurrei levemente e portinha que nos separava do salão e me deparei com tudo o que eu menos queria: haviam sete pessoas dentro da sala. Eu não conseguia ver muita coisa, mas consegui reconhecer uma delas: Vítor.
  - O que é?- Me perguntou Isabel baixinho, mas ela não me deu tempo de responder.- Oh não.
  - Vítor esta ali. Vão mata-lo?
  - Infelizmente, eu acho que não.
  - Infelizmente? Isabel!
  - Calma! É que, eu acho que agora seu amigo faz parte da ordem.
  - Meu Deus! E ainda tem algum jeito de salva-lo?
  - Tem um, vem comigo.
  - Ai!- Gritou Sara.- Me cortei!
  Olhei novamente pela fresta da porta. Haviam dois vampiros vindo na nossa direção.
  - Mas que droga!- Exclamei.- E agora Isabel? O que nós fazemos?
  - Pegue Sara, o corte foi bem profundo, ela não vai conseguir andar. Se bem me lembro, tem uma passagem secreta aqui em algum lugar.- Ela começou a tatear as pedras que formavam a parede.
  - Ali!- Ouvi uma voz masculina dizer do lado de fora da porta.- Tem três pestinhas ali dentro.
  - Rápido, vamos!- Chamou Isabel assim que conseguiu abrir a passagem. Eu a segui sem fazer mais nenhuma pergunta, apenas entrai no túnel aonde ela estava e esperei que ela fechasse a passagem.
  - Ufa.- Suspirei enquanto me encostava na parede.
  - Não vai demorar muito para eles nos acharem, na verdade, vai ser bem rápido. Vamos seguir esse túnel até o fim, ele dá no quarto que era dos meus pais.
  Nós fomos, eu e Isabel fomos um pouco abaixados, porque já éramos muito altos para passar pelo estreito lugar, e Sara foi se arrastando, pelo visto o corte ainda doía muito. Alguns minutos depois nós chegamos até o quarto que Isabel dissera. O lugar era bem grande para um quarto, mas ninguém deu muita atenção para isso, simplesmente seguimos nossa guia e fomos ate uma porta de vidro que dava em uma enorme sacada.
  - Como pode ter uma sacada aqui?
  - Ela da para o jardim interno, não é lá grande coisa e eu duvido que a Ordem tenha mantido o jardim como meu pai fazia, mas é um bom cano de escape para nós.- Ela abriu a porta e nós fomos até a sacada. Era realmente grande, o jardim estava seco e sem vida, mas dava para ver que fora muito bonito um dia.
  Isabel se sentou no chão e colocou a cabeça sobre as mãos. Ela sorriu, mas uma lágrima escorreu por seu rosto.
  - Chegou a hora.- Disse ela.
  - Hora de que?
  - Chegou a minha hora de salvar vocês.

15- O castelo da ordem


   - É ali.- Disse Isabel apontando para as torres de pedra logo a nossa frente.- É muito grande por fora e maior ainda por dentro, portanto fiquem perto de mim, eu estou um pouco mais acostumada com o lugar do que vocês.-  Ela piscou um dos olhos, tentando parecer animada, mas ainda assim não me ajudou muito. Por mais que eu estivesse tentando parecer o mais seguro possível, por causa de Sara, mas acho que eu não estava conseguindo, pois até a pequena garota tentava me acalmar com sorrisos discretos e brincadeiras. Ela é uma gracinha, mas ainda assim, não conseguiu melhorar muito a minha situação. 
   Aquela sensação de desconforto só aumentava a medida que nos aproximávamos  do castelo. Eu já não conseguia nem prestar muita atenção no que Isabel ou Sara falavam, era muito difícil me concentrar em qualquer coisa além do fato da minha morte se aproximar mais a cada passo que eu dava, ou pelo menos, isso era o que eu imaginava.
   Paramos na frente da enorme porta. Era feita de cedro, as dobradiças eram de ferro negro e ela era muito, muito alta. Mas, o castelo também não era nem um pouco humilde, era como uma igreja gótica só que mais antigo, mais bonito e muito, muito mais sombrio. Era difícil dizer tudo o que se sentia ao olhar aquela maravilhosa construção. Ao mesmo tempo que ela era extremamente assustadora, como se o terror os olhos que por ali passaram fossem os porteiros do lugar.
   - Chegamos. Aqui é a sede da Ordem.- Eu conseguia ver que, de certo modo, até Isabel estava com medo de entrar no lugar. Ela sabia muito melhor do que eu e Sara o que nos esperava ali dentro.
   - Certo, como faremos para entrar?
   - Bem, é só...- Ela hesitou por um bom tempo antes de responder.-  Não sei ao certo, mas vou pensar em alguma coisa rapidamente. Esperem apenas um minuto.
   - Você parece minha avó falando assim.- Comentou Sara
   - Me desculpa. É o lugar, me deixa nervosa, é como se eu voltasse no tempo até a época em que o Conde reinava sobre a Transilvania.
   - Esta bem, mas pare com isso, esta me assustando também.- Acrescentei.
   Ficamos parados ali, na porta do magnífico castelo, por mais ou menos uma hora, sem que ninguém nos visse ou percebesse a nossa presença.
   - Já sei!- Exclamou Isabel.- É tão simples, como não pensei nisso antes. Venham, vamos andar mais um pouco.
   Demos uma volta quase completa pelo castelo e paramos diante de uma porta pequena.
   - É a porta dos empregados, se conseguirmos nos disfarçar...
   - E por quê não conseguiríamos? - Parecia tão simples abrir a porta e entrar que não consegui resistir a perguntar.
   - Porque a Ordem gosta de manter as coisas como na idade Média. Os empregados e empregadas tem que usar roupas antigas, como vestidos longos e anáguas. Temos que conseguir roupas assim. Bem, não importa, vamos entrar.- Com certeza as nossas roupas nem um pouco "século sei lá o que" dificultariam a nossa entrada, mas eu confiava em Isabel acima de tudo, por isso sabia que ela iria conseguir.
   Ela colocou o capuz do casaco na cabeça e mandou que Sara fizesse o mesmo. Eu tinha dado meu casaco para a pequena, por isso ficaria sem e proteção na cabeça, mas isso era o de menos. Isabel empurrou a pequena porta, que por sinal era mais pesada do que aparentava ser, e uma pequena fresta se abriu, apenas o suficiente para que nós três entrássemos no castelo.
   Entramos em uma estreito corredor mal iluminado. As paredes e o piso eram feitor de pedra e isso dificultava bastante a locomoção, mas ainda assim nós conseguíamos andar. Isabel pegou uma tas tochas que estavam presas na parede e me mandou que fizesse a mesma coisa. 
   Com as tochas nas mão nos esgueiramos pelos corredores, evitando criados, guardas e qualquer outra pessoa que não fosse eu, Isabel ou Sara. Logo conseguimos sair do "chão de pedra" e fomos parar em alguns corredores melhores iluminados e com chão de mármore.
   - Certo, Felipe, você pode apagar a tocha e deixa-la aqui.-  Ela apontou para um grande prato dourado que estava apoiado em uma mesinha baixa. Eu obedeci e ela prossegui.- Bem, agora que saímos da área dos empregados, temos que ser muito diretos, cada segundo aqui dentro é crucial, se desperdiçarmos um único segundo nossas vidas podem estar em risco e nossa missão destruída. Fiquem perto de mim, sigam todos os meus passos exatamente, pois esse lugar é cheio de armadilhas.- Podemos dizer que a frase dela não me acalmou muito.
    Ela seguiu em frente pelo longo e largo corredor, se esgueirando para as sombras sempre que surgia uma oportunidade. Ela já não parecia ser aquela doce garota que eu conhecia, agora parecia realmente uma caçadora astuta e atenta, com certeza conseguiria alcançar seus objetivos. Continuamos seguindo-a sem nenhuma pressa, já que quando ela parasse, ou a nossa morte finalmente chegou, ou algum perigo muito perigoso estava ali. 
   Passamos por vários corredores, várias portas, quase nenhuma janela e por algumas pessoas antes de pararmos em frente a uma enorme escadaria.
   - Subindo essas escadas vamos estar quase chegando no salão principal.
   - Vítor não vai estar no salão principal, vai?
   - Provavelmente não, mas a única maneira de chegar até os calabouços é passando por ali, já que a Ordem tem que examinar todos os prisioneiros antes de serem mandados para as celas, por isso temos que entrar, mas isso vai ser muito mais difícil do que entrar pela porta do empregados.- Ela se sentou em um dos degraus da escada e apoiou a cabeça em uma das mãos.- Se pelo menos Glória viesse até aqui...
   - Quem é Glória?
   - É uma amiga minha que serve a Ordem, ela com certeza pode entrar lá.
   - Não podemos considerar a ideia de subir primeiro e ver se a porta esta aberta?
   - Não, a porta nunca esta aberta.
   - Isabel?- Chamou uma voz baixinho.- Isabel, é você?
   - Glória!, minha amiga!- Isabel se levantou e foi em direção a voz. Uma jovem esbelta de cabelos castanhos, olhos azuis e um belo rosto veio abraçar Isabel. A jovem usava um longo vestido marrom, como aqueles que eram usados antigamente. Glória tinha uma beleza encantadora, era como uma princesa de contos de fadas, era mesmo linda.
   Isabel me cutucou levemente, talvez porque eu não conseguisse tirar os olhos da beleza de sua amiga e todos já tivessem notado isso, menos eu.
   - O que você faz aqui?- Perguntou Glória.
   - Isso não importa, mas preciso da sua ajuda para uma coisa.

