sábado, 2 de outubro de 2010

1- Revejo uma velha amiga esquecida

  - Vamos ser amigos para sempre, não é Felipe?
  - É claro!- respondi, como qualquer criança de 4 anos faria. A garotinha sorriu. Ela era linda, tinha cabelos negros na altura do pescoço, olhos azul-celeste, pele clara como a neve e um rostinho lindo, como o de uma criança propaganda.
  - Então esta combinado, vamos ser amigos para sempre!

  Acordei com o som do despertador tocando alto no meu ouvido. Olhei para o despertador, 6:45 da manhã. Droga, eu estava atrasado... outra vez. Sai da cama em um pulo, coloquei o uniforme, lavei o rosto, escovei os dentes e sai de casa sem nem mesmo tomar o café da manhã. A escola era um pouco longe da minha casa, mais ou menos 20 minutos de caminhada, mas eu não gostava que meus pais me levassem e eles nem mesmo tinham tempo para isso, eles eram ocupados demais cuidando de minhas irmãs mais novas, Marina e Heloísa, ou então trabalhando com mais um dos softwares que eles costumavam desenvolver nas horas vagas. Não tinham tempo para mim.
  Enquanto caminhava pelas ruas de Florianópolis ia pensando no sonho. Não parecia ser apenas um sonho. Era mais como uma memória, algo que eu pensava ter esquecido e que de repente o meu cérebro resgatou. Aquela garotinha, eu já tinha visto ela antes, mas já fazia muito tempo, muito tempo mesmo. Eu parecia me lembrar vagamente de uma amizade que fora muito importante para mim um dia. Se isso fosse verdade, eu havia quebrado a minha promessa.
  Cheguei a porta da escola. O pátio estava completamente vazio, o que era um aviso explicito de que o sinal havia tocado há algum tempo. Corri pelos corredores em direção a minha sala sem me preocupar em ganhar mais uma suspensão, afinal, isso já era tão normal que não fazia mais diferença. Abri a porta da minha sala fazendo mais barulho do que esperava, o que fez com que todos parassem o que estavam fazendo para olhar para mim.
   - Olha que incrível, gente, o Felipe chegou atrasado!- Disse Marcos Viguelli, o garoto mais popular de escola. Infelizmente, a coisa que ele mais gostava de fazer era incomodar os outro e eu, com certeza, era um alvo fácil. Toda a sala riu, para o meu total desespero.
  Me sentei no meu lugar, no fundo da sala. A professora continuou a dar a sua aula, sem se preocupar muito comigo, o que era bom, já que eu não havia feito o dever de casa e também não trouxera meu livro, apenas o caderno. Eu também não prestava muita atenção na aula, costumava ficar lendo ou escrevendo alguma coisa como histórias impossíveis ao invés de ficar olhando a professora falar.
  - Felipe, você tem que começar a prestar atenção na aula.- Hoje realmente não era o meu dia de sorte. A professora de inglês estava parada ao meu lado com seus longos cabelos castanhos caindo sobre os ombros e os olhos negros fixos em mim.
  - Eu vou me esforçar professora.
  - Isso foi o que você me disse nas ultimas 100 vezes. Já faz um bom tempo que você esta assim. Eu nunca fiz isso, mas acho que terei que tomar uma providência. Vou chamar seus pais.
  - Eles não vão poder vir, estão muito ocupados com o trabalho.- Ela se abaixou até ficar na minha altura.
  - Eu tenho certeza de que eles vão achar um tempinho.- Ela passou a mão no meu rosto e voltou para a sua mesa. Eu não estava bravo. Se meus pais fossem até a escola para falar com ela eu seria eternamente grato por ela conseguir tirar eles de casa e fazer com que se preocupassem um pouco comigo.
  A aula de inglês acabou e, nas outras duas aulas, eu teria que aguentar o professor de matemática falando com a sua voz de fuinha e as três "princesas" da escola tentando mostrar que sabem mais que os outros. Felizmente havia uma menina chamada Júlia que era muito mais inteligente que as três, então eu me divertia em ver elas sendo corrigidas por uma aluna.
  Na hora do recreio eu comprei um bolinho de chocolate, pois era a única coisa que o dinheiro que eu tinha no bolso conseguia pagar, me sentei em um banco no pátio da escola e fiquei observando os carros passarem do lado de fora da cerca. Um deles parou na frente da escola. Mas não era um carro qualquer: era uma BMW conversível caríssima, o tipo de carro que meus pais jamais sonhariam em ter. De dentro dele saiu uma garota de cabelos negros até a cintura, olhos azul-celeste, pele clara e um belo rosto. Era ela, eu sabia que sim. A menininha do meu sonho, mais velha com certeza, mas a mesma pessoa. Ela usava o uniforme da escola, por isso deduzi que ela estudaria ali de agora em diante. Ela também usava uma mochila vermelha nas costas. Eu não tinha nenhuma dúvida, era ela.
  O pai dela saltou do carro. Ele era alto e muito parecido fisicamente com a filha. Ele a levou ate o portão e se despediu, deixando com que a menina entrasse no pátio. Em seguida ele voltou para o carro  e foi embora.
  A garota se aproximou de mim.
  - Oi...hã... pode me dizer onde é a sala da sétima série?
  - Posso, posso sim. Mas, só daqui 15 minutos, agora é hora do recreio e eu não posso te levar até lá.
  - Oh, que pena. Então, será que eu posso me sentar aqui com você?- Ela sorriu. Era o mesmo sorriso. O mesmo sorriso bonito e perfeito da garotinha do meu sonho.
  - Pode, é claro. Como é o seu nome?
  - Isabel, mas pode me chamar só de Bell. E o seu?
  - Felipe.
  - Adorei o seu nome, Felipe. Quando eu era pequena eu tinha um amigo com esse nome, sabia? Ele era meu melhor amigo, mas foi embora.
  - Ele morreu?- Por que eu perguntei aquilo? Eu sabia que ele estava vivo. Eu sabia que eu era ele.
  - Não, não. Ele só se mudou. Espero que ainda esteja vivo. Ele era muito legal, era como se fosse meu irmão. Eu não sei o que faria se ele morresse.
  - Mas, você ainda fala com ele?
  - Não, mas tenho certeza de que, se falasse, ainda seriamos grandes amigos.
  - É, eu tenho certeza que sim!- Ela sorriu novamente. Isabel parecia o tipo de pessoa que não se importa com problemas, ela parecia estar feliz sempre e com tudo, o tipo de pessoa que nunca chagava perto de um garoto como eu, mas ela era diferente. Eu sabia que seriamos grandes amigo.

6 comentários:

  1. Helena amei a sua historia, fala sobre amizade, um tema muito delicado. Você escreve muito bem! Parabéns.

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  2. Amei! Tinha que ser a minha Helena quem escreveu né?

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  3. Obrigada, Sabrina e Vítor. Obrigada mesmo, mas o meu ego esta aumentando com tantos elogios. ;)

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  4. Nossa que lindo,adorei Lêh muito linda a história,perfeita nao sei nem o que falar.Adorei
    beijoss

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  5. E ai vem o ego inflado! Hehehe, brincadeira! Bem, obrigada pra você também Jéssica, minha leitora mais rápida e mais quietinha.

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  6. helena eu esto leindo de apoco mais adorevoce escreve muito bem.
    manda felicidade pra lidia por la filha que teim.
    beijo e muita sorte,carla e joaquin

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