Deitei na cama, pronto para dormir. Eu havia dormido muito pouco na noite anterior e por isso estava cansado demais para continuar acordado. Por mais que eu estivesse com sono, eu não conseguia dormir, era como se eu tivesse medo de fechar os olhos. Eles lutavam contra mim e não queriam se fechar, mas finalmente eu venci a luta e dormi.
Vítor estava sozinho em casa, parado na frente do computador falando com uma amiga, quando um homem apareceu atras dele.
- Você sabe demais garoto.- Disse o homem. Vítor olhou aterrorizado para ele, de alguma forma eu sabia que ele estava paralisado.
O homem deu um passo para frente e pude reconhece-lo: era o pai de Isabel. Mas, com certeza tinha alguma coisa de estranha nele. Olhei bem para seu rosto: os cabelos negros perfeitamente arrumado com gel, a pele branca como a da filha, os olhos... os olhos eram a coisa estranha. Seus olhos estavam em um tom de vermelho vivo, algo como aquelas cerejas industrializadas que parecem gelatina. Ele sorriu, seu sorriso não era como o de Isabel, parecia ser mais inteligente... mais maligno. Vítor tentou se mexer, eu podia ver o terror em seus olhos, mas o homem não deixou, ele se colocou na frente de meu amigo. Eu queria gritar, mas minha voz não saia, tinha algo errado com aquele homem, algo muito mais perigoso do que o pai de uma amiga. Ele sorriu novamente, mas agora seus caninos eram longos e afiados. Ele chegou mais perto de meu amigo, era como um... um vampiro. Eu queria dizer para Vítor correr, mas não adiantava, minha voz não saia. Vítor começava a chorar, chorar de pavor. O homem mordeu o pescoço do meu amigo. Aquilo não estava certo. Agora consegui gritar:
- Pare!!!
Acordei assustado. Olhei o relógio: 6:00. "Que incrível, acordei na hora" pensei. Eu estava assustado com o sonho, queria chegar logo na escola para ver se Vítor estava bem. Me arrumei rapidamente para poder chegar cedo na escola e contar meu sonho para Isabel, eu sabia que ela poderia me dizer o que significava. Coloquei a mesma roupa que havia usado no dia anterior, não tinha tempo de ficar escolhendo o que usar, e caminhei até a escola.
Ainda não havia quase ninguém no pátio e, como era cedo, percebi que era um dos primeiros a chegar. Fui logo procurar Isabel ou Vítor, eu tinha que falar com eles, para ter certeza de que estava tudo bem. Aquele sonho tinha sido real demais.
Encontrei Isabel sentada em um banco lendo um livro. Era estranho ela chagar tão cedo, pois havia me dito que o pai dela só podia leva-la mais ou menos às 6:30, e como a casa dela era longe ela costumava chegar na hora em que o sinal tocava.
- Bell!?- Chamei- Você aqui tão cedo? Seu pai te trouxe mais cedo hoje?
- Na verdade ele não me trouxe hoje, tive que vir de onibus.
- Por quê?
- Não sei bem, ele saiu ontem a noite, disse que tinha algumas coisas para resolver, e não voltou ainda.- Eu gelei. O meu sonho, era o pai dela. Não, não era possível, vampiros não existem.
- Ah, bem, você viu o Vítor?
- Não. Ele costuma chegar mais tarde não é?
- É, mas eu tive um sonho com ele essa noite e fiquei preocupado.- Eu contei a ela o sonho.
- Não, não, não pode ser! Você tem certeza de que foi exatamente isso que você sonhou? Não inventou nada, nem uma palavra?
- Não Bell, eu tenho certeza de que foi exatamente isso.- Ela ficou pálida. Que dizer, era difícil uma garota com aquele tom de pele ficar mais pálida, mas os lábios dela perderam a cor e a pele dela ficou ainda mais branca, quase que azul.
- Eu tenho que ir. Tenho que sair daqui.
- O que foi Bell? O que aconteceu?
- Não posso te dizer Felipe, eu quero que você continue vivo.- Ela se levantou e saiu correndo para fora da escola. Eu podia jurar que vira uma lagrima escorrer do seu rosto, como se lembrasse de algo muito ruim. Eu pensei em ir atras dela, mas preferi deixa-la sozinha com suas lembranças.
O sinal bateu e Vítor não chegou. Eu estava ficando preocupado, talvez meu sonho realmente fosse verdade. Entrei na sala e me sentei no meu lugar. "Ontem ele chegou tarde, talvez vá demorar hoje também" pensei. Mas as aulas foram passando e ele não chegou, Isabel também não havia voltado, agora eu estava preocupado com os dois.
A aula acabou e eu voltei sozinho para casa. No caminha parei na casa de Vítor, mas não tinha ninguém. "Vai ver ele saiu com os pais" eu procurava loucamente por uma desculpa que me convencesse de que ele estava bem, ou pelo menos vivo. Voltei para casa sem prestar atenção em nada ao meu redor. Eu estava ocupado demais com os problemas que tinha no momento para arranjar mais problemas. Nem percebi Heloísa gritando meu nome, não notei minha mão tentando me dar um bronca, não ouvi o telefone tocar, eu simplesmente fui para o meu quarto e me tranquei lá.
Aquilo realmente tinha acontecido.
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