14- Uma exessão felina



  Era bom estar seguro novamente, ou pelo menos o mais seguro que se pode estar quando se viaja com uma vampira e uma garotinha em uma terra aonde os habitantes são um pouco... assassinos. 
  Nos sentamos na neve para descansar um pouco. Nossa próxima parada era o castelo da Ordem que, segundo Isabel, era do pai dela e, há alguns séculos, fora do famoso Conde Drácula. Em uma situação como "um passeio turístico" eu adoraria conhecer o castelo do vampiro que fez tanto sucesso, mas na situação em que eu me apresentava, eu realmente não queria entrar lá.
  - Bell, quanto tempo você acha que vamos levar até o castelo?
  - Bem, se não formos mais interrompidos, vamos levar mais ou menos 20 minutos até lá. Sabe como é, a cidade é muito pequena, atravessa-la não leva muito tempo.
  - Entendo...
  - Ei vocês dois, olhem o que achei!- Gritou Sara que , sem que nenhum de nós dois percebesse, havia se afastado alguns metros do lugar aonde estávamos sentados.- Eu achei um gatinho!
  - Um o que?- Isabel parecia mais surpresa do que alguém que ganha na loteria.- Você achou um o que?
  - Um gatinho!- Repetiu Sara
  - Mas é impossível! Não tem gatos aqui, os gatos moram no resto do mundo, com bruxas e humanos, não aqui, eles não vivem muito quando vem parar aqui.
  - Isabel.- Sussurrei para ela tentando fazer com que ela percebesse que a menina poderia se assustar com o terrível destino do gatinho, mas ela não se importou nem um pouco com a minha chamada de atenção e foi até o lugar aonde Sara estava.
  - Deixe-me ver este bichano.- Ela se abaixou e pegou a pequena bolinha de pelos branca.- Mas que coisa mais fofa!- Exclamou ao ver os olhos azuis expressivos do pequeno gatinho.- Uma pena que eu não possa ficar com ele.
  - E, aonde você vai deixar ele Bell? Claro que vai leva-lo para algum lugar seguro, certo?
  - Felipe, nenhum lugar aqui é seguro, mas acho que sei aonde posso deixa-lo. Venham vocês dois, temos que ir rápido, não é muito longe, mas ainda assim pode nos atrapalhar um pouco.- Ela colocou o pequeno filhote de gato dentro do casaco e começou a andar.- Vai ser uma paradinha rápida, é caminho para o castelo.
  Eu e Sara seguimos Isabel até uma rua que saia da principal. Não era muito movimentada, tinha algumas casas muito bonitas e bem cuidadas. Isabel bateu na porta de uma das casas. Alguns minutos depois uma mulher baixa, com cabelos castanho-avermelhados, muitas sardas alaranjadas no rosto, olhos verdes, nariz de batata e uma boca muito, muito pequena.
  - Isabelzinha!- Exclamou a mulher.- Mas que linda você esta! Como vai seu pai?
  - Vai bem Berenice, ele vai bem. 
  - Que bom, que bom, você e seus amiguinhos querem entrar para tomar uma café? Talvez um chocolate quente?
  - Nós adoraríamos, mas não podemos, tenho pressa para chegar até a Ordem, vim porque quero saber se você ainda tem vontade de ter um gatinho?
  - Claro, você sabe que é o meu maior sonho desde a infância, mas eu nunca acharia um gatinho por aqui. Você sabe, tem aquele probleminha...
  - Sim, mas não se preocupe, eles sabem de tudo. Quanto ao gatinho...- Isabel tirou o pequeno felino de dentro do casaco- Ele é todo seu!
  Berenice sorriu. Era um sorriso sincero, ou pelo menos tão sincero quanto pode ser o sorriso de um vampiro. Seu sorriso não era bonito como o de Isabel, era mais fino, era menor, mas era verdadeiro, pelo visto ela realmente sonhava em ter um gatinho.
  - Muito obrigada Isabel! O nome dele vai ser Stanislau!
  - Hun...- Isabel levantou uma das sobrancelhas- Que belo nome. Agora temos que ir, espero que vocês se entendam.
  Voltamos para a rua principal e, consequentemente, para o nosso caminho até a Ordem. Sara andava ao meu lado. Pude ouvir ela fungando e, em seguida, uma lágrima escorreu pelo seu rosto.
  - Sara, você esta chorando? O que aconteceu?
  - Nada não, é que a minha mãe tinha um gatinho igual aquele. O nome dela era Nessie. 
  - Entendi. Você tinha um gatinho igual aquele e se lembrou do seu bichinho.
  - Não era meu. Eu sempre morei com o meu pai, só estava passando férias com a minha mãe. Quando eu voltar vou para a casa do meu pai, em Portugal.
  - Portugal é? Que legal, seu pai mora em Portugal.
  - É, mas minha mãe morava no Brasil. Era muito bom passar as férias com ela, mas era raro, a maioria das vezes ela estava viajando ou alguma coisa parecida. Dessa vez ela veio para cá, mas alguma coisa me diz que ela nunca mais vai viajar de novo.- Ela abaixou a cabeça e deixou o cabelo cair no rosto sem se esforçar para tira-los dali. Devia ser muito difícil perder a mãe com aquela idade, se para mim já seria difícil, eu que era um menino de 13 anos, imagine para ela, uma garotinha de 6.
  Continuamos andando por mais ou menos 10 minutos e eu já conseguia ver as torres do castelo. Devia ser muito grande mesmo, provavelmente a maior construção daquela cidade, já que a Ordem a escolheu como cede. Eu tinha medo de chegar até lá, era como se alguma coisa dentro de mim gritasse para que eu parasse, para que corresse para longe e voltasse para casa. Não era apenas medo, era um pressentimento ruim, talvez fosse minha cabeça me pregando uma peça, talvez alguma coisa ruim realmente fosse acontecer, mas, de um jeito ou de outro, eu tinha que continuar. Por Isabel. Por Vítor. 

