Nos despedimos de Berta e continuamos andando pela cidade. Eu esperava que Isabel tivesse um plano, um ótimo plano, afinal, alguma coisa me dizia que aquele vampiro que tínhamos visto mais cedo não era a pior coisa daquele lugar. Passamos por vários turistas, que pelas expressões estavam um pouquinho... apavorados.
Isabel parou de repente no meio de uma rua quase deserta.
- Ah não.- Murmurou ela enquanto me puxava rapidamente para um beco estreito que eu, até então, não tinha visto.
- O que foi?
- Shhhh! Não podemos chamar atenção, fique quieto ai no canto e não se mecha!- Eu odiava quando ela me dava ordens, mas ali era ela quem sabia o que fazer, não eu.
Não levou nem um segundo para que um grupo de pessoas passassem correndo na rua aonde estávamos antes. Uma garotinha parou de costas para nós, como se visse algo de muito errado ali. Isabel colocou a mão na boca dela, para que ela não gritasse, e a puxou para o canto aonde estávamos escondidos. Olhei para o rosto da garota: a linda menina de seis anos, loira de olhos azuis que havia me pedido ajuda no aeroporto estava ali, na minha frente. Pelo visto o guarda não havia achado a mãe da menina e ela resolveu sair do aeroporto para procura-la... ou simplesmente para morrer.
- Garota, você é louca?- Perguntou Isabel, que pelo visto estava irritada pela menina não ter ficado no aeroporto, segura.
- Eles... dentes... mamãe... atrás de mim.- As lágrimas da garotinha estavam me dando pena. Pobre garota, ela havia descoberto que a mãe fora morta por vampiros, devia ser difícil aguentar aquilo.
- Sim, sim, eu imagino que eles estejam atras de você. Mas, olha, é melhor eu achar um lugar seguro para você, não é bom você ficar passeando por ai sozinha, ok? É muito perigoso.
- Isabel, você não vai deixar ela sozinha, não é? Isso é perigoso, e irresponsável. Ela pode morrer, tem que deixar ela ir com a gente.
- Felipe, é muito perigoso, é mais seguro para ela ficar com Berta do que com a gente.
- É possível que Berta vá fazer um assado de menininha. Ela vai com a gente, não vou deixar você largar ela por ai.- Me abaixei na altura da menininha, dando o assunto com Isabel por encerrado e mudando o tom de voz, para não assustar a garota- Qual o seu nome menina?
- Sara.
- Que lindo nome. Bem, você não achou a sua mãe, não é?- Sara balançou a cabeça negativamente.
- Bell...
- Ta, ta bom, mas ela vai nos atrasar muito. Vamos ter que voltar lá na farmácia para Berta colocar aquele remédio nela.
- Eu sabia que você ia acabar deixando. Sara, você vem com a gente, pode ser? Vamos cuidar de você.- Ela assentiu e Isabel revirou os olhos.
- Ta, anda logo, temos que ir rápido, não da para ficar "enrolando" muito por aqui.- Ela se levantou e saiu do beco, andando em direção a farmácia.
- Ela tem cara de mal.- Comentou a garota, agora que já estava mais calma.
- É, mas ela é bem legal, não se preocupe, ela não morde... ou melhor, ela não vai te morder.- Sara arregalou os olhos azuis, como se já estivesse com medo de Isabel e eu não tivesse ajudado muito, o que me fez rir, afinal, ela era uma graça.
Eu a ajudei a levantar e nós fomos atras de Bell, acelerando o passo para tentar alcança-la.
Não demoramos muito para chegar até a farmácia, aonde a placa ainda balançava e fazia aquele barulho irritante. Nós entramos e fomos até o laboratório, Berta preparou o remédio e deu para Sara tomar.
- Eu não vou beber isso! É muito estranho.- Ela colocou o nariz sobre o copo e cheirou o líquido- E cheira mal. Isso deve ser veneno!
- Quer morrer garota? Então é melhor você beber isso.- Disse Isabel, mais irritada do que nunca. Eua fitei com o olhar mais fulminante que consegui e falei para a garota.
- Sara, olha só, isso ai é um suquinho para os vampiros não verem você. Não é veneno, eu tomei e estou vivo.
- Você acha que eu sou idiota? Eu ouvi a garota dizendo que é remédio, ok? Não é suco, suco não tem esse cheiro. Mas, você bebeu mesmo?- Eu fiz que sim com a cabeça- Ta, então eu vou tomar, mas só porque você falou, se eu morrer a culpa é sua!- Ela tampou o nariz com uma das mãos e engoliu todo o líquido rapidamente.- Ai que estranho! Eu estou viva?
- Esta sim Sara.
- Mas estou me sentindo como um consultório de dentista: com cheiro de dente.- Dessa vez todos rim os, inclusive Isabel, acho que ainda viveríamos muitas aventuras, nós três.- Do que vocês estão rindo? Não tem graça nenhuma!
- É claro que não Sara, é claro que não!
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