terça-feira, 5 de outubro de 2010

6- Aceito uma viagem sem volta

  Eu não tinha certeza se deveria aceitar o convite que Isabel me oferecera. Como ela mesma disse, era perigoso demais. Mas eu tinha que salvar Vítor, ele era meu melhor amigo, eu não podia deixa-lo sozinho lá, como um vampiro. Então estava decidido. Eu ia aceitar.
  - Pai- Chamei de porta do escritório- Pai, eu posso te perguntar uma coisa?
  - Já esta perguntando, não é? Vamos, seja rápido e não atrapalhe o meu trabalho.
  - Certo, hã, Isabel me convidou para ir até a Transilvania com ela. Não é uma viajem demorada, apenas alguns dias, para resolver alguns assuntos da família dela...- Certo, eu menti um pouco, mas se eu dissesse que ia salvar um amigo que foi transformado em vampiro ele não ia me deixar ir. Ia me mandar para um psiquiatra.
  - Você já esta falando demais meu filho. Pode ir nessa viagem maluca sim, desde que eu não tenha que pagar nada.
  - Não, o pai da Bell vai pagar tudo
  - Ótimo então, pode ir, quanto mais tempo passar longe de casa menos vai incomodar as suas irmãs e a sua mãe.
  Sai do escritório para não incomodar mais meu pai. Minha mãe não precisava saber que eu ia viajar, ela nem se importaria, na verdade, iria comemorar a minha saída.
  Subi as escadas até o meu quarto e comecei a arrumar as minhas malas. Coloquei algumas roupas mais quentes, pois Isabel havia me dito que lá era muito frio, o que já era de se esperar já que ficava em  um região montanhosa e era uma terra habitada por vampiros. Coloquei alguns casacos grossos e um par de luvas, eu não tinha botas então levei um par de tênis. Peguei minha escova de dentes e outras coisas como ela.
  - Acho que minha mala esta pronta.- Falei para mim mesmo, afinal não havia mais ninguém no quarto.
  O telefone tocou e ouvi minha irmã atender:
  - ALÔ?? Quem é?- Perguntou Marina com sua voz esganiçada.- Ah, é pro Felipe? Eu vou chamar ele, ta bom?- Ela falava devagar como se ela fosse adulta e estivesse falando com um bebê de 2 anos no telefone. Eu desci as escadas rapidamente para evitar que meus tímpanos estourassem com o grito agudo dela.
  - Não precisa chamar, eu já estou aqui.- Falei enquanto tampava a boca dela para ela não gritar. Marina não era chorona como Heloísa, mesmo sendo mais nova, mas Marina era brava e persistente, o que fazia com que fosse ainda mais chata do que a outra.
  - TEM UMA GAROTA QUERENDO FALAR COM VOCÊ NO TELEFONE, FELIPE!- Gritou ela ao pé do meu ouvido simplesmente por que eu disse para ela não fazer isso.
  - Ta bom Marina, agora sai, eu já atendi o telefone, o.k.? Alô? Bell?- Minha irmãzinha revirou os olhos e saiu andando, pelo visto ela queria prolongar um pouco mais aquela conversa
  - Oi, hã, sua irmã não gosta muito de você, não é?
  - Ela é mais nova. Mas, vamos direto ao ponto: meu pai me deixou ir. 
  - Certo, eu vou em segredo porque meu pai jamais me permitiria voltar pra lá, mas eu vou passar na sua casa em cinco minutos.
  - Você mora tão perto assim?
  - Não, para uma humana eu moro muito longe, mas para um morcego não.
  - Morcego?! -  Ta, pelo visto tinha muita coisa sobre ela que eu não sabia.
  Fui para a frente de casa e esperei. Cinco minutos depois um morcego estava chegando lá. Ele pousou no chão e se transformou na minha amiga. Talvez não exatamente a amiga que eu estava acostumado a ver: Isabel tinha olhos vermelho sangue no lugar do azul-celeste e caninos muito, muito, pontudos e afiados que faziam com que ela não conseguisse fechar a boca direito. 
  - Bell, você esta um pouco...
  - AH, me desculpa- Disse ela colocando a mão nas presas como se acabasse de perceber que elas estavam ali- Não se preocupe, o efeito é temporário e eu não vou morder você.- Estremeci só de pensar na ideia, mas eu sabia que Isabel não faria isso comigo- E é melhor você se acostumar com isso, lá na Transilvania quase todo mundo anda assim, com olhos vermelhos e presas afiadas.
  - Er... Que bom.- Estava começando a achar que talvez os outros vampiros não fossem tão bonzinhos quanto minha amiga e que, talvez, eles estivessem com fome.- Eles não vão me... me comer, não é?
  - Bem, talvez sugar o seu sangue até você ficar totalmente seco e sem vida, mas não te comer.- Ela riu, eu não.
  - Muito animador.
  - Não se preocupe, eu não vou deixar nada acontecer com você, ta? Você é meu melhor amigo, e vai voltar vivo dessa viagem.- Que ótimo, agora minha guarda costas era uma "garota-morcego". 
  Pegamos um taxi até o aeroporto, que era muito longe da minha casa. Isabel até poderia ir voando, mas eu não tinha essa vantagem e por isso sugeri o taxi. Ela estava ansiosissima para andar de taxi, disse que nunca tinha entrado em um.
  - Isabel, onde estão as suas malas?
  - Malas? Eu tenho um... uma casa lá. Não preciso de malas.
  - Casa lá? Conta outra.- Mas tudo bem, o taxista não podia saber o que exatamente ela era, e nem aonde estavam as malas dela.
  Chegando no aeroporto, não levamos muito tempo para entrar no avião. Me ocorreu que Isabel tinha comprado as passagens sem o pai dela saber, o que parecia um pouco impossível, afinal, que tipo de menina de 13 anos banca uma viagem de duas pessoas para a Transilvania, sem o pai dela saber? E, como ela encontrou um voo para lá?
  - Pobrezinhos.- Comentou ela, já devidamente sentada em sua poltrona na janela.
  - Pobrezinhos de quem?
  - Dos passageiros. Os "habitantes" de lá adoram receber visitas, mas elas não costumam voltar... vivas de lá.- Agora eu estava completamente arrependido de ter aceitado aquela viagem maluca para a Romenia.

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