terça-feira, 12 de outubro de 2010

13- Quase morto pela segunda vez

   Sara demorou alguns minutos para se acostumar com a ideia de Isabel ser uma vampira, mas logo voltou a agir normalmente. Ela devia saber que a amiga não lhe faria mal algum.
  Voltamos a caminhar pela rua principal. A neve havia sido empurrada para a calçada, então o caminho estava livre, mas eu estava com muito frio mesmo sem tocar na neve, afinal, Sara estava com o meu casaco. Era difícil usar apenas uma blusa de manga comprida, uma calça jeans e um tênis em um frio como aquele. Meus dedos estavam congelando e eu não conseguis senti-los, por isso resolvi não mexer com eles, meu nariz estava tão frio que poderiam me confundir com um vampiro a qualquer momento, meus dentes se batiam e eu estava tremendo, mas pelo menos Sara estava quentinha.
  Caminhamos alguns metros enquanto conversávamos coisas sem sentido, algumas, entre eu e Isabel, eram um pouco mais sérias, mas eram interrompidas por Sara perguntando "do que vocês estão falando?", realmente uma graça.
  Isabel parou no meio do caminho de novo, da mesma maneira que quando achamos Sara.
  - O que aconteceu?- Perguntei, esperando não ouvir "vampiros"
  - Vampiros.- É, era melhor eu me acostumar com a ideia.- Muitos deles. Não sei se vou conseguir, mas de qualquer forma, fiquem escondidos, não quero que se machuquem.
  - Sara, fique ali naquela ruazinha, esta vendo?
  - Aquela bem escura?
  - É. Me desculpe, mas não posso deixar Isabel aqui sozinha, vou ficar com ela, mesmo que seja preciso morrer para isso.
  - Felipe, você é louco? Sabe que é perigoso.
  - Sei disso, mas duas cabeças pensam melhor do que uma, não é?- Pisquei um dos olhos para ela. Ela tentou ficar brava, mas não conseguiu esconder um sorriso.
  Sara não demorou muito para se esconder, ela não queria ver mais daqueles "bichos dentuços". Eu a Isabel ficamos ali, parados no meio da rua, esperando que os vampiros chegassem, coisa que não demorou muito, porque logo um grupo de adolecentes, mais ou menos de 16 anos,  todos vestidos de preto, surgiram alguns metros a nossa frente.
  Eles vieram mais para perto, sem nenhum medo de Isabel, e muito menos de mim, afinal, eles eram 5 ou 6, nós éramos dois. Haviam apenas duas garotas, uma tinha cabelos loiros e curtos, mais ou menos na  altura do pescoço, a outra tinha cabelos castanhos e cacheados que caiam na sua cintura. Os garotos eram três, um loiro com olhos azuis avermelhados, outro com cabelos pretos e lisos e os olhos completamente vermelhos, e o terceiro chagava a ser parecido comigo: cabelos castanhos, algo entra o liso e o ondulado, olhos castanho esverdeado, altura mediana, um pouco mais baixo que os outros dois, mas mais alto que as duas garotas.
  - Ora, ora, veja quem temos por aqui, a senhorita Isabel   . Como você tem coragem de aparecer?- Disse o garoto de cabelos pretos.- E trouxe um amiguinho.- Ela mostrou as presas para mim e fez aquele chiado estranho.
  - Matheus, não toque nele!- Disse Isabel, se colocando na minha frente.
  - Calma priminha. Achei que você tivesse resolvido ser legal e reatar os vínculos com a família, mas se você não quer dividir o jantar, acho que vamos ter que pegar.- Ele parecia calmo, como se aquilo não fosse uma coisa nova. Eu demorei um pouco para perceber, mas o suposto "jantar" era eu. Que ótimo. E o vampiro que estava achando que eu era o jantar, era primo da minha melhor amiga? Mas que estranho.
  - Para, você sabe que ele não é seu jantar.
  - Priminha, você só esta dificultando as coisas. Mas, acho que Vanessa já é forte o bastante para cuidar de você, certo querida?- Ele se virou para a garota de cabelos castanhos. Eu não podia acreditar que aquela era a Vanessa de quem Isabel me falara. Não me parecia muito real. A garota olhou para Isabel, apertou os lábios e, em seguida, mostrou os dentes e os olhos vermelho- cereja. Ela ficava ainda mais bonita daquele jeito, mas também ficava ainda mais assustadora.
  - Vanessa! Vanessa, sou eu, lembra? Isabel!- A garota não parou, continuou na direção de Isabel, sem nenhuma pena. E Matheus vinha na minha direção, eu não sabia o que fazer, apenas fiquei parado ali, como uma estatua.
  Isabel também parecia assim, não mexia nenhum músculo. Eu sabia que ela não ia lutar contra Vanessa,  e Matheus também sabia disso.
  Ele estava muito perto de mim, a qualquer momento poderia me transformar em comida para vampiro. Ele parou um segundo, passou um dos dedos nas presas, para ver se estavam afiadas, e "chiou" para mim. Agora ele estava vindo muito mais rápido na minha direção, se antes ele estava perto, agora estava quase grudado.
  Achei que fosse me matar naquele momento, mas Vanessa surgiu de repente e o empurrou para longe. Eu não sabia o que ela estava fazendo, mas salvou a minha vida e isso já era o suficiente.
  - Vocês tem que sair agora mesmo daqui. Nada vai acontecer comigo, mas se não correrem, alguma coisa vai acontecer com vocês. Corram.- Isabel segurou o meu braço e me puxou até a rua onde Sara estava. Nós a chamamos a continuamos correndo, até estarmos ha uma distância segura daquele grupo estranho. Eu nunca mais queria estar em uma situação como aquela.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

12- Aquilo que mais me importa esta comigo

  Berta não demorou muito para ir até o "quarto de hospedes" para ver o que estava acontecendo.  Quando ela chegou, já estávamos nos preparando para sair. Eu fui obrigado a sair do quarto e esperar do lado de fora até as meninas terminarem de se arrumar, mas tudo bem, era melhor assim.
  - Mas, já vão?- Perguntou Berta com voz de quem vai começar a chorar.
  - Sim minha amiga, temos um longo caminho até o castelo, quanto antes sairmos daqui, antes chegamos lá. Mas prometo que vou visitar você quando voltarmos, esta bem?
  - Certo, mas venham, porque tenho me sentido muito sozinha ultimamente.
  - Esta bem, não se preocupe que estaremos aqui dentro de, no máximo, dois dias.- Isabel sorriu, fazendo com que Berta também sorrisse.
  - Vou esperar por vocês.
  Todos nos despedimos de nossa anfitriã e continuamos nosso caminho até o outro lado da cidade. Eu ainda estava com medo de ir até lá, quase havia me esquecido de que Vítor estava naquele lugar, mas com minhas duas "irmãs" ao meu lado, eu sabia que daria tudo certo.
  Alguns metros depois da farmácia, Sara começou a falar.
  - Eu estou com muito frio! Alguém tem um casaco pra mim? Se não, vou virar um saracolé!- Tirei meu casaco e vesti nela.
  - Esta melhor?
  - Sim. Obrigada Felipe.
  - De nada.
  - Como é lá Isabel? Porque vamos até esse tal castelo? Tem muitas pessoas dentuças lá? Quer dizer, iguais aquelas que...
  - Sara- Isabel se abaixou na frente dela.- Acho que já esta mais do que na hora de eu te contar uma coisa.
  - O que?
  - Promete que não vai ficar com medo de mim?
  - Por que eu ficaria? Você é minha irmã, lembra?
  - Ta bom então, lembre de que você prometeu.- Ela se levantou e olhou para mim.- Felipe, é importante que ela saiba, mas é bom você ficar perto dela, ela pode ficar com medo.
  - Esta bem.- Respondi, mesmo achando que era uma péssima ideia. Me dirigi para o lado da pequena menina, que já estava ficando com medo de tudo aquilo.
  Isabel fechou os olhos e respirou fundo. Eu sabia que ela não iria se transformar completamente, afinal, era muito exaustivo e assustava até os outros vampiros, Sara iria ter um ataque cardíaco. Ela encheu os pulmões com o ar gelado que havia a nossa volta, apertou um pouco os lábios, mas logo relaxou de novo, talvez porque os dentes não a deixassem ficar daquele jeito. Ela abriu os olhos, que já estavam parcialmente vermelhos,e sorriu para Sara, mostrando também os dentes afiados.
  - Você... Não!- Gritou Sara- Não é verdade! Você... você não pode ser um deles, não pode, é minha amiga, não é igual a nenhum deles! Não pode ser!- Ela tentou correr, mas eu segurei antes que pudesse ir muito longe. Isabel veio para perto dela e se abaixou de forma que ficasse da sua altura, fixou os olhos cor de sangue nos de Sara e colocou as mão em seus ombros.
  - Você tem razão Sara, não sou igual a nenhum deles, eu não sou malvada como eles, sou sua irmã, esta  lembrada? Não vou te fazer mal, não vou fazer mal a ninguém que você goste, sou sua amiga!- A menina  desviou o olhar, mas Isabel a obrigou a olhar nos olhos dela. Ela já voltava a forma humana, seus olhos estavam voltando a ser azuis e seus caninos estavam diminuindo.
  - Porque você é assim?
  - Porque nasci com uma doença e, se não fosse transformada em vampira, morreria. Meus pais só fizeram isso para o meu bem, mesmo que as vezes que acho que a morte é melhor do que essa vida.
  - Isabel!!- Bronqueei- Não repita isso, nunca mais! Me promete que você nunca mais vai dizer isso!- Quando me dei conta já estava parado na frente dela, ajoelhado na mesma altura, eu segurava suas mão com tanta força que já estavam ficando roxas. Também percebi que haviam lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Talvez eu estivesse com medo de que meu sonho acontecesse, mas de qualquer forma, algo não me deixava soltar as mãos dela, era como se não quisesse a deixar ir.
  - Calma Felipe, não se preocupe. Não acho que seja tão fácil assim que eu morra.- Ela conseguiu tirar uma das mão da "prisão" e a colocou no meu rosto. Eu nunca tinha percebido como ela era fria.- E, se alguma coisa acontecesse comigo, seria para proteger você, ou Sara, para que não se machuquem nunca.
  - Não!!!- Agora quem estava gritando era eu- Não, você não pode! Me prometa que nunca aceitaria morrer por minha causa, eu me culparia pelo resto da minha vida.- Ela sorriu. Aquele sorriso lindo e perfeito que sempre conseguia me fazer feliz. Ela não precisou dizer mais nada, eu sabia que ela estava bem e que sempre estaria, acontecesse o que fosse, mas ela estaria bem, e era isso que me importava.

domingo, 10 de outubro de 2010

11- Ganho duas novas irmãs

  Já estava escurecendo e Isabel resolveu que era mais seguro passarmos a noite na casa de Berta, eu e Sara concordamos na mesma hora, afinal estávamos muito cansados e sem nenhuma vontade de continuar andando.
  Berta nos levou até um pequeno quarto escondido nos fundos da farmácia, era úmido a apertado, as camas não tinham travesseiros e só haviam 3 camas, mas ainda assim era o bastante para passarmos a noite.  Nossa anfitriã deu uma camisola para cada uma das meninas e eu tive que dormir com a mesma roupa que passei o dia, já que eu e Isabel havíamos esquecido as malas no aeroporto.
  Não demorei nem um pouco para pegar no sono, foi só fechar os olhos e o sono tomou conte de mim.
 
