Era bom estar seguro novamente, ou pelo menos o mais seguro que se pode estar quando se viaja com uma vampira e uma garotinha em uma terra aonde os habitantes são um pouco... assassinos.
Nos sentamos na neve para descansar um pouco. Nossa próxima parada era o castelo da Ordem que, segundo Isabel, era do pai dela e, há alguns séculos, fora do famoso Conde Drácula. Em uma situação como "um passeio turístico" eu adoraria conhecer o castelo do vampiro que fez tanto sucesso, mas na situação em que eu me apresentava, eu realmente não queria entrar lá.
- Bell, quanto tempo você acha que vamos levar até o castelo?
- Bem, se não formos mais interrompidos, vamos levar mais ou menos 20 minutos até lá. Sabe como é, a cidade é muito pequena, atravessa-la não leva muito tempo.
- Entendo...
- Ei vocês dois, olhem o que achei!- Gritou Sara que , sem que nenhum de nós dois percebesse, havia se afastado alguns metros do lugar aonde estávamos sentados.- Eu achei um gatinho!
- Um o que?- Isabel parecia mais surpresa do que alguém que ganha na loteria.- Você achou um o que?
- Um gatinho!- Repetiu Sara
- Mas é impossível! Não tem gatos aqui, os gatos moram no resto do mundo, com bruxas e humanos, não aqui, eles não vivem muito quando vem parar aqui.
- Isabel.- Sussurrei para ela tentando fazer com que ela percebesse que a menina poderia se assustar com o terrível destino do gatinho, mas ela não se importou nem um pouco com a minha chamada de atenção e foi até o lugar aonde Sara estava.
- Deixe-me ver este bichano.- Ela se abaixou e pegou a pequena bolinha de pelos branca.- Mas que coisa mais fofa!- Exclamou ao ver os olhos azuis expressivos do pequeno gatinho.- Uma pena que eu não possa ficar com ele.
- E, aonde você vai deixar ele Bell? Claro que vai leva-lo para algum lugar seguro, certo?
- Felipe, nenhum lugar aqui é seguro, mas acho que sei aonde posso deixa-lo. Venham vocês dois, temos que ir rápido, não é muito longe, mas ainda assim pode nos atrapalhar um pouco.- Ela colocou o pequeno filhote de gato dentro do casaco e começou a andar.- Vai ser uma paradinha rápida, é caminho para o castelo.
Eu e Sara seguimos Isabel até uma rua que saia da principal. Não era muito movimentada, tinha algumas casas muito bonitas e bem cuidadas. Isabel bateu na porta de uma das casas. Alguns minutos depois uma mulher baixa, com cabelos castanho-avermelhados, muitas sardas alaranjadas no rosto, olhos verdes, nariz de batata e uma boca muito, muito pequena.
- Isabelzinha!- Exclamou a mulher.- Mas que linda você esta! Como vai seu pai?
- Vai bem Berenice, ele vai bem.
- Que bom, que bom, você e seus amiguinhos querem entrar para tomar uma café? Talvez um chocolate quente?
- Nós adoraríamos, mas não podemos, tenho pressa para chegar até a Ordem, vim porque quero saber se você ainda tem vontade de ter um gatinho?
- Claro, você sabe que é o meu maior sonho desde a infância, mas eu nunca acharia um gatinho por aqui. Você sabe, tem aquele probleminha...
- Sim, mas não se preocupe, eles sabem de tudo. Quanto ao gatinho...- Isabel tirou o pequeno felino de dentro do casaco- Ele é todo seu!
Berenice sorriu. Era um sorriso sincero, ou pelo menos tão sincero quanto pode ser o sorriso de um vampiro. Seu sorriso não era bonito como o de Isabel, era mais fino, era menor, mas era verdadeiro, pelo visto ela realmente sonhava em ter um gatinho.
- Muito obrigada Isabel! O nome dele vai ser Stanislau!
- Hun...- Isabel levantou uma das sobrancelhas- Que belo nome. Agora temos que ir, espero que vocês se entendam.
Voltamos para a rua principal e, consequentemente, para o nosso caminho até a Ordem. Sara andava ao meu lado. Pude ouvir ela fungando e, em seguida, uma lágrima escorreu pelo seu rosto.
- Sara, você esta chorando? O que aconteceu?
- Nada não, é que a minha mãe tinha um gatinho igual aquele. O nome dela era Nessie.
- Entendi. Você tinha um gatinho igual aquele e se lembrou do seu bichinho.
- Não era meu. Eu sempre morei com o meu pai, só estava passando férias com a minha mãe. Quando eu voltar vou para a casa do meu pai, em Portugal.
- Portugal é? Que legal, seu pai mora em Portugal.
- É, mas minha mãe morava no Brasil. Era muito bom passar as férias com ela, mas era raro, a maioria das vezes ela estava viajando ou alguma coisa parecida. Dessa vez ela veio para cá, mas alguma coisa me diz que ela nunca mais vai viajar de novo.- Ela abaixou a cabeça e deixou o cabelo cair no rosto sem se esforçar para tira-los dali. Devia ser muito difícil perder a mãe com aquela idade, se para mim já seria difícil, eu que era um menino de 13 anos, imagine para ela, uma garotinha de 6.
Continuamos andando por mais ou menos 10 minutos e eu já conseguia ver as torres do castelo. Devia ser muito grande mesmo, provavelmente a maior construção daquela cidade, já que a Ordem a escolheu como cede. Eu tinha medo de chegar até lá, era como se alguma coisa dentro de mim gritasse para que eu parasse, para que corresse para longe e voltasse para casa. Não era apenas medo, era um pressentimento ruim, talvez fosse minha cabeça me pregando uma peça, talvez alguma coisa ruim realmente fosse acontecer, mas, de um jeito ou de outro, eu tinha que continuar. Por Isabel. Por Vítor.
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