domingo, 3 de outubro de 2010

5- A verdade tem gosto de sangue

  Cheguei na escola cedo no dia seguinte também e fiquei olhando os carros passarem do lado de fora da cerca, do mesmo jeito que fazia antes de conhecer Isabel. Eu ainda tinha esperanças de ver Vítor entrando no pátio e vindo me cumprimentar, mas minha cabeça me dizia que isso não ia acontecer.
  A BMW parou na frente do portão e Isabel saltou do carro com cachoeiras de lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Ela bateu a porta do carro com força e correu para dentro de escola. Passou por mim, mas não parou, provavelmente não queria falar com ninguém, ou talvez não tivesse me visto, seguiu rapidamente para dentro do colégio. Mas desta vez eu a segui. Ela sabia alguma coisa, eu tinha certeza, alguma coisa que eu não sabia.
  Ela foi até o fim do corredor e se sentou lá, no chão, sozinha para chorar. Eu hesitei um pouco antes de ir até ela.
  - Bell, o que aconteceu?- Ela não olhou para mim, pelo menos não diretamente. O cabelo tapava seus olhos. Ela apenas respondeu entre um soluço e outro:
  - Nada.
  - Garotas como você não choram por "nada".
  - Eu estou chorando, não estou? Então.- Agora ela estava gritando
  - Fique calma e me conte o que aconteceu.
  - Calma? Felipe, como você pode me pedir para ficar calma diante de uma situação como essa? Eu só queria... queria que fosse diferente... por quê? Por quê eu?- Ela já não conseguia falar direito. Era como se estivesse perdida em seus pensamentos. Ela chorava cada vez mais e cada vez mais alto. Eu não sabia o que fazer, então a abracei. Era muito ruim vê-la chorar daquela forma.
  - O que esta acontecendo? Eu não posso te ajudar se não souber qual o problema.
  - Eu não posso te contar, eu não quero que aconteça de novo. Não com você.
  - Aconteça o que? Isabel, me diga.- Ela encostou a cabeça no meu ombro e chorou por mais alguns minutos, deixando-me totalmente encharcado, antes de se acalmar e parar de chorar um pouco.
  - Eu... eu não quero te contar. Eu quero que continue vivo.
  - Aquilo que eu sonhei... aconteceu, não é?- Ela balançou a cabeça afirmativamente. O pai dela tinha matado meu melhor amigo? Ele era um vampiro? Onde Vítor estava? Por quê ela não me contou antes? Muitas perguntas surgiram na minha mente ao mesmo tempo, eu não sabia como começar.- Então, o seu pai é um vampiro?
  - Felipe, não me entenda mal, mas eu não posso te contar. Se eu contar, vai acontecer de novo.
  - Olha, eu não sei o que aconteceu, também não sei o que vai acontecer, mas eu sei que o seu pai é um vampiro, sei que ele matou meu melhor amigo e sei que você sabe alguma coisa que eu não sei.
  - Felipe, se Vítor teve sorte ele esta morto, mas pode ser muito pior do que isso. Eu vou te contar o que aconteceu, se você estiver disposto a arriscar a sua vida.
  - Conte, já estou arriscando por falar com você, mas não é por isso que vou parar de falar.
  - Bem, então o que aconteceu foi o seguinte: Quando eu tinha 5 anos eu fiz uma amiga que era mais velha que eu. O nome dela era Vanessa e ela era como uma irmã para mim, eu confiava nela para qualquer coisa, mas ela era humana e eu não tinha noção... noção o perigo. Eu contei para ela que eu e minha família somos vampiros, esse foi o maior erro da minha vida.- As lágrimas voltaram a escorrer pelo rosto dela- Ela não soube guardar segredo. Contou para um amiga e, bem, Eles vieram atras de nós.
  - Quem são Eles?
  - A Ordem. São os maiores e mais poderosos vampiros de todos os tempos. A grande maioria da família Drácula, mas isso não vem ao caso. Contar para um humano que você é um vampiro é um tipo de suicídio. Enfim, Eles vieram atrás da minha família e de Vanessa. Eles acharam minha mãe e a mataram- Ela hesitou por um segundo e continuou- E não demorou muito para encontrarem a mim e a meu pai. Nós seriamos mortos, e eu seria torturada, mas Vanessa... Vanessa não permitiu isso. Ela foi no meu lugar, mas no lugar da tortura ela foi transformada em vampira e foi obrigada a fazer parte da Ordem.
  - Isso não me parece tão ruim.
  - Felipe, olhe o que você acaba de dizer!- A cachoeira havia voltado. Ela estava chorando muito- Eu, meu pai e todos os outros vampiros temos que beber sangue humano para sobreviver. Nós temos que matar pessoas indefesas para nossa sobrevivência. Não é bom ser um vampiro, é triste, é horrível!
  - Certo, acho que acredito em você.
  - É bom que acredite. Eu e me pai fomos mandados para cá para conseguirmos novos... novos membros pra a Ordem. Novos vampiros.
  - Então quer dizer que agora... Vítor...- Dessa vez eu me perdera nos meus pensamentos. Então Vítor não estava morto, ele era um vampiro. Um sanguessuga impiedoso? Não, não era verdade, ele não era assim.
  - Sim, é provável que meu pai não tenha matado ele por completo, só o tenho transformado em um de nós.
  - Não existe nenhum jeito de fazer ele voltar ao normal?
  - Sim, existe um, mas vamos ter que trazer ele para cá antes. E pra isso eu vou precisar da sua ajuda.

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