  Uma moça de longos cabelos dourados parou na frente de um caixão. Haviam lagrimas escorrendo de seu rosto, mas ela não parecia triste, parecia ter raiva do que estava acontecendo.
  - Eu vou vingar vocês, isso não vai ficar assim.- Eu não conseguia ver o nome escrito no caixão, mas com certeza era uma criança, talvez adolecente, no máximo um adulto baixinho.- Não se preocupe Isabel, sua morte não foi em vão, eu sei que vou vinga-la e sei quem vai me ajudar.- Isabel? Não, isso não poderia ser verdade.
  A moça se virou para mim e pude ver seu rosto: olhos azuis, sobrancelhas bem feitas, nariz empinado e boca bem desenhada, ela me lembrava alguém... Sara! Ela era Sara.
  - O que você esta fazendo ai Felipe? Parado olhando como se nada estivesse acontecendo, você não entende?

  Me levantei assustado. Olhei para o lado para ter certeza de que Isabel ainda estava ali, e ela estava, viva como sempre. Ela abriu um pouco os olhos, apenas o suficiente para conseguir me ver.
  - O que foi Felipe? Esta tudo bem?- Eu a abracei por impulso, estava feliz por ela estar viva e por aquilo ter sido apenas um sonho.
  - Estou sim, agora estou.- Os olhos dela estavam arregalados, o que me fez ficar ainda ais feliz, afinal, mortos não podem arregalar os olhos.
  - Que bom agora é melhor nós dois voltarmos a dormir, não acha? Temos um longo dia pela frente.
  Ela se virou para o lado e fechou os olhos, tentei fazer a mesma coisa e pegar no sono com a mesma facilidade que antes, mas não consegui.
  As horas se passaram e eu não consegui dormir mais. Me debrucei na janela para ver o sol nascer enquanto esperava as meninas acordarem.
  - Uma beleza. não é? Ver o sol batendo na neve pela primeira vez, eu sempre acordava cedo para ver isso quando morava aqui.- Isabel estava parada de pé atras de mim, usando a camisola de Berta que ficava gigantesca nela. Os cabelos negros cintilavam com a luz do sol e os olhos azuis refletiam o brilho da manhã, ela era muito bonita, eu tinha sorte de ter uma amiga como ela. Bell veio para perto de mim e se debruçou na janela, ao meu lado.
  - É muito bonita essa cidade, por mais que seja perigosa.
  - Sim, sim, eu sei. Felipe, posso te pedir uma coisa?
  - Claro Isabel, é claro!
  - Você me desculpa?
  - Pelo que?
  - Por ter trago você para cá, colocado a sua vida em risco, pelo eito que falei com você ontem, por ter vindo para cá sem ter muito onde ficar, por ter esquecido nossas malas no aeroporto...
  - Para Isabel, não tem problema, você é a melhor amiga desse mundo e eu nunca vou ficar bravo com você por uma coisa dessas. Mas, se você que que eu te desculpa, é claro que desculpo. E fique sabendo que você é a garota mais legal que existe!
  - Obrigado, você não sabe o quanto significa para mim!- Ela me abraçou. Eu nunca imaginei que algum dia isso iria acontecer, mas eu estava tão feliz por ela estar ali, por estar viva e por existir, ela transformava todos os meus problemas em coisas insignificantes, me fazia ficar feliz o tempo todo, eu simplesmente a adorava. E eu também a abracei.
  - O que vocês estão fazendo?- Perguntou Sara enquanto esfregava os olhos com a mão.
  - Vem cá Sara.- Chamou Isabel, para a minha grande surpresa. A menina veio, meio desconfiada, para perto de Isabel.- Você é o nosso amuleto da sorte, esta bem? Olha, eu sei que não fui muito legal com você ontem, mas não se preocupe, as coisas vão melhorar entre a gente. Vamos ficar sempre juntos, esta bem? Nós três, um cuidando do outro, como... irmãos.
  - Sim!- Disse Sara, abraçando sua mais nova irmã, que até ontem tinha "cara de mal".

sábado, 9 de outubro de 2010

10- Achamos um atraso loiro e com olhos azuis

 Nos despedimos de Berta e continuamos andando pela cidade. Eu esperava que Isabel tivesse um plano, um ótimo plano, afinal, alguma coisa me dizia que aquele vampiro que tínhamos visto mais cedo não era a pior coisa daquele lugar. Passamos por vários turistas, que pelas expressões estavam um pouquinho... apavorados.
  Isabel parou de repente no meio de uma rua quase deserta.
  - Ah não.- Murmurou ela enquanto me puxava rapidamente para um beco estreito que eu, até então, não tinha visto.
  - O que foi?
  - Shhhh! Não podemos chamar atenção, fique quieto ai no canto e não se mecha!- Eu odiava quando ela me dava ordens, mas ali era ela quem sabia o que fazer, não eu.
  Não levou nem um segundo para que um grupo de pessoas passassem correndo na rua aonde estávamos antes. Uma garotinha parou de costas para nós, como se visse algo de muito errado ali. Isabel colocou a mão na boca dela, para que ela não gritasse, e a puxou para o canto aonde estávamos escondidos. Olhei para o rosto da garota: a linda menina de seis anos, loira de olhos azuis que havia me pedido ajuda no aeroporto estava ali, na minha frente. Pelo visto o guarda não havia achado a mãe da menina e ela resolveu sair do aeroporto para procura-la... ou simplesmente para morrer.
  - Garota, você é louca?- Perguntou Isabel, que pelo visto estava irritada pela menina não ter ficado no aeroporto, segura.
  - Eles... dentes... mamãe... atrás de mim.- As lágrimas da garotinha estavam me dando pena. Pobre garota, ela havia descoberto que a mãe fora morta por vampiros, devia ser difícil aguentar aquilo.
  - Sim, sim, eu imagino que eles estejam atras de você. Mas, olha, é melhor eu achar um lugar seguro para você, não é bom você ficar passeando por ai sozinha, ok? É muito perigoso.
  - Isabel, você não vai deixar ela sozinha, não é? Isso é perigoso, e irresponsável. Ela pode morrer, tem que deixar ela ir com a gente.
  - Felipe, é muito perigoso, é mais seguro para ela ficar com Berta do que com a gente.
  - É possível que Berta vá fazer um assado de menininha. Ela vai com a gente, não vou deixar você largar ela por ai.- Me abaixei na altura da menininha, dando o assunto com Isabel por encerrado e mudando o tom de voz, para não assustar a garota- Qual o seu nome menina?
  - Sara.
  - Que lindo nome. Bem, você não achou a sua mãe, não é?- Sara balançou a cabeça negativamente.
  - Bell...
  - Ta, ta bom, mas ela vai nos atrasar muito. Vamos ter que voltar lá na farmácia para Berta colocar aquele remédio nela.
   - Eu sabia que você ia acabar deixando. Sara, você vem com a gente, pode ser? Vamos cuidar de você.- Ela assentiu e Isabel revirou os olhos.
  - Ta, anda logo, temos que ir rápido, não da para ficar "enrolando" muito por aqui.- Ela se levantou e saiu do beco, andando em direção a farmácia.
  - Ela tem cara de mal.- Comentou a garota, agora que já estava mais calma.
  - É, mas ela é bem legal, não se preocupe, ela não morde... ou melhor, ela não vai te morder.- Sara arregalou os olhos azuis, como se já estivesse com medo de Isabel e eu não tivesse ajudado muito, o que me fez rir, afinal, ela era uma graça.
  Eu a ajudei a levantar e nós fomos atras de Bell, acelerando o passo para tentar alcança-la.
  Não demoramos muito para chegar até a farmácia, aonde a placa ainda balançava e fazia aquele barulho irritante. Nós entramos e fomos até o laboratório, Berta preparou o remédio e deu para Sara tomar.
  - Eu não vou beber isso! É muito estranho.- Ela colocou o nariz sobre o copo e cheirou o líquido- E cheira mal. Isso deve ser veneno!
  - Quer morrer garota? Então é melhor você beber isso.- Disse Isabel, mais irritada do que nunca. Eua fitei com o olhar mais fulminante que consegui e falei para a garota.
  - Sara, olha só, isso ai é um suquinho para os vampiros não verem você. Não é veneno, eu tomei e estou vivo.
  - Você acha que eu sou idiota? Eu ouvi a garota dizendo que é remédio, ok? Não é suco, suco não tem esse cheiro. Mas, você bebeu mesmo?- Eu fiz que sim com a cabeça- Ta, então eu vou tomar, mas só porque você falou, se eu morrer a culpa é sua!- Ela tampou o nariz com uma das mãos e engoliu todo o líquido rapidamente.- Ai que estranho! Eu estou viva?
  - Esta sim Sara.
  - Mas estou me sentindo como um consultório de dentista: com cheiro de dente.- Dessa vez todos rim os, inclusive Isabel, acho que ainda viveríamos muitas aventuras, nós três.- Do que vocês estão rindo? Não tem graça nenhuma!
  - É claro que não Sara, é claro que não!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

9- Engulo uma crítica indireta

  Se tinha uma coisa que eu não queria naquele dia era ter contato direto com mais algum vampiro, além de Isabel, mas pelo visto não tinha muita escolha: ou morrer ou falar com a suposta "amiga" de Bell. 
  Nós paramos em frente a uma pequena loja de tijolos, sem janelas e com as portas abertas. Acima de nossas cabeças havia uma plaqueta de madeira velha que balançava com a brisa gelada, fazendo um barulho desagradável e irritante. Nela estava escrito algo como "Аптека", talvez fosse uma palavra russa, ou da língua que se fala na Roménia. 
  - Vamos, Berta já deve estar lá dentro.- Segui ela até uma pequena e apertada sala, uma espécie de cozinha estranha. Lá dentro havia uma mulher alta e um "pouquinho muito" fora do peso, que provavelmente era a cozinheira. Ela tinha cabelos tingidos de loiro e curtos presos em um rabo-de-cavalo, olhos castanhos e bochechas rosadas que se destacavam em sua pele pálida. 
  - Isabel, minha amiguinha! Como você cresceu criança, já parece até uma moça!- Isabel corou
  - Berta, eu só tenho 13 anos, não sou uma "moça"ainda. Bem, a minha idade não vem ao caso, o que importa é que , como você deve ter percebido, o meu amigo é 100% humano. Você também deve imaginar que eu quero que ele continue vivo, certo? Então será que você não tem uma coisinha ai para disfarçar o cheiro dele?
  - Oh, bem!- Disse Berta colocando o grande nariz pálido na frente do meu rosto- Ele realmente tem um cheiro bem humano. Vou ver o que posso fazer.- Tentei não ficar ofendido com o comentário sobre meu cheiro. - Agora é melhor esperarem lá dentro crianças, eu vou ver o que posso fazer por ele, mas pode demorar, então fiquem lá, é melhor.
  Passamos por uma porta que até então que não tinha percebido e entramos em outra sala apertada. Nela haviam duas poltronas vermelhas velhas, um lustre caindo aos pedaços, cortinas velhas e um tapete persa caríssimo que dava um toque de luxo a decoração. Isabel se sentou em uma das poltronas e eu me sentei na outra. 
  - Aonde você a conheceu?- Perguntai tentando puxar assunto
  - Aqui mesmo, eu meu pai sempre vínhamos a farmácia para compara alguma coisa.- Sério mesmo que aquilo era uma farmácia? Achei que fosse um restaurante falido.
  - Entendo. Isabel, me diz uma coisa, o que aconteceu com a Vanessa? Quer dizer, você me falou que ela virou vampira, não é?
  - Ela é a chefe da ordem.
  - Como assim? Ela é malvada agora? Ela é... a "chefona"?
  - É alguma coisa desse gênero. Ela mudou muito ao longo dos anos. A ídeia de não morrer nunca lhe subiu a cabeça, ela ficou um pouco mais vampira do que humana, se esqueceu completamente de quem realmente é. 
  - Quer dizer que é ela quem mandou seu pai ir para o Brasil?
  - Não, mas é provável que tenha sido ela quem trouxe Vítor para cá.
  - Entendi. Você teria coragem de lutar contra ela?
  - Coragem? Sim. Sabe, depois que minha mãe morreu Vanessa prometeu que nunca ia me deixar sozinha, mas não demorou muito para essa promessa ser quebrada. É difícil falar, mas acho que guardo um certo rancor, um certo ódio dela.- Nunca imaginei que aquela garotinha com cara de anjo sentisse ódio de alguma coisa, ou de alguém, mas pelo visto, nem ela era perfeita.
  - Crianças!- Chamou Berta de dentro do lugar que agora eu achava ser um laboratório- Venham, já sei como dar um jeito no garoto. Pude ver uma lágrima cintilando no rosto de Isabel, mas deixei para lá, deveria ser muito difícil pensar em tudo isso.
  Fomos até o laboratório e Berta me deu uma coisa branca para tomar. Tinha um gosto estranho, como um remédio de tutti-frutti para crianças. Na mesma hora que o líquido passou pela minha boca, já senti o efeito. Eu nunca tinha me sentido tão limpo. Eu não sentia nenhum cheiro saindo de mim, nem suor, nem bafo de algum tempo sem escovar os dentes, nada, apenas um cheiro frio e indefinido. Um cheiro de vampiro.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

8- Vejo uma luta de vampiros

  Saímos do aeroporto e, assim que consegui ver o que existia alem daquelas enormes portas de vidro, entendi porque os vampiros escolheram aquele lugar para morar. Era lindo e sinistro, a neve tapava todo o chão, as construções todas em estilo medieval, es pessoas que caminhavam nas ruas evidentemente não eram humanas. Todas pálidas, como se nunca tivessem pego sol na vida, os olhos pareciam mostrar o terror que causavam em suas vítimas, as roupas de inverno escondiam quase tudo o resto, mas algo me dizia que os dentes afiados e pontudos também estavam ali.
  - Eles me dão um pouco de medo.- Falei baixinho para Isabel
  - Eles dão medo em todo mundo. É quase impossível não ficar apavorado quando mostram o rosto inteiro.
  - Você fala como se não fosse um deles.
  - É que eu não me pareço com eles, então finjo que não sou. Esses vampiros aqui de Sighisoara matam por prazer, por isso não conseguem voltar totalmente a forma humana, então ficam assim, com a transformação pela metade.
  - Matam por prazer? Quer dizer que todos podem ser mortos por eles, até você?
  - Não, eles não podem matar vampiros. Nós não temos sangue no corpo, eles não conseguem nos matar, apenas nos causar dor.
  - Muito animador.- Agora eu estava com medo de verdade, se eles conseguiam causar dor em alguém que nem sequer pode morrer, imagine em um mortal qualquer como eu.
  Continuamos andando. Isabel parecia calma, com se soubesse exatamente o que estava fazendo, mas eu não sabia e não estava nem um pouco calmo. Não conseguia parar de olhar para os lados, tinha que ter certeza de que ninguém estava tentando me matar. Qualquer um para quem eu olhasse me mandava um olhar assassino como resposta, ou um barulho estranho, como o que um gato arisco que se sente agredido, um certo tipo de chiado.
  Até que estava indo tudo bem, até que um "homem" pálido, alto e magro parou na nossa frente.
  - Ora, ora.- Disse ele- Veja quem eu encontro por aqui, a caçula dos Stoker. E ela trouxe o jantar! Mas que bom, o conde vai adorar encontra-los por aqui.- Conde? Ai não, ele disse mesmo conde? Tipo o Conde Drácula? Eu estava morto e não havia se passado nem um dia de viagem ainda.
  Os olhos do homem começaram a ficar muito vermelhos, ainda mais vermelhos que os de Isabel, se é que isso era possível. Ele tirou o cachecol da frente da boca e eu pude ver seus dentes sujos de sangue. Mas, não era sangue seco ou alguma coisa do tipo, era sangue vermelho vivo, como se tivesse acabado de ser "arrancado" do seu verdadeiro dono.
  - Desculpe Radu, mas ele não é o seu jantar e eu não estou com muita vontade de ver o conde hoje.- Os olhos dela também começaram a ficar vermelhos, as presas começaram a crescer, a pela ficou ainda mais branca do que o normal. Ela estava me dando muito medo. Isabel fez aquele chiado de gato arisco, que me pareceu um tipo de ameaça vindo dela. O vampiro repetiu o chiado.
  - É melhor você não me ameaçar, senhorita. Não é muito seguro para você, afinal, se me lembro bem, você e seu pai foram banidos, não é?
  - Não fale de meu pai!- Isabel investiu para cima dele, era lógico que ela tentava morde-lo de alguma forma, para... como mesmo ela havia dito? Causar apenas dor.
  Ela conseguiu atingi-lo no ombro e a expressão dele mudou de ameaçadora para apavorada. A dela também, mas ela não estava apavorada, estava sofrendo por fazer aquilo, ela mesma havia me dito que não gostava de ser vampira.
  Ela soltou o ombro de Radu e caiu aos meus pés. Ela colocou a mão sobre o local da mordida, chiou novamente para ela e saiu correndo pela rua, na direção do castelo.
  Me abaixei para poder ajudar Isabel, que já voltava a sua forma original. Ela parecia estar desmaiada, mas não estava, pois se levantou um pouco e recuperou o fôlego.
  - Aquilo foi incrível, não sabia que você era tão forte.
  - Não Felipe, não foi incrível. Agora o conde vai saber que estamos aqui e nossa vida vai ficar bem mais difícil.
  - Você esta bem?- Pude ver que ela ainda estava abatida pela mordida.
  - Não, aquela transformação total e repentina me deixa exausta. Eu não vou conseguir fazer aquilo de novo, então é melhor que você não chame muita atenção.
  - Eu chamo atenção?
  - É claro, ou você acha que um humano passa despercebido por aqui? Eu também chamo um pouco de atenção, mas eles sabem que não sou humana, agora você, pelo visto não tem nem um pingo de sangue vampiro, é totalmente humano.
  - Vou tentar não levar isso como uma ofensa.
  - Temos que disfarçar o seu... cheiro. Venha, acho que tenho uma amiga que pode ajudar.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

7- Descubro que não teria escapatória

  O voo até a Europa Central demorou um pouco, mas pelo visto valera a pena. Eu havia trocado de lugar com Isabel, a fim de ver melhor a paisagem e, UAU, era simplesmente incrível. Todas as casas estavam cobertas de neve, os carros passavam lá embaixo como formiguinhas, e o cemitério... bem, ele realmente chamava atenção, era grande e luxuoso. Fiquei pensando se, quando os vampiros matavam o seu...hum... jantar, se as vitimas iam para o cemitério ou ficavam apodrecendo em algum lugar por ali. Eu realmente esperava que fossem par o cemitério, porque eu estava achando que seria uma delas.
  - É bonito, não é?- Perguntou Isabel, atrapalhando meus felizes pensamentos sobre ter meu sangue sugado até a morte.
  - Hã? Ah, claro, é sim.
  - Essa cidade se chama Sighisoara, é onde meu pai tem um... bem... castelo de campo.
  - Castelo? Você esta brincando com a minha cara, não é?
  - Não, não, olhe ali.- Ela apontou para uma enorme construção gótica coberta de neve.- Ou pelo menos era do meu pai, antes de sermos banidos para o Brasil e a Ordem tomar o castelo para ela.
  - Agora é a Ordem que "mora" ali?
  - Não, é como se fosse um ponto de reuniões, o lugar onde os novos vampiros são treinados. Provavelmente Vítor esta lá, então é para lá que vamos.
  - Deixa eu te lembrar de uma coisinha? Eu não sou um vampiro.
  - Eu sei disso, você sabe disso, mas eles não precisam saber.- Eu não sabia o que ela pretendia fazer para que aqueles assassinos sanguinários não notassem que eu era humano, mas qualquer coisa era melhor do que morrer na mão... ou nas presas, deles.
  O avião pousou. Eu nunca havia visto neve, por isso não conseguia parar de olhar para o chão sob meus pés. Não era assim que eu imaginava ver a neve pela primeira vez, na verdade, eu imaginava ir esquiar quando tivesse 15 anos, não salvar um amigo em, como era mesmo o nome do lugar? Sighisoara.
  Caminhamos um bom tempo pelo aeroporto. Parecia tudo muito normal, pessoas rindo, usando roupas comuns, tons de pele diferenciados e que me pareciam bem humanas. Uma garotinha de mais ou menos 6 anos, cabelos dourados e cacheados e olhos azuis parou na minha frente e puxou a manga do meu casaco.
  - Moço, eu não sei onde esta a minha mãe, pode me ajudar a achar ela?- Olhei assustado para Isabel. Me ocorreu que talvez a mãe de garotinha não fosse mais voltar. Ela se abaixou na altura da menina e disse:
  - Olha querida, vem com a gente que eu vou te levar até um guarda, ele vai ajudar a achar a sua mãe.- Ela olhou para mim. Eu sabia o que aquele olhar queria dizer: a mãe da menina não iria volta nunca mais.
  Levamos a garotinha até o guarda mais próximo e continuamos a nossa "jornada" até o lado de fora do aeroporto.
  - Eles não teriam coragem de matar uma garotinha daquele tamanho, teriam?
  - Acredite, eles não se importam nem um pouquinho com a idade.- Engoli em seco. Pelo visto eu não teria nenhuma escapatória se eles resolvessem me... jantar.

6- Aceito uma viagem sem volta

  Eu não tinha certeza se deveria aceitar o convite que Isabel me oferecera. Como ela mesma disse, era perigoso demais. Mas eu tinha que salvar Vítor, ele era meu melhor amigo, eu não podia deixa-lo sozinho lá, como um vampiro. Então estava decidido. Eu ia aceitar.
  - Pai- Chamei de porta do escritório- Pai, eu posso te perguntar uma coisa?
  - Já esta perguntando, não é? Vamos, seja rápido e não atrapalhe o meu trabalho.
  - Certo, hã, Isabel me convidou para ir até a Transilvania com ela. Não é uma viajem demorada, apenas alguns dias, para resolver alguns assuntos da família dela...- Certo, eu menti um pouco, mas se eu dissesse que ia salvar um amigo que foi transformado em vampiro ele não ia me deixar ir. Ia me mandar para um psiquiatra.
  - Você já esta falando demais meu filho. Pode ir nessa viagem maluca sim, desde que eu não tenha que pagar nada.
  - Não, o pai da Bell vai pagar tudo
  - Ótimo então, pode ir, quanto mais tempo passar longe de casa menos vai incomodar as suas irmãs e a sua mãe.
  Sai do escritório para não incomodar mais meu pai. Minha mãe não precisava saber que eu ia viajar, ela nem se importaria, na verdade, iria comemorar a minha saída.
  Subi as escadas até o meu quarto e comecei a arrumar as minhas malas. Coloquei algumas roupas mais quentes, pois Isabel havia me dito que lá era muito frio, o que já era de se esperar já que ficava em  um região montanhosa e era uma terra habitada por vampiros. Coloquei alguns casacos grossos e um par de luvas, eu não tinha botas então levei um par de tênis. Peguei minha escova de dentes e outras coisas como ela.
  - Acho que minha mala esta pronta.- Falei para mim mesmo, afinal não havia mais ninguém no quarto.
  O telefone tocou e ouvi minha irmã atender:
  - ALÔ?? Quem é?- Perguntou Marina com sua voz esganiçada.- Ah, é pro Felipe? Eu vou chamar ele, ta bom?- Ela falava devagar como se ela fosse adulta e estivesse falando com um bebê de 2 anos no telefone. Eu desci as escadas rapidamente para evitar que meus tímpanos estourassem com o grito agudo dela.
  - Não precisa chamar, eu já estou aqui.- Falei enquanto tampava a boca dela para ela não gritar. Marina não era chorona como Heloísa, mesmo sendo mais nova, mas Marina era brava e persistente, o que fazia com que fosse ainda mais chata do que a outra.
  - TEM UMA GAROTA QUERENDO FALAR COM VOCÊ NO TELEFONE, FELIPE!- Gritou ela ao pé do meu ouvido simplesmente por que eu disse para ela não fazer isso.
  - Ta bom Marina, agora sai, eu já atendi o telefone, o.k.? Alô? Bell?- Minha irmãzinha revirou os olhos e saiu andando, pelo visto ela queria prolongar um pouco mais aquela conversa
  - Oi, hã, sua irmã não gosta muito de você, não é?
  - Ela é mais nova. Mas, vamos direto ao ponto: meu pai me deixou ir. 
  - Certo, eu vou em segredo porque meu pai jamais me permitiria voltar pra lá, mas eu vou passar na sua casa em cinco minutos.
  - Você mora tão perto assim?
  - Não, para uma humana eu moro muito longe, mas para um morcego não.
  - Morcego?! -  Ta, pelo visto tinha muita coisa sobre ela que eu não sabia.
  Fui para a frente de casa e esperei. Cinco minutos depois um morcego estava chegando lá. Ele pousou no chão e se transformou na minha amiga. Talvez não exatamente a amiga que eu estava acostumado a ver: Isabel tinha olhos vermelho sangue no lugar do azul-celeste e caninos muito, muito, pontudos e afiados que faziam com que ela não conseguisse fechar a boca direito. 
  - Bell, você esta um pouco...
  - AH, me desculpa- Disse ela colocando a mão nas presas como se acabasse de perceber que elas estavam ali- Não se preocupe, o efeito é temporário e eu não vou morder você.- Estremeci só de pensar na ideia, mas eu sabia que Isabel não faria isso comigo- E é melhor você se acostumar com isso, lá na Transilvania quase todo mundo anda assim, com olhos vermelhos e presas afiadas.
  - Er... Que bom.- Estava começando a achar que talvez os outros vampiros não fossem tão bonzinhos quanto minha amiga e que, talvez, eles estivessem com fome.- Eles não vão me... me comer, não é?
  - Bem, talvez sugar o seu sangue até você ficar totalmente seco e sem vida, mas não te comer.- Ela riu, eu não.
  - Muito animador.
  - Não se preocupe, eu não vou deixar nada acontecer com você, ta? Você é meu melhor amigo, e vai voltar vivo dessa viagem.- Que ótimo, agora minha guarda costas era uma "garota-morcego". 
  Pegamos um taxi até o aeroporto, que era muito longe da minha casa. Isabel até poderia ir voando, mas eu não tinha essa vantagem e por isso sugeri o taxi. Ela estava ansiosissima para andar de taxi, disse que nunca tinha entrado em um.
  - Isabel, onde estão as suas malas?
  - Malas? Eu tenho um... uma casa lá. Não preciso de malas.
  - Casa lá? Conta outra.- Mas tudo bem, o taxista não podia saber o que exatamente ela era, e nem aonde estavam as malas dela.
  Chegando no aeroporto, não levamos muito tempo para entrar no avião. Me ocorreu que Isabel tinha comprado as passagens sem o pai dela saber, o que parecia um pouco impossível, afinal, que tipo de menina de 13 anos banca uma viagem de duas pessoas para a Transilvania, sem o pai dela saber? E, como ela encontrou um voo para lá?
  - Pobrezinhos.- Comentou ela, já devidamente sentada em sua poltrona na janela.
  - Pobrezinhos de quem?
  - Dos passageiros. Os "habitantes" de lá adoram receber visitas, mas elas não costumam voltar... vivas de lá.- Agora eu estava completamente arrependido de ter aceitado aquela viagem maluca para a Romenia.

domingo, 3 de outubro de 2010

5- A verdade tem gosto de sangue

  Cheguei na escola cedo no dia seguinte também e fiquei olhando os carros passarem do lado de fora da cerca, do mesmo jeito que fazia antes de conhecer Isabel. Eu ainda tinha esperanças de ver Vítor entrando no pátio e vindo me cumprimentar, mas minha cabeça me dizia que isso não ia acontecer.
  A BMW parou na frente do portão e Isabel saltou do carro com cachoeiras de lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Ela bateu a porta do carro com força e correu para dentro de escola. Passou por mim, mas não parou, provavelmente não queria falar com ninguém, ou talvez não tivesse me visto, seguiu rapidamente para dentro do colégio. Mas desta vez eu a segui. Ela sabia alguma coisa, eu tinha certeza, alguma coisa que eu não sabia.
  Ela foi até o fim do corredor e se sentou lá, no chão, sozinha para chorar. Eu hesitei um pouco antes de ir até ela.
  - Bell, o que aconteceu?- Ela não olhou para mim, pelo menos não diretamente. O cabelo tapava seus olhos. Ela apenas respondeu entre um soluço e outro:
  - Nada.
  - Garotas como você não choram por "nada".
  - Eu estou chorando, não estou? Então.- Agora ela estava gritando
  - Fique calma e me conte o que aconteceu.
  - Calma? Felipe, como você pode me pedir para ficar calma diante de uma situação como essa? Eu só queria... queria que fosse diferente... por quê? Por quê eu?- Ela já não conseguia falar direito. Era como se estivesse perdida em seus pensamentos. Ela chorava cada vez mais e cada vez mais alto. Eu não sabia o que fazer, então a abracei. Era muito ruim vê-la chorar daquela forma.
  - O que esta acontecendo? Eu não posso te ajudar se não souber qual o problema.
  - Eu não posso te contar, eu não quero que aconteça de novo. Não com você.
  - Aconteça o que? Isabel, me diga.- Ela encostou a cabeça no meu ombro e chorou por mais alguns minutos, deixando-me totalmente encharcado, antes de se acalmar e parar de chorar um pouco.
  - Eu... eu não quero te contar. Eu quero que continue vivo.
  - Aquilo que eu sonhei... aconteceu, não é?- Ela balançou a cabeça afirmativamente. O pai dela tinha matado meu melhor amigo? Ele era um vampiro? Onde Vítor estava? Por quê ela não me contou antes? Muitas perguntas surgiram na minha mente ao mesmo tempo, eu não sabia como começar.- Então, o seu pai é um vampiro?
  - Felipe, não me entenda mal, mas eu não posso te contar. Se eu contar, vai acontecer de novo.
  - Olha, eu não sei o que aconteceu, também não sei o que vai acontecer, mas eu sei que o seu pai é um vampiro, sei que ele matou meu melhor amigo e sei que você sabe alguma coisa que eu não sei.
  - Felipe, se Vítor teve sorte ele esta morto, mas pode ser muito pior do que isso. Eu vou te contar o que aconteceu, se você estiver disposto a arriscar a sua vida.
  - Conte, já estou arriscando por falar com você, mas não é por isso que vou parar de falar.
  - Bem, então o que aconteceu foi o seguinte: Quando eu tinha 5 anos eu fiz uma amiga que era mais velha que eu. O nome dela era Vanessa e ela era como uma irmã para mim, eu confiava nela para qualquer coisa, mas ela era humana e eu não tinha noção... noção o perigo. Eu contei para ela que eu e minha família somos vampiros, esse foi o maior erro da minha vida.- As lágrimas voltaram a escorrer pelo rosto dela- Ela não soube guardar segredo. Contou para um amiga e, bem, Eles vieram atras de nós.
  - Quem são Eles?
  - A Ordem. São os maiores e mais poderosos vampiros de todos os tempos. A grande maioria da família Drácula, mas isso não vem ao caso. Contar para um humano que você é um vampiro é um tipo de suicídio. Enfim, Eles vieram atrás da minha família e de Vanessa. Eles acharam minha mãe e a mataram- Ela hesitou por um segundo e continuou- E não demorou muito para encontrarem a mim e a meu pai. Nós seriamos mortos, e eu seria torturada, mas Vanessa... Vanessa não permitiu isso. Ela foi no meu lugar, mas no lugar da tortura ela foi transformada em vampira e foi obrigada a fazer parte da Ordem.
  - Isso não me parece tão ruim.
  - Felipe, olhe o que você acaba de dizer!- A cachoeira havia voltado. Ela estava chorando muito- Eu, meu pai e todos os outros vampiros temos que beber sangue humano para sobreviver. Nós temos que matar pessoas indefesas para nossa sobrevivência. Não é bom ser um vampiro, é triste, é horrível!
  - Certo, acho que acredito em você.
  - É bom que acredite. Eu e me pai fomos mandados para cá para conseguirmos novos... novos membros pra a Ordem. Novos vampiros.
  - Então quer dizer que agora... Vítor...- Dessa vez eu me perdera nos meus pensamentos. Então Vítor não estava morto, ele era um vampiro. Um sanguessuga impiedoso? Não, não era verdade, ele não era assim.
  - Sim, é provável que meu pai não tenha matado ele por completo, só o tenho transformado em um de nós.
  - Não existe nenhum jeito de fazer ele voltar ao normal?
  - Sim, existe um, mas vamos ter que trazer ele para cá antes. E pra isso eu vou precisar da sua ajuda.

4- Não pode ter sido só mais um sonho

  Deitei na cama, pronto para dormir. Eu havia dormido muito pouco na noite anterior e por isso estava cansado demais para continuar acordado. Por mais que eu estivesse com sono, eu não conseguia dormir, era como se eu tivesse medo de fechar os olhos. Eles lutavam contra mim e não queriam se fechar, mas finalmente eu venci a luta e dormi.

  Vítor estava sozinho em casa, parado na frente do computador falando com uma amiga, quando um homem apareceu atras dele.
  - Você sabe demais garoto.- Disse o homem. Vítor olhou aterrorizado para ele, de alguma forma eu sabia que ele estava paralisado.
  O homem deu um passo para frente e pude reconhece-lo: era o pai de Isabel. Mas, com certeza tinha alguma coisa de estranha nele. Olhei bem para seu rosto: os cabelos negros perfeitamente arrumado com gel, a pele branca como a da filha, os olhos... os olhos eram a coisa estranha. Seus olhos estavam em um tom de vermelho vivo, algo como aquelas cerejas industrializadas que parecem gelatina. Ele sorriu, seu sorriso não era como o de Isabel, parecia ser mais inteligente... mais maligno. Vítor tentou se mexer, eu podia ver o terror em seus olhos, mas o homem não deixou, ele se colocou na frente de meu amigo. Eu queria gritar, mas minha voz não saia, tinha algo errado com aquele homem, algo muito mais perigoso do que o pai de uma amiga. Ele sorriu novamente, mas agora seus caninos eram longos e afiados. Ele chegou mais perto de meu amigo, era como um... um vampiro. Eu queria dizer para Vítor correr, mas não adiantava, minha voz não saia. Vítor começava a chorar, chorar de pavor. O homem mordeu o pescoço do meu amigo. Aquilo não estava certo. Agora consegui gritar:
  - Pare!!!

 Acordei assustado. Olhei o relógio: 6:00. "Que incrível, acordei na hora" pensei. Eu estava assustado com o sonho, queria chegar logo na escola para ver se Vítor estava bem. Me arrumei rapidamente para poder chegar cedo na escola e contar meu sonho para Isabel, eu sabia que ela poderia me dizer o que significava. Coloquei a mesma roupa que havia usado no dia anterior, não tinha tempo de ficar escolhendo o que usar, e caminhei até a escola.
  Ainda não havia quase ninguém no pátio e, como era cedo, percebi que era um dos primeiros a chegar. Fui logo procurar Isabel ou Vítor, eu tinha que falar com eles, para ter certeza de que estava tudo bem. Aquele sonho tinha sido real demais.
  Encontrei Isabel sentada em um banco lendo um livro. Era estranho ela chagar tão cedo, pois havia me dito que o pai dela só podia leva-la mais ou menos às 6:30, e como a casa dela era longe ela costumava chegar na hora em que o sinal tocava.
  - Bell!?- Chamei- Você aqui tão cedo? Seu pai te trouxe mais cedo hoje?
  - Na verdade ele não me trouxe hoje, tive que vir de onibus.
  - Por quê?
  - Não sei bem, ele saiu ontem a noite, disse que tinha algumas coisas para resolver, e não voltou ainda.- Eu gelei. O meu sonho, era o pai dela. Não, não era possível, vampiros não existem.
  - Ah, bem, você viu o Vítor?
  - Não. Ele costuma chegar mais tarde não é?
  - É, mas eu tive um sonho com ele essa noite e fiquei preocupado.- Eu contei a ela o sonho.
  - Não, não, não pode ser! Você tem certeza de que foi exatamente isso que você sonhou? Não inventou nada, nem uma palavra?
  - Não Bell, eu tenho certeza de que foi exatamente isso.- Ela ficou pálida. Que dizer, era difícil uma garota com aquele tom de pele ficar mais pálida, mas os lábios dela perderam a cor e a pele dela ficou ainda mais branca, quase que azul.
  - Eu tenho que ir. Tenho que sair daqui.
  - O que foi Bell? O que aconteceu?
  - Não posso te dizer Felipe, eu quero que você continue vivo.- Ela se levantou e saiu correndo para fora da escola. Eu podia jurar que vira uma lagrima escorrer do seu rosto, como se lembrasse de algo muito ruim. Eu pensei em ir atras dela, mas preferi deixa-la sozinha com suas lembranças.
  O sinal bateu e Vítor não chegou. Eu estava ficando preocupado, talvez meu sonho realmente fosse verdade. Entrei na sala e me sentei no meu lugar. "Ontem ele chegou tarde, talvez vá demorar hoje também" pensei. Mas as aulas foram passando e ele não chegou, Isabel também não havia voltado, agora eu estava preocupado com os dois.
  A aula acabou e eu voltei sozinho para casa. No caminha parei na casa de Vítor, mas não tinha ninguém. "Vai ver ele saiu com os pais" eu procurava loucamente por uma desculpa que me convencesse de que ele estava bem, ou pelo menos vivo. Voltei para casa sem prestar atenção em nada ao meu redor. Eu estava ocupado demais com os problemas que tinha no momento para arranjar mais problemas. Nem percebi Heloísa gritando meu nome, não notei minha mão tentando me dar um bronca, não ouvi o telefone tocar, eu simplesmente fui para o meu quarto e me tranquei lá.
  Aquilo realmente tinha acontecido.

3- Um telefonema salva a minha vida

  O sinal  do fim da aula tocou e todos os alunos saíram correndo de suas salas para ir para a casa. Eu fiquei para trás. Eu, Isabel e Vítor. O pai de Isabel viria buscá-la e eu e Vítor iríamos à pé para casa.
  - Tchau meninos. Meu pai já deve estar chegando, é melhor vocês irem indo.
  - Não quer que a gente espere aqui com você?
  - É melhor não Felipe, meu pai não gosta muito de... de gente. Ele é legal depois que conhece, mas antes ele é um pouco antipático, é melhor eu esperar sozinha.
  - Tá bom então, você é quem sabe. Tchau.
  Vítor e eu saímos da escola e fomos caminhando em direção a minha casa. Vítor morava na mesma direção, por isso sempre voltávamos juntos para casa. Quando já estávamos à alguns metros da escola, Vítor disse:
  - Eu não gosto dela. Sei lá, ela tem alguma coisa estranha.
  - Ah, lá vem você cismar com a garota. Deixa ela, finalmente eu arranjei uma amiga.
  - É sério, ela é estranha, muito estranha. Tem alguma coisa de diferente nela.
  - Ela é legal, bonita e é minha amiga, é isso que tem de estranho nela, ela é minha amiga.
  - Não Felipe, não é isso. Alguma coisa estranha de verdade.
  - Você esta louco! A Bell é perfeitamente normal, como qualquer outra garota, só que mais legal.- Vítor revirou os olhos. Ele sabia que não me faria desistir dela tão fácil assim. Ela era a primeira amiga que eu tinha, e além do mais, eu havia lhe prometido que seriamos amigos pra sempre. Por mais que ela não se lembrasse mais dessa promessa, mas eu havia prometido e eu me lembrava.
  Paramos no portão da casa de Vítor. A casa dele era realmente incrível. Era grande e muito bonita.
  - Olha Felipe, eu só estou dizendo para você ter cuidado com essa garota, ta?
  - Tchau Vítor, tchau.
  Caminhei mais algum tempo até em casa e no caminho fui pensando. Por quê ele não gostava dela? Ela era muito legal, comigo e com ele. Ela não fez nada de estranho, quer dizer, além de falar comigo, mas ele não pode deixar de gostar dela só por isso. Eu não quero que ele seja o melhor amigo dela, mas também não quero que ele a odeie.
  Parei na frente da minha casa, que era bem menor que a de Vítor, tinha só 4 quartos, era pintada de azul claro com janelas e portas brancas. Eu não gostava da minha casa, era muito feminina, pois foram as minhas irmãs que escolheram a cor. Mas, pelo menos, não era cor de rosa.
  Entrei em casa e Heloísa logo veio gritar comigo:
  - Felipe!!!!! Você não pode entrar com os pés sujos dentro de casa! Você não tirou os sapatos! Eu vou contar tudo pra mamãe.
  - Conta Heloísa, pode contar. Conta também que meu nome é Felipe e que eu tenho 13 anos de idade, aposto que ela ainda não sabe.- O lábio inferior dela começou a tremer e seu rosto começou a ficar parecido com um balão vermelho. Ela ia chorar.
  - MANHÊÊÊÊÊ!!!!!!!!!!- Gritou ela com toda a força que tinha. As lágrimas escorriam como cascatas pelo seu rosto- Mãe!!! O Felipe gritou comigo! Ele é mau mamãe, muito mau!!!- Depois de dizer isso subiu correndo as escadas em direção do escritório dos meus pais. Algo me dizia que eu estava encrencado.
  Corri para o meu quarto o mais rápido que pude. Eu não queria levar uma bronca da minha mãe, não mesmo. Por quê? Bem, eu raramente via a minha mãe e, quando via, ela sempre brigava comigo. Eu não entendia porque, era como se esse fosse o trabalho dela como mãe.
  - Felipe McDonald, o que você fez com a sua irmãzinha?- Minha mãe estava na porta do meu quarto. Por ela ter usado o meu último nome, eu presumi que ela realmente estava brava.
  - Mãe, eu posso explicar...- O som do telefone tocando me salvou. Corri na direção da música repetitiva que salvara minha vida.
  - Alô!?
  - Oi, Felipe?- Bell? Como ela tinha conseguido o meu telefone?
  - Isabel?
  - Oi, desculpa te ligar, mas é que eu não sei as páginas do dever da matemática, você pode me passar?
  - Ah... er... claro, só... só me da um minutinho.- Dever de matemática, certo, se eu tivesse sorte eu sabia as páginas, mas era bem provável que não. Peguei a minha agenda, nada lá, peguei meu caderno, também não tinha nada lá.
  - Ahn... Bell... eu não sei as páginas... podemos dizer que...
  - Sua mãe esta prestes a brigar com você?
  - É. Como você sabe?
  - Intuição. Quer que eu enrole um pouco no telefone pra ela esquecer da bronca?
  - Sim, por favor!
  - Ta bom.
  - Obrigada.- Passamos mais ou menos meia hora no telefone até a minha mãe sair dali e me deixar em paz.
  - Bell, ela já foi.
  - Ah, certo, então tchau, até amanhã.
  - Certo, até amanhã.- Desliguei o telefone e fui para o quarto. Pelo visto a minha vida ia começar a melhorar.